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Muito mais que esperança

É possível aumentar significativamente a área agrícola no país respeitando-se o Código Florestal e sem desmatar a Amazônia e o Cerrado desde que haja uma política efetiva de incentivo à conversão de pastagens degradadas em áreas agrícolas. Porém, se tudo continuar como hoje, deve haver desmatamento no Cerrado de aproximadamente 10 milhões de hectares nos próximos 10 anos para a produção de grãos e cana-de-açúcar.

Essas são algumas das conclusões do estudo feito pela ONG WWF e encomendado pela Allianz Seguros com o objetivo de entender de que forma a expansão do cultivo de matérias-primas para os biocombustíveis pode afetar a produção de alimentos e suas consequências para as mudanças climáticas. Os resultados foram divulgados terça-feira, em São Paulo.

Os números do estudo afirmam que há aproximadamente 200 milhões de h! ectares de pastagens no Brasil, sendo que 30% dessas terras estariam degradadas. A área agrícola total atual brasileira é de cerca de 70 milhões de hectares. Portanto, somente com a recuperação das pastagens degradadas para uso agrícola é possível dobrar a área da agricultura nacional, afirma o coordenador do programa de agricultura e meio ambiente do WWF-Brasil, Cássio Franco Moreira.

Max Thiermann, presidente da Allianz Seguros no país, disse que esse debate está apenas começando. “Nossa intenção foi trazer a público um estudo que pode contribuir para o debate de importantes questões nacionais e que ainda vai orientar nossa atuação em seguro agrícola.”

A pesquisa, que considera o avanço da agricultura com base apenas no domínio do cerrado, identificou que até 30% da área destinada à pecuária pode ser convertida em região agricultável, favorecendo a redução das emissões de gases de efeito estufa pelo Brasil. Para os estados das regiões Sul e Sudeste, essa proporção ch! ega a 20%, informa a pesquisa da WWF-Brasil. O material revela ainda que a produção agrícola e de biocombustíveis se desenvolve de acordo com a variação dos preços de terras e da presença de infraestrutura e mercado consumidor.

No caso da demanda por biocombustíveis, a pesquisa traça vários cenários. Num quadro de demanda equilibrada de biodiesel, a necessidade da produção é estimada em até 14,2 bilhões de litros este ano e 32,8 bilhões de litros daqui a 10 anos. Num cenário de consumo muito forte, a necessidade de produção em 2019 atinge 55,7 bilhões de litros. A questão da alta demanda por soja no país para a produção de biocombustíveis é desmistificada pela pesquisa. “Soja não é cultivada com o fim de produzir óleo para biocombustível. O cultivo do grão é orientado principalmente pela proteína (alimentação), portanto a demanda por biodiesel brasileiro proporcionalmente maior que a demanda por farelo de soja significa um estímulo real para a introdução em maior escala de culturas para biodiesel no Brasil”, explica Cássio Moreira.