Açúcar e etanol

Relatório mostra crescimento do consumo de etanol no Brasil em meio a oscilações no mercado de combustíveis

Aumento da paridade e retomada dos impostos federais impulsionam o biocombustível

Relatório mostra crescimento do consumo de etanol no Brasil em meio a oscilações no mercado de combustíveis

Desde a aprovação da desoneração fiscal no setor de combustíveis em meados de 2022, a demanda por etanol hidratado enfrentou desafios. Naquele ano, a participação do biocombustível no mercado de Ciclo Otto no Brasil diminuiu gradualmente, tendência que se manteve no primeiro semestre de 2023. Esse movimento refletiu uma paridade que permaneceu acima de 70% entre outubro de 2022 e o início de junho de 2023.

Contudo, a reintrodução dos impostos federais e o aumento do ICMS na gasolina comum, ocorridos ao longo de 2023, trouxeram um estímulo ao etanol, que também contava com uma oferta elevada, tanto de cana quanto de milho. Em agosto de 2023, a paridade em São Paulo, principal estado consumidor, caiu para 62,8%, com uma média de 61,7% nos quatro meses seguintes. No segundo semestre de 2023, o consumo de etanol no Brasil aumentou 30% em relação ao semestre anterior e 18,7% em comparação ao mesmo período de 2022, conforme mostra o relatório da StoneX sobre as perspectivas para o mercado de combustível brasileiro no segundo semestre.

O documento destaca que, em 2024, a paridade permaneceu favorável ao etanol na maior parte do Brasil, incluindo estados do Nordeste, algo incomum. Entre outubro de 2023 e março de 2024, os estoques do produto atingiram patamares históricos, na segunda metade da safra canavieira do Centro-Sul 2024/25. Na primeira metade do ano, a demanda por etanol hidratado aumentou 15,4% em relação ao segundo semestre de 2023, sendo 50,8% maior que no mesmo período do ano anterior.

Até o final de junho, o etanol hidratado vendido pelas usinas em Ribeirão Preto-SP acumulou uma valorização de aproximadamente R$ 0,70/L (+28%), repassada ao consumidor final. Nas bombas, o preço médio do hidratado em São Paulo em junho foi de R$ 3,64/L, um aumento de 12% em relação a janeiro. Dessa forma, a paridade no estado subiu de 59%-60% para 65% no período.

Embora a demanda tenha crescido desde o ano passado, a oferta encontra algumas limitações em 2024, o que pode frear o consumo, especialmente no último trimestre do ano. Estima-se que a moagem no CS em 2024/25 caia para 602,2 milhões de toneladas, comparado a 654 milhões de toneladas em 2023/24, devido a um mix maior de açúcar. Assim, a produção de etanol em 2024 tende a ser menor, mesmo com o crescimento do etanol de milho, especialmente a partir de outubro, quando muitas usinas encerram a safra.

“Espera-se que o consumo de etanol hidratado no Brasil no segundo semestre de 2024 aumente 16% em relação ao ano anterior, mas se mantenha estável em comparação ao semestre anterior, devido ao maior consumo de Ciclo Otto sazonalmente, especialmente em dezembro. Entretanto, a participação do hidratado no Ciclo Otto deve cair na segunda metade do ano, em resposta ao aumento da paridade. No agregado, estima-se que o consumo nacional de álcool combustível cresça 30,4%, atingindo 20,9 milhões de m³ em 2024”, explica a consultoria.

O relatório mostra também que, no primeiro semestre de 2024, observou-se um enfraquecimento na demanda por gasolina C no Brasil, influenciado pela menor competitividade do combustível fóssil em relação ao etanol. Entre janeiro e junho, a ANP indicou que as vendas somaram 21,4 milhões de m³, uma redução de 7,43% em comparação a 2023, com fevereiro registrando o menor consumo até o momento (3,2 milhões de m³).

Em 2024, o preço médio da gasolina C manteve-se praticamente estável nos postos, uma vez que a Petrobras não alterou o preço de revenda da gasolina A no primeiro semestre (o reajuste ocorreu apenas em julho). Assim, os preços mais atrativos do etanol contribuíram para uma paridade abaixo de 70% em importantes polos consumidores de Ciclo Otto, como São Paulo, Belo Horizonte e Paraná.

Apesar da menor demanda, a oferta de gasolina A aumentou no país. Segundo a ANP, a produção do combustível no primeiro semestre somou 14,4 milhões de m³, um aumento de 6,2% em comparação a 2023.

“Espera-se que o consumo de gasolina C continue menos aquecido no segundo semestre, ainda influenciado pelos preços mais competitivos do etanol para o consumidor final. No entanto, mesmo não replicando os números de 2023, o consumo do derivado deve se recuperar de maneira mais expressiva a partir do quarto trimestre, com a perda de competitividade dos preços do etanol”, ressalta a StoneX.

De acordo com as projeções da consultoria, a demanda pelo combustível deve atingir 44 milhões de m³ em 2024, uma queda de 4,4% em relação a 2023. Essa redução é influenciada pelo menor consumo nos estados do Centro-Sul, cuja demanda por gasolina C pode atingir o menor valor desde 2021, cerca de 31 milhões de m³ (-6,5% a.a). As regiões Norte e Nordeste, por outro lado, devem registrar um aumento na demanda pelo derivado fóssil (+1,2% a.a), devido ao aumento do consumo de combustíveis leves e à menor competitividade do etanol nesses estados.

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