O etanol brasileiro virou parceiro oficial de uma grande categoria do automobilismo mundial. O álcool produzido no país já abastece os carros da Fórmula Indy no campeonato mundial da categoria. Estar presente na competição – uma paixão nacional nos Estados Unidos, com mais de 40 milhões de fãs – faz parte da estratégia brasileira de ganhar espaço no maior mercado do produto nacional.
A simpatia do consumidor americano pode ser um aliado e tanto na guerra contra a barreira tarifária enfrentada pelo combustível da cana-de-açúcar nos Estados Unidos. A temporada da Indy, que vai de abril a outubro, deve cons umir aproximadamente 450 mil litros de etanol, sendo a metade desse volume fornecido por empresas brasileiras. Em maio de 2010, o Brasil, que no passado já sediou etapas da Indy, volta a receber a corrida, que fora dos Estados Unidos, acontece também no Canadá e Japão. O investimento estimado para realizar a prova no Brasil é de US$ 25 milhões e três cidades disputam a preferência dos organizadores: Rio de Janeiro, Brasília e Ribeirão Preto.
Como combustível oficial da competição, o etanol da cana-de-açúcar é misturado ao produto feito de milho, até o ano passado único a abastecer o tanque das máquinas que atingem mais de 350km/h. A parceria integra a ideia de um esporte “verde”, já que o etanol é menos poluente que outras fontes, como a gasolina. “Na Fórmula Indy estamos mostrando que há uma interação entre os dois combustíveis, não há confronto. Seja da cana, do milho ou da beterraba, o produto final é o mesmo etanol”, defende Maurício Borges, diretor da Agência Brasileir a de Promoção das Exportações (Apex), responsável pelo convênio com a Indy Racing League. Segundo Borges, o objetivo maior da parceria é dar força ao objetivo de transformar o etanol em uma commodity.
O Brasil vai produzir este ano cerca de 26 bilhões de litros de álcool, mas o setor tem os olhos voltados para o mercado externo e investimentos para produzir até cinco vezes mais a médio prazo. O representante da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) em Ribeirão Preto, Sérgio Prado, diz que a etapa da competição que será realizada no Brasil vai ser 100% abastecida pelo combustível da cana-de-açúcar. A disputa entre as cidades é grande. Enquanto Brasília tem um autódromo pronto, Ribeirão Preto tem a seu favor o fato de concentrar o polo produtor de álcool. O Rio de Janeiro já sediou a prova no passado, além de ser um dos cartões postais do Brasil no exterior. “A Fórmula Indy no Brasil vai mostrar que o país tem uma tecnologia internacional, econômica e ambientalmente co rreta”, diz Cleiton Pinteiro, presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo. “Na década de 1970 faltou Petróleo e as corridas foram proibidas. Como resposta, o Brasil fez a primeira competição mundial com carros movido a álcool. Uma corrida movimenta mais recursos que o carnaval”, compara.
O patrocínio do etanol brasileiro à Fórmula Indy influenciou outras modalidades. Em outubro, a Stock Car vai usar na prova realizada em Curitiba seu primeiro protótipo movido a etanol. A ideia é que a partir de 2010 seja feita a substituição à gasolina. Na Fórmula 1, a Ferrari também faz testes com o combustível e a competição mundial já estuda fazer a transição da gasolina para o álcool. “A decisão da Fórmula 1 deve ser política e vai depender da força do lobby do etanol”, considera João Guilherme Hermann, colaborador do Comitê Técnico do SAE Brasil. Segundo ele, a tecnologia não é mais segredo e mudar a matriz é questão de uma ou duas temporadas.
O acordo com a Fórmula Indy estabelece uma série de eventos paralelos de promoção do álcool nas provas que serão disputadas também no Canadá e Japão. Juntos, Brasil e Estados Unidos são os principais produtores e consumidores do planeta, respondendo por mais de 75% do etanol mundial. José Augusto de Castro, presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB) destaca o patrocínio à Fórmula Indy como uma das maiores ações de marketing feita no mercado americano desde o início do governo Lula. “É uma política de boa vizinhança que pode contribuir para derrubar a barreira e abrir o mercado para as exportações.”
Comércio à parte, o piloto mineiro Rafael Matos está entre os cinco brasileiros que competem na modalidade. Ele ressalta a maior potência dos carros movidos a cana-de-açúcar. “O motor resfria mais rápido e por isso o rendimento é melhor.” Matos considera que o patrocínio pode fazer novamente do Brasil um país sede da Fórmula Indy. “O Brasil tem muitos pilotos premiados, milhares de f ãs, além de ser produtor de etanol. Todos os pilotos elogiam o rendimento do combustível.”
João Guilherme Hermman explica que carros de competição movidos a etanol consomem cerca de 30% mais que a gasolina, por outro lado o rendimento de potência do motor é maior. “As corridas movidas a etanol são mais emocionantes, deixa os outros comendo poeira. É preciso, no entanto, ter um tanque maior ou parar mais vezes.” O campeão da Stock Car Duda Pamplona está testando um modelo movido a álcool com injeção eletrônica. Para ele, as principais vantagens são a potência do motor, que permite manter a velocidade de 260km/h.