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Clinton decepciona empresários

Ele foi a mais aguardada participação do primeiro dia do Ethanol Summit.

O ex-presidente americano Bill Clinton (1993-2001) apareceu, recebeu presentes típicos das regiões sucroalcooleiras e muitos aplausos. Mas acabou decepcionando os produtores de cana ao dizer que o Brasil ainda precisa provar que produz combustível renovável de forma sustentável. Essa advertência veio ao final de um dia inteiro de explicações sobre as vantagens da cana-de-açúcar como alternativa limpa e renovável ao petróleo e como saída para países em desenvolvimento das regiões tropicais.

— Se o mundo importar mais etanol do Brasil, isso pode significar a devastação da Amazônia — advertiu Bill Clinton, diante de uma plateia que já tinha visto e ouvido comprovações sobre a impossibilidade de produzir cana na Am! azônia, por questões econômicas, de clima e de logística.

Bem, mas essa foi a única nota destoante da participação de Clinton na cúpula da cana-de-açúcar. Durante exatamente uma hora ele leu palavra por palavra de um discurso para atentos 1,5 mil participantes.

Reconheceu que o Brasil se esforça para resolver os problemas do efeito estufa; e sugeriu que podemos maximizar esse potencial ajudando outros países por meio da tecnologia de produção de etanol de cana-de-açúcar.

Além da opção do etanol como alternativa contra as emissões de CO2, ele citou as tentativas com carros elétricos.

E disse que não se tratam de soluções excludentes: — Todos os países vão preferir a solução biocombustível, primeiramente com carros flex.

Clinton também disse que está trabalhando com a possibilidade de transformar resíduos sólidos produzidos em grandes centros urbanos, em energia. E comentou o colapso da indústria automobilística nos Estados Unidos: — É um problema político, mas principa! lmente de visão de futuro.

Os veículos biocombustíveis ocuparam espaço no mercado brasileiro, onde já representam 90% dos novos modelos. Nos Estados Unidos isso não aconteceu; os americanos jamais comprariam esses carros por temor ao desemprego.

O problema do aquecimento global, segundo Clinton, só será resolvido quando as soluções forem economicamente interessantes para os três setores: governo, empresas e sociedade. E bateu na mesma tecla: o etanol brasileiro é superior ao álcool de beterraba e ao álcool de milho, mas…: — A produção em escala sem agredir o meio ambiente é um desafio. Sem frear a emissão de gases de efeito estufa, em 2100 a temperatura da Terra terá subido 9ºC — advertiu. E emendou com a importância do trabalho de valorização dos créditos de carbono, que, ele sugeriu, seja feito de comum acordo entre Brasil e Estados Unidos:

— Acho que os brasileiros vão se beneficiar; mas terão de dar os primeiros passos e liderar o caminho para um futuro melhor.

Clinton propôs que quem quiser permanecer na Terra e torná-la produtiva deve receber benefícios equivalentes.

Em sua opinião, Brasil e Estados Unidos devem adotar um sistema para reduzir as emissões de CO2 e deixar a terra intacta: — Eu nasci no Arkansas, uma área essencialmente agrícola. O Arkansas agora quer voltar a plantar, o que levou o governo do Estado a fechar um acordo com destaque especial para a sustentabilidade.

Por fim, Clinton voltou a falar sobre a crise que, segundo ele, veio para mostrar que o mundo é mesmo interdependente: — Todos precisam se ajudar na luta contra o aquecimento global e as desigualdades sociais — disse. — As turbulências que começaram com os loiros de olhos azuis nos Estados Unidos, atingiram também os loiros de olhos azuis europeus; na sequência, os loiros de olhos verdes da Islândia…

“As turbulências que começaram com os louros de olhos azuis nos EUA, atingiram também os louros de olhos azuis europeus; na seq! uência, os loiros de olhos verdes da Islândia”

Bill Clinton, ex-presidente dos EUA

“Não faz sentido que não haja tarifa alfandegária sobre o petróleo, mas que ela incida sobre o etanol brasileiro”

Marcos Jank, presidente da Unica