Continua ruim a classificação do Brasil no Índice da Paz Mundial, que acaba de ser divulgado pelo grupo editor da revista inglesa The Economist. Avançamos cinco posições em relação a 2008, mas ainda ocupamos o desconfortável 85º lugar, num ranking de 144 nações, ficando entre Cazaquistão e Ruanda. A boa notícia é que o quadro social do País parece ter sido menos afetado do que em outros emergentes, como a Rússia, por exemplo, pelo impacto da elevação do preço de alimentos e combustíveis e o desemprego provocado pela crise financeira internacional.
O estudo elaborado pela editora inglesa, em seu terceiro ano, evidencia a relação entre a prosperidade econômica e a paz, incluindo indicadores como a criminalidade, instabilidade política e situações de conflitos e guerras. Em seu ranking de 200! 9 já se observam os reflexos do crash mundial de 2008. Não há dúvida de que o aumento do desemprego é ameaça potencial à pacificação dos países, à harmonia social e ao controle da violência.
Assim, são muito preocupantes as estatísticas que demonstram haver cerca de dois milhões de desempregados no Brasil. Nossa economia precisa crescer pelo menos 3% este ano para evitar o agravamento do problema. Com expansão do PIB nessa proporção, seria criado 1,2 milhão de novos postos de trabalho, atenuando o quadro.
O desafio, aliás, é global, conforme se observa na pesquisa da Eurostat, que indica ter o desemprego na zona do euro subido mais do que o esperado em abril, atingindo seu maior nível desde setembro de 1999. O crescimento de 9,2% no índice medido pela agência significa que 3,1 milhões de pessoas foram demitidas desde abril do ano passado. A triste realidade é que, somente na região, há cerca de 15 milhões de desempregados.
Há que se considerar, na análise do pre! ocupante cenário mundial, que, além da conjuntura econômica adversa, outro fator concorre para a redução de postos de trabalho: o chamado desemprego tecnológico, causado pela automação de processos, robotização de fábricas e mecanização das colheitas no setor agrícola. Na Europa e nos Estados Unidos, a questão foi bem resolvida nos anos 80 e 90 com a assimilação de milhões de trabalhadores pelo setor de serviços, e esse processo de migração de profissionais entre as distintas cadeias produtivas continua, mesmo no contexto da crise, pois há setores que continuam crescendo.
O equilíbrio do mercado de trabalho, considerando a oferta de vagas em relação à População Economicamente Ativa (PEA), depende muito da capacidade de adaptação dos trabalhadores em áreas distintas de sua atuação de origem. Ressalta-se, desse modo, a importância da requalificação profissional e da educação continuada, inclusive em segmentos altamente geradores de emprego.
É o caso, por exemplo, do proje! to “Renovação”, lançado na segunda edição do Ethanol Summit, promovido em São Paulo pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), na primeira semana de junho. Trata-se de programa de requalificação anual de sete mil trabalhadores do Estado de São Paulo que atuam no plantio e corte manual da cana-de-açúcar. Com a crescente mecanização da atividade, eles receberão treinamento para desempenhar outras funções na área industrial das usinas ou fora do setor canavieiro.
Em paralelo a ações pontuais como essa do setor canavieiro, é fundamental a atuação de instituições como o Senai e o Senac, que formam, respectivamente, trabalhadores para a indústria e o comércio. A diversidade de seus cursos possibilita que os profissionais aprendam múltiplas funções e desenvolvam distintas habilidades, adquirindo melhores condições de migração setorial em momentos de crise ou quando a área em que atuam reduz o quadro em função do avanço da automação dos processos.
O enfrentamento ! do desemprego é prioridade na presente conjuntura de crise e também após a retomada da normalidade da economia mundial, para fazer frente à inevitável substituição da mão-de-obra decorrente do avanço tecnológico. Entre a meta da paz social e a ameaça crescente aos postos de trabalho há um imenso desafio a ser vencido pela presente civilização. A resposta, paralelamente à necessidade de se promover o crescimento sustentado da economia, encontra-se na área do conhecimento, seja na educação formal, profissional e acadêmica ou na requalificação dos trabalhadores.
*João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (EESC/USP), é vice-presidente da Fiesp, presidente do Grupo São Martinho e membro do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo.
*João Guilherme Sabino Ometto