Embora os trabalhadores continuem cobrando avanços no acordo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou ontem a adesão de 303 usinas, de um total de 413, ao compromisso para aperfeiçoar as condições de trabalho no cultivo de cana-de-açúcar. O presidente vê no acordo uma maneira de retirar as barreiras externas impostas ao etanol brasileiro sob o argumento de que há trabalho análogo à escravidão nos canaviais.
O acordo começou a ser negociado em julho passado e tem 18 pontos, sendo o mais importante o fim da contratação indireta dos trabalhadores, eliminando a figura do “gato”. O compromisso prevê pausas para descanso, com ginástica e hidratação, mudança no cálculo da produtividade e adoção de itens de segurança, entre outros.
— Montamos esta mesa (com governo, empresários e trabalhadores) para poder res olver essas coisas que eram motivos utilizados contra nós no exterior — disse Lula. — Muitas vezes governantes europeus convidavam trabalhadores brasileiros para ir lá dizer isso e nós íamos inocentemente falar mal do nosso país, achando que estávamos ajudando.
As empresas que aderiram estão espalhadas em 20 estados. O presidente da União de Agroindústrias Canavieiras de São Paulo (Unica), Marcos Jank, disse que o próximo passo será o treinamento dos trabalhadores nos canaviais que perderão os empregos pela mecanização do setor.
O presidente da Contag, Alberto Broch, destacou os avanços, mas cobrou mais benefícios, como alimentação.
— Conquistamos a marmita quentinha, mas não conquistamos a comida na marmita — disse Broch.
Entre os usineiros que assinaram o compromisso, no Palácio do Buriti, estava o empresário Carlos Alberto Cavalcanti Farias, irmão de PC Farias — tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor. Ele representou os empresários da Bahia.
No evento, Lula voltou a defender os usineiros: — Eu até já fui criticado, porque uma vez fiz elogios.
Os usineiros eram tratados pelos políticos como os evangélicos.
Todo mundo quer o voto do evangélico, mas depois as pessoas têm vergonha de dizer que receberam apoio de determinado setor evangélico. Usineiro era tratado assim neste país, usineiro era tratado e vendido como se fosse, sabe, a coisa nefasta do setor empresarial brasileiro — disse Lula.
O presidente recebeu uma cesta de produtos da cana, incluindo rapadura, açúcar mascavo e um facão usado no corte.
O grupo Cosan, um dos maiores produtores de açúcar e álcool do mundo, firmou ontem um termo de ajustamento de conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho, em que se compromete a regularizar os descontos nos salários de 8,9 mil cortadores de cana. Segundo denúncia encaminhada pela Justiça do Trabalho de Piracicaba ao procurador Nei Messias Vieira, a Cosan calculava os de scontos referentes à alimentação dos trabalhadores