Após a inclusão do Rio Grande do Sul no zoneamento agrícola da cana-de-açúcar, o setor se concentra em torno das definições sobre qual o modelo de produção a ser adotado. Audiência pública realizada nesta semana na Comissão de Economia e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, elencou os principais gargalos a serem superados pela cadeia, como a da produtividade, a logística, a mão de obra e os incentivos fiscais.
“Acabaram as restrições sobre o plantio, agora resta acertar essas demandas”, afirmou o presidente da comissão, deputado Heitor Schuch (PSB).
O superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no Estado, Francisco Signor, ressaltou a preocupação com a produtividade em solo gaúcho, que, na opinião dele, não poderia ficar entre 10% e 15% abaixo da obtida em São Paulo e no Paraná, que ultrapassa as 86 ton eladas por hectare.
Sobre esse aspecto, o pesquisador da Fepagro, Wilson Caetano, ressaltou que a entidade conta hoje com mais de 30 variedades já testadas cujo rendimento alcançam 120 toneladas. “Quebramos o paradigma de que o Estado não tinha solo e clima para o plantio e provamos que o problema era apenas de manejo”, disse o pesquisador.
Segundo ele, com o material disponível em até dez anos o Estado poderá se tornar autossuficiente em cana. O pesquisador da Embrapa Clima Temperado Clênio Pillon destacou a preocupação da entidade não só com o desenvolvimento de cultivares adaptadas, mas também com a organização do modelo produtivo, de forma que a cana-de-açúcar não venha a se tornar uma monocultura. “A cana deve ser alternativa de diversidade da cadeia produtiva das propriedades”, afirmou.
A disponibilidade de mão de obra para o trabalho nos canaviais é uma das principais preocupações, especialmente por aqueles que nunca trabalharam com a cultura. “Seria atra vés de mecanização? Pois o campo sofre com uma falta de trabalhadores”, destacou o assistente técnico para cana-de-açúcar da Emater-RS, Alencar Rugeri.
Além de todas essas questões, ainda há muita dúvida em relação a comercialização do produto e a demanda do mercado. Para isso, o secretário-adjunto da Secretaria de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais (Sedai), Josué Barbosa, confirmou a criação de um pacote de incentivos fiscais para dar suporte e despertar o interesse das empresas que desejarem se instalar no Estado. De acordo com o secretário-adjunto da Agricultura, Gilmar Tiethbol, a distância máxima entre as lavouras e as destilarias deveria ser de 25 quilômetros, dado que levaria o Estado a desenvolver um modelo com base em micro e pequenas destilarias, o que facilitaria o escoamento sem prejudicar a produção.
O deputado Alceu Moreira (PMDB), por sua vez, destacou a necessidade de que seja criado um comitê para mapear área por área para que seja conhecida a á rea exata onde a cultura poderá ser implantada. As discussões deram a largada para a definição da pauta do II Seminário Estadual sobre Cana-de-Açúcar, Álcool e Etanol, que será realizado no dia 13 de julho, na Assembleia Legislativa.