Agronegócio

Especialistas alertam que protecionismo global é um obstáculo ao crescimento do agronegócio brasileiro

Para o pesquisador do Insper, Marcos Jank, Brasil tem potencial de ser o maior fornecedor de alimentos para o mundo

Para o pesquisador do Insper, Marcos Jank, Brasil tem potencial de ser o maior fornecedor de alimentos para o mundo. (Foto Ayrton Vignola Fiesp)
Para o pesquisador do Insper, Marcos Jank, Brasil tem potencial de ser o maior fornecedor de alimentos para o mundo. (Foto Ayrton Vignola Fiesp)

A insegurança alimentar afeta aproximadamente 30% da população global, sendo que 61% dessas pessoas estão na África, 38% na América Latina e 24% em países asiáticos. Este problema, que foi agravado pela pandemia de Covid-19, impacta principalmente as populações de baixa renda e possui causas variadas, conforme explica Marcos Jank, coordenador do Centro Insper Agro Global.

“O principal problema de insegurança alimentar não está relacionado ao clima, mas sim a conflitos, guerras, instabilidade política e crises econômicas. Somente após esses fatores vêm os eventos climáticos extremos”, afirmou Jank durante uma reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp, liderada pelo presidente Jacyr Costa, na segunda-feira (1).

Para Jank, que também é conselheiro do Cosag, a geopolítica influencia diretamente a produção e o consumo de alimentos no mundo. A maioria dos conflitos globais ocorre na África e Eurásia. Novos rearranjos em blocos, com China e Rússia de um lado e EUA e União Europeia do outro, podem favorecer o agronegócio brasileiro.

“O Brasil aumentou sua produtividade, possui uma enorme capacidade de reagir às conjunturas externas e pode expandir sua fronteira agrícola sem desmatar. O comércio internacional é fundamental para aumentar a segurança alimentar, conectando sistemas alimentares e movimentando alimentos de regiões superavitárias para deficitárias, além de proporcionar efeitos distributivos”, explicou Jank.

Embora o Brasil tenha condições de se tornar o maior fornecedor de alimentos do mundo, ainda enfrenta o desafio do protecionismo global. Esse cenário protecionista é caracterizado por barreiras tarifárias e não-tarifárias impostas por diversos países, que dificultam a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. No entanto, a guerra comercial entre EUA e China trouxe vantagens para o Brasil, que desde 2018 se tornou o principal fornecedor de produtos agropecuários para o país asiático.

“A localização geográfica do Brasil, distante dos principais focos de conflitos geopolíticos, deveria ser uma vantagem estratégica. Avançar na agenda de Reformas, buscar o equilíbrio fiscal e garantir segurança jurídica podem gerar ainda mais crescimento”, destacou Jank. Além da China, o Brasil já é um dos principais exportadores para países da Europa e do Oriente, como Vietnã, Indonésia e Tailândia.

“Hoje, exportamos quase metade do que se produz na América Latina, sendo 35% do Brasil. Esta é a região mais importante e dedicada a aumentar o comércio mundial de alimentos. Mais que qualquer outra região. E o Brasil pode ser a grande referência para alimentar o mundo”, concluiu Jank.

A reunião do Cosag também contou com a participação da advogada Camila Mendes Vianna Cardoso, especialista em Direito Internacional, que abordou o Regulamento 2023/1115 da União Europeia. Com o objetivo de combater o desmatamento e a degradação florestal, essa legislação impõe obrigações de diligência às empresas que importam ou vendem produtos como óleo de palma, soja, café, cacau, madeira e carne bovina.

As empresas europeias que importam esses produtos devem registrar e assegurar que eles não contribuem para o desmatamento ou degradação florestal, fornecendo provas de que foram obtidos de forma sustentável. O objetivo é reduzir o impacto ambiental das atividades econômicas e proteger as florestas globais.

Segundo Camila, o agronegócio brasileiro precisa estar atento a essa legislação. “Neste momento de crescimento, deve-se olhar com atenção para essa lei, uma vez que pode impactar diretamente os negócios”, alertou.

Essa legislação europeia representa um desafio adicional para o agronegócio brasileiro, que já enfrenta barreiras comerciais e logísticas significativas. A necessidade de comprovar a sustentabilidade dos produtos pode aumentar os custos e a burocracia para os exportadores brasileiros. No entanto, também pode ser uma oportunidade para o Brasil se posicionar como um fornecedor de produtos agropecuários sustentáveis, diferenciando-se no mercado internacional.

(Com informações da Fiesp)