O Comitê de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos aprovou ontem, por 14 votos a favor, quatro contra e uma abstenção, a indicação de Thomas Shannon para ser o futuro embaixador do país no Brasil. No entanto, um senador republicano ameaça atrapalhar a votação, que agora vai ao plenário do Senado, até que Shannon, atual secretário-adjunto do Departamento de Estado para assuntos do Hemisfério Ocidental (Américas), explique sua posição sobre o etanol.
O republicano Charles Grassley — um político de Iowa, um dos maiores produtores de milho dos EUA — quer que o diplomata esclareça sua posição em defesa do fim da sobretaxa cobrada sobre o etanol brasileiro nos EUA.
Grassley é um dos maiores defensores da sobretaxação ao etanol brasileiro, que compete com larga vantagem com o etanol americano produzido a partir de milho. Quando o presidente Barack Obama indicou Shannon para o posto de embaixador no Brasil, o próprio Shannon afirmou que a redução da sobretaxa era benéfica para os consumidores americanos, porque, não apenas poderia ajudar a reduzir o preço do produto internamente, como evitaria um aumento no preço do milho que é desviado da produção de alimentos para a produção de etanol.
Mas admitiu que seria difícil convencer o Congresso disso.
Professor é aprovado para lugar de Thomas Shannon O nome do professor da Universidade George Washington, Arturo Valenzuela, por sua vez, foi aprovado pelo Comitê do Senado (com 15 votos a favor e quatro contra) como o novo secretário-adjunto do Departamento de Estado para assuntos do Hemisfério Ocidental, no lugar de Shannon.
Na semana passada, a votação para a aprovação dos diplomatas foi adiada depois que outro senador republicano, Jim! DeMint, expressou seu desconforto pela posição dos dois em relação à crise política em Honduras.
— Como senador e como candidato à Presidência dos EUA, Obama apoiou a manutenção das taxas americanas sobre o etanol importado — disse Charles Grassley, ainda durante o processo de análise do nome de Thomas Shannon no Comitê. — Agora, o embaixador indicado pelo presidente Obama afirma que a remoção da tarifa seria benéfica. É importante saber se esta posição mudou antes da nomeação seguir adiante.
O senador republicano pode tentar atrapalhar a votação, mas tem poucas chances de ser bem sucedido. Afinal, os democratas possuem os 60 votos necessários para evitar qualquer manobra protelatória da oposição no plenário do Senado.
De qualquer forma, diz um diplomata brasileiro, o gesto de Grassley faz barulho num momento em que a economia americana está enfraquecida e o senador tenta vender uma imagem de “protetor da agroindústria local”.
Subsídio do governo dos EUA à indústria do etanol é grande Na verdade, a indústria de etanol dos EUA, maior produtor do biocombustível no mundo, é fortemente subsidiada pelo governo.
Além da tarifa de importação que as refinarias são obrigadas a pagar na compra do álcool do exterior, de 2,5%, as empresas pagam sobretaxa de US$ 0,54 para cada galão importado (um galão equivale a 3,8 litros).
Esta sobretaxa foi criada em 1980 como uma forma de estimular a então nascente indústria do etanol americana, protegendoa da competição estrangeira, ao mesmo tempo em que os plantadores americanos ganhavam do governo um subsídio de US$ 0,51 por galão de etanol produzido. Em 2008, este benefício caiu para US$ 0,45, mas a sobretaxa sobre o etanol brasileiro não foi reduzida.