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Crise deve reduzir investimentos sucroalcooleiros a partir de 2010

A crise financeira internacional deverá ter impactos negativos no volume de investimentos do setor sucroalcooleiro brasileiro, o que, na prática, deverá significar uma menor quantidade de produção e de novas usinas a partir de 2010. A avaliação foi feita hoje pelo secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Bertone, e pelo diretor de Logística e Gestão Empresarial da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Sílvio Porto.

“O cenário para novos investimentos é mais negativo do que o visto no ano passado”, comparou o secretário Bertone, lembrando que, desde o anúncio até o início das operações, o tempo médio é de aproximadamente dois anos.

Para 2009, a Conab ainda dispõe de um volume recorde de produção, devendo esmagar entre 622,03 milhões de toneladas e 633,72 milhões de to! neladas de cana-de-açúcar e contar com o funcionamento de mais 25 usinas. “Apesar dos problemas, a produção de álcool e açúcar ainda crescerá este ano”, disse o diretor da Conab, em entrevista coletiva, hoje, a respeito do primeiro levantamento da Safra 2009 de cana-de-açúcar.

“A partir de 2010, no entanto, pode haver uma redução da produção, que só não deve ser maior porque as empresas já firmaram alguns compromissos”, continuou Porto. Segundo ele, alguma compensação para o setor pode vir do mercado internacional, principalmente na área de açúcar, em que se verifica uma tendência de alta dos preços porque, entre outros motivos, houve problemas com a safra indiana.

No caso de álcool, Bertone lembrou que o setor já vem sofrendo com a redução dos preços no mercado internacional. “A situação dos preços já está ruim há uns dois ou três anos, e agora devemos ver o nível de investimentos refluir”, comentou, sem, no entanto, apresentar estimativas para a queda dos investiment! os e da produção.

O que haverá, segundo ele, é uma necessidade de compatibilização do crescimento doméstico com o mercado internacional. “Os projetos de longo prazo tendem a ficar na gaveta, até por conta da questão da falta de crédito”, previu.

No documento entregue à imprensa, os técnicos da Conab salientaram que os fluxos de caixa fizeram com que boa parte das unidades de produção redefinisse suas prioridades e concentrasse os cortes de gastos em segmentos menos severos para a atividade. “Nesse sentido, a renovação dos canaviais envelhecidos e os tratos culturais convencionais dos canaviais jovens na época adequada, como também a manutenção do parque industrial no período de entressafra, foram colocados em segundo plano.”

Durante a entrevista coletiva, tanto o secretário quanto o diretor da Conab afastaram a possibilidade de o País não ter etanol suficiente para suprir as crescentes vendas de veículos bicombustíveis em função da redução dos juros e da isenção! da alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para algumas categorias.

Os veículos do tipo flexfuel representam atualmente 92% da produção de novos carros, e a frota em circulação desse tipo de automóvel já ultrapassa os 7 milhões de unidades. “Isso mostra claramente que há um mercado doméstico em ascensão”, avaliou o diretor. “Mas o álcool tem limite de crescimento de vendas caso haja uma diferença de preço com a gasolina superior a 70%”, observou Porto.