Mercado

Preços baixos atraem fundos de volta para as commodities

Após os primeiros sinais de recuperação da economia mundial, o mercado já volta a falar em apetite por risco. Antes que as cotações dos produtos agrícolas respondessem aos fundamentos positivos do seu próprio segmento, os fundos de investimento voltaram a gerar liquidez nos preços, atuando na ponta compradora dessas commodities. A soja foi o primeiro item a sentir os efeitos positivos da especulação. Nesse cenário, o papel da China é fundamental já que o país é o principal demandante mundial do grão e hoje atrai a atenção de investidores globais, principalmente os compradores que negociam com outras moedas que não o dólar.

Nesta semana, o índice CRB (Commodity Research Bureau) atingiu 245 pontos, seu maior nível em seis meses. O indicador global de commodities é composto por 19 matérias-primas, incluindo todos os produtos agrícolas negociados na Bolsa. As cotações da soja e do café também registraram ontem suas maiores altas em cinco e oito meses, respectivamente. Ontem, os contratos da oleaginosa com entrega prevista para agosto encerraram em alta de 0,62% na Bolsa de Chicago, cotados a 1136,5 centavos de dólar por bushel. Já os contratos mais ativos de café, com vencimento em julho, fecharam em alta de 1,88%, a 135,8 centavos de dólar por libra-peso.

De acordo com fontes do mercado, cerca de 35% dos contratos futuros das commodities agrícolas já teriam retornado às mãos dos fundos especulativos. Segundo dados da Comissão de Comércio de Commodities e Futuros (CFTC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, o saldo de compra dos fundos no mercado futuro de soja da Bolsa de Chicago subiram substancialmente entre março e abril. Nesse período, o saldo de compra dos investidores subiu de 0% para 8% no algodão; -6% para 8% no café; 9% para 25% na soja – o que representou a aquisição de 12 milhões de toneladas.

“Os fundos olham para os fundamentos e esses sempre foram favoráve is”, avalia analista da Granos Corretora. Segundo ele, os preços das commodities agrícolas estavam baixos, o que atraiu a atenção dos fundos que voltaram a investir, dando suporte aos preços. O principal fundamento avaliado teria sido a forte demanda chinesa por soja. A alta da oleaginosa teria alavancado a valorização dos outros grãos.

Até mesmo o algodão, que não está com os fundamentos favoráveis, foi beneficiado. “Parece que todo mundo se deu conta que os preços estavam baixos demais e os fundos voltaram a comprar antes que subisse. Hoje já tem muito algodão na mão se especulador”, afirma o produtor Walter Horita.

No mercado interno, o Indicador Cepea/Esalq do algodão em pluma para pagamento em 8 dias subiu 11,2% na parcial de maio (até o dia 19). A última valorização expressiva do Indicador havia sido verificada em janeiro de 2008, acumulada em 9,61% no mês. O impulso vem, principalmente, da restrição da oferta e do aumento dos preços no mercado externo, de acor do com o Cepea.

O açúcar também é um dos componentes do índice CRB que registrou elevação acima dos dois dígitos (20%) e os preços são os mais altos desde agosto. “O açúcar deverá subir 20% até o fim deste ano, uma vez que a queda da produção da Índia vai gerar um déficit mundial de oferta”, disse Rubens Ometto, presidente da Cosan, a maior processadora mundial de cana-de-açúcar.

A produção global deverá ser inferior à demanda em 4,5 milhões de toneladas a 5 milhões de toneladas no período de 12 meses a encerrar-se em setembro de 2010, comparativamente ao déficit de 7,8 milhões de toneladas previsto para o atual ano-safra, disse a Organização Internacional do Açúcar (OIA). Os contratos futuros de açúcar deram um salto de 32% este ano, puxados pela perspectiva de que o consumo mundial será maior do que a produção. “O mercado de açúcar é muito auspicioso para os próximos anos”, disse Ometto. “Os preços deverão ficar nesses patamares ou melhores”, completou.

A Cosa n, sediada em Piracicaba, vai aumentar a produção em 10% a 15% este ano, disse o bilionário Ometto, que também é acionista controlador da fabricante de açúcar e etanol.

Os contratos de açúcar para entrega em julho fecharam em 1.562 centavos de dólar a libra-peso em Nova York.