O segundo semestre do ano promete ainda mais volatilidade para o açúcar dada a quantidade de elementos relevantes que podem impactar o mercado. A semana teve a expiração do contrato futuro de julho/24 que se despediu cotado a 20.33 centavos de dólar por libra-peso, um incremento semanal acumulado de 136 pontos, ou 30 dólares por tonelada. O outubro/24 fechou a 20.31 centavos de dólar por libra-peso com variação de 115 pontos na semana (25.25 dólares por tonelada).
Seguido ao fechamento do pregão, a bolsa de NY anunciou uma entrega de mais de 1 milhão de toneladas de açúcar, aparentemente tudo do Centro-Sul. Ressurge a desgastada discussão que começa com a afirmativa de que mercado firme não tem entrega de produto físico. Será que o mercado físico está largado?
A combinação de um mercado de futuro de açúcar mais firme com uma desvalorização acentuada do real frente ao dólar que chegou a beliscar R$ 5,6005 graças não apenas ao cenário macro, mas também ao arsenal de parvoíces pronunciado pelo presidente Lula. Num populismo rasteiro que em nada contribui para pacificar o mercado financeiro, tudo que Lula faz é trazer mais insegurança ao mercado quando ele sugere, por exemplo, “a interferência no Banco Central”.
O PT é isso aí e nunca vai mudar. Ninguém esperava mais do que isso. Se Lula continuar com essa atitude beligerante vai acabar mal. Como diria Roberto Campos, uma das maiores cabeças desse País e avô do atual presidente do Banco Central do Brasil, “O PT é um partido de trabalhadores que não trabalham, estudantes que não estudam e intelectuais que não pensam.” E nós que pensávamos que iríamos sepultar essa agremiação em 2018.
Pelo menos, o boquirroto do Planalto abriu oportunidade de fixação de preços de açúcar de exportação para as usinas, tanto para o que ainda falta fixar na safra corrente, quanto para o volume das seguintes. A média de preço dos fechamentos do açúcar em NY convertida pelo generoso NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, proporcionado pelas instituições financeiras corresponderam a uma melhora no preço final do açúcar de 215 reais por tonelada na semana para os contratos da 24/25 (outubro e março) e 157 e 113 reais por tonelada respectivamente para as duas safras seguintes.
É hora de aproveitar essa explosão exagerada do dólar e agir com racionalidade quando ela parece faltar ao mercado. Veja bem, assuma que em algum momento de hoje até 90 dias o dólar vai parar de subir, refletindo a enorme entrada de divisas via balanço de pagamento (estima-se em mais de US$ 70 bilhões), digamos, R$ 5,2500. Caso a cotação da moeda americana volte para esse valor mais palatável, a fixação que as usinas conseguem hoje para embarque daqui a 90 dias contemplando a curva dos juros, só seria possível nesses níveis (em reais por tonelada) se NY subisse 300 pontos. Ou seja, não dá para ficar de braços cruzados.
Para alimentar os altistas, é fato que mais e mais analistas estão revendo seus números de produção de cana para baixo e o mercado começa a precificar o risco de uma seca prolongada no Centro-Sul, em especial na região de Ribeirão Preto. Também está no radar o risco de geadas além da preocupação normal acerca da possibilidade de termos chuvas abaixo da média na Tailândia e Índia.
No contraponto, o número divulgado pela UNICA foi novamente acima do que se esperava, tanto é que o mercado em NY sentiu o baque e caiu logo em seguida à sua divulgação, apesar de recuperar até o fechamento do pregão. O relatório diz que a moagem total do Centro-Sul até a primeira quinzena de junho atingiu 189.5 milhões de toneladas de cana, 13.25% acima do mesmo período do ano passado e recorde no período, superando a safra 20/21 quando atingiu 187.3 milhões de toneladas.
A produção de açúcar, também foi recorde. 10.95 milhões de toneladas contra 9.57 do ano anterior e superior à safra 20/21 com 10.6 milhões de toneladas de açúcar. O acumulado na primeira quinzena de junho nas últimas dez safras, representou um percentual do volume total moído no ano entre 24.1% e 31.9%, colocando a média em 28%. Se extrapolarmos para este ano, chegaríamos numa produção total de 676 milhões de toneladas. Sem chance, mas serve apenas para provar que começamos mais rápidos, mas certamente vamos acabar bem antes. Nosso número se mantém em 605 milhões de toneladas de cana.
Numa mescla de notícias e emaranhado de narrativas, são fatores altistas que podem colaborar com a elevação dos preços: a. A redução das estimativas de produção de cana no Centro-Sul; b. A percepção de que o mercado começou a precificar um prêmio de risco devido à seca contínua no Brasil e possíveis condições climáticas adversas em outras regiões produtoras, como Tailândia e Índia; c. Os fundos reduziram suas posições vendidas e agora estão vendidos menos de 30,000 lotes, o que indica uma perspectiva mais otimista dos preços.
Por outro lado, o que pode derrubar preços: a. A desvalorização contínua do real frente ao dólar; b. um volume acumulado de vendas na faixa de 19.50-20.50 e c. as incertezas geopolíticas que podem trazer instabilidade do mercado. Isso, sem contar o que a eleição de Trump pode impactar o mercado e energia. Segure-se na cadeira que o segundo semestre está chegando.
As soft commodities não podem reclamar pois lideraram a lista dos ativos com melhor desempenho no semestre. Cacau, subiu 173%; suco de laranja, 32%, café, 24% e açúcar 2%.
Na parte técnica, nosso analista e colaborador Marcelo Moreira aponta que o vencimento outubro-24 encerrou o mês a 20.30 centavos de dólar por libra-peso valorizando 11,66% no mês. Notícias vindas da Índia (problemas na qualidade/rendimento da cana) estão levando os operadores a reverem o balanço da oferta e demanda mundial dando novo suporte aos preços. O out-24 encerrou a semana a 20.30 centavos de dólar por libra-peso e apresenta agora suportes a 19.50/19.12/18.04 centavos e resistências a 20.36/20.67/22.15 e 23.00 centavos de dólar por libra-peso.
Arnaldo Correa é consultor, palestrante, técnico para arbitragens e professor de gestão de risco em commodities agrícolas