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"Sobreviventes" do biodiesel retomam os investimentos

Às vésperas do primeiro leilão após a adição de 4% de biodiesel ao diesel no Brasil, o programa do governo destinado ao setor, lançado em 2004, parece engatinhar e já deixou muitas empresas no meio do caminho. Das 42 companhias presentes na lista de produtoras do biocombustível da Agência Nacional de Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), apenas metade produz um volume relevante, acima de 1 mil metros cúbicos. No entanto, algumas sobreviventes estão aumentando cada vez mais a produção e retomando os investimentos. É o caso da BSBios que anunciou um aporte de R$ 78 milhões para a construção de uma usina de biodiesel no município de Marialva, no Paraná. A unidade vai começar a produzir em fevereiro de 2010, com capacidade de 159 milhões de litros por ano, devendo ser responsável por 6% da produção nacional. Em um primeiro momento, a empresa utilizará soja e canola como fontes de matéria-prima.

Além da! adição de 4% do biodiesel ao diesel, em vigor há um mês – o que ampliará a produção nacional de 317 milhões de galões em 2008 para 475 milhões de galões em 2009 – outras ações sinalizam um cenário mais positivo para os próximos anos.

A construtora Camargo Corrêa recebeu autorização da ANP para utilização, em caráter experimental, do B10 em sua unidade em Águas de Chapecó, em Santa Catarina. O biocombustível será testado em oito equipamentos da companhia, que participa hoje do consórcio contratado para a construção da hidrelétrica Foz do Chapecó. A unidade deve entrar em operação em 2010.

Entre outras medidas também está tramitando em Brasília o Projeto de Lei Nº81/2008 que dispõe sobre a comercialização e o uso de óleo vegetal in natura como combustível, de autoria do senador Gilberto Goellner (DEM/MT). A proposta é a de que o biocombustível seja utilizado por meio de um kit adaptador, sem precisar alterar o motor para isso. “Queremos oferecer uma opção a mais de comb! ustível para veículos movidos a diesel, sem que haja necessidade da mudança de motor”, destacou Goellner, durante audiência pública com Rodrigo Augusto Rodrigues, coordenador da Comissão Executiva Interministerial do Biodiesel.

Segundo o senador, o óleo vegetal puro é uma opção a ser escolhida quando o diesel estiver mais caro, além de ser um combustível mais viável do ponto de vista econômico e ambiental. “Queremos o apoio do governo para viabilizar regionalmente o uso dessa nova matriz energética”, disse.

Hoje, no Senado Federal, será realizado o X Seminário Nacional de Biocombustível no Brasil: Responsabilidade Social Ambiental, Competitividade, Produtos e Tecnologias. O evento reunirá representantes do governo, setor privado, imprensa, instituições nacionais e internacionais, entre outros, a fim de discutir medidas para a redução dos níveis de poluição no País.

As exportações, departamento no qual o Brasil se mostrou até agora totalmente incipiente, podem ser estimuladas com o aumento da demanda na União Europeia (UE). O Conselho Europeu de Biodiesel (EBB, na sigla em inglês) constatou que a UE vai precisar de 33 milhões de toneladas de biocombustíveis até 2020 para cumprir as metas relacionadas ao consumo interno de biodiesel para a mitigação das alterações climáticas. Ainda que a produção local de biodiesel tenha aumentado 35,7% no ano passado, para 7,7 milhões de toneladas, o crescimento não está sendo feito rápido o suficiente para cumprir os objetivos. O EBB informou que o dumping norte-americano no setor de biodiesel reduziu a capacidade de investimento e acrescentou que pelo menos metade dos 276 produtores da região estão ociosos neste momento.

Novos players também poderão alavancar a comercialização do biodiesel brasileiro no exterior. A Petrobras iniciou as operações no Chile com o objetivo de aumentar a participação nesse mercado em até 20%. Segundo Vilson Reichemback, gerente-geral da filial chilena, a empresa planeja introduzir novos combustíveis como o biodiesel. A Petrobras informa que o Plano de Negócios para a Produção de Biocombustíveis prevê o aumento de produção dos atuais 170 milhões de litros ao ano para 640 milhões em 2013 no Brasil.