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Ajuda deve ser vinculada a emprego, diz setor da cana

Em dificuldade para fechar a campanha salarial de 2009 (a categoria tem data-base em 1º de maio), os trabalhadores do setor sucroalcooleiro reivindicam que o socorro financeiro do governo federal aos usineiros se dê da mesma forma como aconteceu para a indústria automotiva: vinculado a manutenção dos empregos. Segundo a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar), no primeiro trimestre de 2009, o setor cortou 5.834 postos de trabalho em todo o Brasil, enquanto no mesmo período de 2008, houve criação de 15 mil vagas.

“Não pode o governo dar dinheiro ao setor sucroalcooleiro sem conversar com os trabalhadores, principalmente porque estamos tendo problemas nas negociações coletivas”, diz Sérgio Luiz Leite, presidente eleito da Fequimfar e primeiro-secretário da Força Sindical. “Estivemos em Brasília na semana passada para tratar disso”, conta.

A briga dos trabalhadores, no entanto, vai além da manutenção das vagas: o sindicalista diz que a luta é por condições de trabalho. “Sabemos que há empresas atrasando o Fundo de Garantia, ou que não estão pagando a Previdência e até mesmo atrasando os salários”, frisa.

Um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a pedido da Fequimfar aponta de que os recursos disponibilizados para o segmento sucroalcooleiro ultrapassam os R$ 9 bilhões (negociação de dívidas de R$ 3,45 bilhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, bancos comerciais, tradings; liberação de até R$ 3 bilhões para financiar os custos da estocagem de etanol (warrantagem) ao longo da próxima safra de cana-de-açúcar; renegociação de R$ 267 milhões em financiamentos no BNDES e no Banco do Brasil e; em março o governo anunciou a concessão de R$ 2,5 bilhões para a estocagem de até 5 bilhões de litros de etanol pelas usinas.

Até agora apenas três acordos foram concluídos em São Paulo – estado maior produtor de cana do País, responsável por mais de 60% da oferta nacional e cerca de 400 mil empregos diretos no setor. As negociações fechadas com o Sindicato dos Químicos de Ipaussu e Região correspondem a 03 usinas, que juntas representam, diretamente, cerca de 300 trabalhadores da Indústria de fabricação do álcool combustível em usinas e destilarias. Para este ano, a reivindicação dos trabalhadores é de teto mínimo de 7% de reajuste, sendo 1,1% de aumento real.

Além das negociações em compasso de espera e dos cortes nas vagas de trabalho, o setor sucroalcooleiro amarga um outro problema: a remuneração. Em São Paulo, por exemplo, um trabalhador admitido em março de 2009 na indústria sucroalcooleiro ganhava, em média, menos 25,52% do que um trabalhador que foi desligado. O salário médio mensal dos admitidos é de R$ 571,11, contra a média de R$ 766,82 daqueles que são desligados. “Essa redução se deve a rotatividade da mão de obra no Brasil. No ano passado, por exemplo, foram admitidas 16,4 milhões de pessoas e demitidas 15 milhões. Nesse processo de desligamento e contratação estima-se que as perdas da massa salarial fiquem entre 9% a 20%”, explica.