O zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar pode ser o grande trunfo do setor sucroalcooleiro na guerra para emplacar o etanol brasileiro no mercado internacional, principalmente nos Estados Unidos. A expectativa do segmento era de que o estudo fosse publicado no ano passado, quando foi finalizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A questão já passou pelo Ministério da Agricultura, mas continua sob análise da equipe técnica da Casa Civil.
Os usineiros têm pressa, já que o governo dos EUA acaba de limitar a produção do etanol de milho, principal insumo usado por fabricantes americanos, a 57 bilhões de litros anuais, por concluir que, acima desse volume, começam a surgir efeitos negativos na economia, como o encarecimento dos alimentos. Por outro lado, o país vai consumir cerca de 136 bilhões de litros de biocombustíveis até 2022 para cumprir metas ambientais que visam a reduzir o efeito estufa. Desse total, a cota destinada especificamente ao biodiesel é de 4 bilhões de litros. O restante seria ocupado por outros combustíveis menos poluentes que a gasolina, como o etanol de cana, abrindo uma janela de oportunidade para o Brasil. É aí que entra a importância do zoneamento agroecológico.
“É uma questão de vida ou morte para o Brasil permanecer atento às discussões ambientais americanas para negociar a redução dos índices de carbono atribuídos à cana. Nesta discussão, o zoneamento é decisivo”, defende Manoel Lima Verde, pesquisador do Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE). Apesar de a Casa Civil não confirmar datas, o setor aguarda para os próximos 15 dias a divulgação do estudo. A definição agroecológica determina as áreas onde se dará o avanço da cultura, sendo um argumento relevante nas discussões internacionais que apontam o avanço da cana sobre a Amazônia.
“O zoneamento vai mostrar que o governo brasileiro está preocupado em garantir para o mundo que o etanol da cana-de-açúcar não vai competir com alimentos nemtampouco invadir florestas tropicais”, defende o professor Octávio Valsechi, professor da Universidade Federal de São Carlos. “Nossa expectativa é de que a medida seja publicada nos próximos dias”, completa.
“A falta de informação denigre o produto. O zoneamento dará uma transparência ao etanol no mercado internacional. O combustível passa a ter uma espécie de certificação”, explica Luiz Custódio Martins, presidente do Sindicato da Indústria da Fabricação do Álcool de Minas Gerais (Siamig). Segundo ele, as regras claras devem diminuir os ataques externos ao produto nacional.