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Usaciga se reestrutura e busca sócio

Às vésperas de completar 29 anos de fundação, o grupo paranaense Usaciga Açúcar, Álcool e Energia Elétrica S/A está mergulhado em uma crise financeira e passará por um processo de fusão ou venda de ativos em breve. Com sede em Cidade Gaúcha (PR), o grupo paralisou seus projetos e entrou em processo de reestruturação financeira conduzido pela consultoria Alvarez & Marsal.

Dona de 49% das ações da Usaciga, a empresa de investimentos Clean Energy Brazil (CEB) informa que busca atrair novos acionistas ao grupo e planeja captar recursos para retomar as obras de duas novas usinas desenhadas para processar 5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano. Estão paralisadas as obras de plantas de Eldorado (MS) e Santa Mônica (PR).

Com sede na ilha britânica de Man, a CEB culpa a crise financeira global pela dificuldade de acesso ao crédito do setor e a queda nas cotações do etanol em razão do excesso de oferta no mercado doméstico. ” A CEB esclarece que, em conjunto, os fatores externos e internos impactaram os resultados financeiros da Usaciga, inviabilizando, neste momento, a continuidade dos projetos existentes ” , diz em nota ao Valor. ” A organização financeira da Usaciga está em fase de conclusão e resultará em um processo de fusão e aquisição ” .

Listada na Bolsa de Londres desde sua fundação, em setembro de 2006, a CEB estima colocar de pé os novos projetos da Usaciga até 2010. A empresa britânica investiu US$ 130 milhões no grupo paranaense controlado pela família Barea.

Os efeitos da paralisação da Usaciga já se espalharam. A planta de Eldorado, projetada para processar 2,3 milhões de toneladas de cana, deveria ter entrado em funcionamento em maio deste ano, mas tem apenas 40% de suas instalações prontas. A descontinuidade das obras afetou o município de Mato Grosso do Sul, já prejudicado após a descoberta de focos de febre aftosa em outubro de 2005.

A prefeita da cidade, Marta Araújo (PDT), relata problemas graves com a queda da arrecadação tributária e o desemprego. ” Tínhamos uma expectativa muito grande com a usina. Teríamos 1,2 mil empregos que não foram gerados ” , diz. ” Ainda sentimos os efeitos econômicos da febre aftosa e temos problemas com pagamento dos arrendamentos das terras. Nossa arrecadação caiu também por causa do atraso da usina ” .

O presidente do sindicato rural de Eldorado, Manoel Simões Júnior, afirma que, em alguns casos, a Usaciga deixou de pagar o arrendamento das terras de 15 pecuaristas e produtores de soja e milho desde setembro de 2008. Estima-se que o grupo tenha arrendado 10 mil hectares para plantar cana na região de Eldorado.

” A cana está plantada há dois anos, mas está tudo abandonado ” , atesta o pecuarista, que representa 180 produtores associados. O plano inicial da Usaciga era usar 70 mil hectares de terra s para a produção da matéria-prima.

Os produtores da região afirmam estar preocupados com uma possível desapropriação das terras para a reforma agrária já que muitas fazendas teriam deixado de produzir o mínimo exigido por lei. ” Essa situação coloca em risco as propriedade porque elas podem ser consideradas improdutivas pelo Incra ” , relata Simões Júnior. Segundo ele, a empresa teria deixado de pagar os salários de parte de seus 40 funcionários. ” Outro dia, eles fizeram uma audiência na Câmara de Vereadores para denunciar esse descaso ” .

O presidente do sindicato rural afirma ter conversado na semana passada com o principal executivo da CEB, Marcelo Junqueira, sobre a situação da Usaciga. ” Falei com o Marcelo Junqueira e ele me disse que a tendência era resolver logo. Disse que a Usaciga seria vendida logo, mas até agora não soubemos mais nada do caso ” , afirma Manoel Simões Júnior.