Um dos principais objetivos dos Estados Unidos na reunião das Américas, marcada para o próximo fim de semana, é lançar uma aliança energética com a América Latina, uma região onde o petróleo é uma riqueza zelosamente preservada e onde as fontes renováveis estão pouco desenvolvidas.
O presidente Barack Obama deseja a “independência energética” de seu país antes que os preços do petróleo tornem a subir de maneira vertiginosa, segundo suas próprias palavras.
Conseguir petróleo e gás de países amigos, ao mesmo tempo em que se desenvolvem alternativas como os biocombustíveis com países como o Brasil, é uma proposta ideal à primeira vista.
A América do Sul produz cerca de 7 milhões de barris por dia (b/d) e consome 5 milhões, disse Ramón Espinasa, analista do setor petrolífero e de gás natural do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O resto da produção de petróleo o continente exporta, naturalmente para os Estados Unidos.
No entanto, a independência energética também é perseguida pelos países da região, certas vezes há décadas, acrescentou Espinasa. “Existe um grande potencial de integração. A América do Norte produz dois terços das necessidades e tem um terço das reservas, e a América do Sul produz um terço e tem dois terços das reservas”, comparou Espinasa. Mas “a ideologia e as instituições que surgem dessa ideologia” não favorecem essa inte-gração entre países como Venezuela, Bolívia, Equador e Estados Unidos, acrescentou.
Brasil e México
A Venezuela busca diversificar seus clientes, com a China como principal objetivo. A Bolívia não sabe o tipo de relações a estabelecer com os investidores, e uma situação similar ocorre com o Equador. Brasil e México são os possíveis melhores fornecedores, explicou Sidney Weintraub, especialista do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais.
No entanto, as jazidas mexicanas estão em baixa, e o Brasil ainda tem que explorar suas enormes reservas nas bacias de Santos e Campos.
“A independência energética usualmente conduz mais ao conflito que à cooperação”, advertiu Paul Isbell, diretor do programa energético do Instituto Elcano da Espanha.
Um dos objetivos oficiais da reunião, segundo a última minuta da declaração final disponível, é conseguir que todo o continente utilize pelo menos cerca de 50% de sua energia de fontes renováveis ou de baixa emissão de carbono, de hoje a 2050.
Continente ecológico
A América Latina só produz atualmente 0,7% de sua energia a partir dessas fontes limpas, concretamente 1,9 gigawatts de um total de 267 gigawatts, segundo um recente relatório do BID (em nível mundial a proporção é de 2,5%). E sem dúvida “a América Latina é de longe o continente mais ecológico do mundo”, lembrou analista do setor petrolífero e de gás natural do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Apenas 2% de sua eletricidade é obtida do carvão, em comparação com 60% nos Estados Unidos.
Os recursos naturais são enormes, mas falta tecnologia. O sul a deseja, mas os Estados Unidos buscam primeiro garantir a colaboração. Na declaração final de Trinidad existe um compromisso explícito com os “principais mercados”, recordou Paul Isbell, que advertiu que nem todos os países estarão de acordo.
Os Estados Unidos mantêm, por outro lado, tarifas elevadas com o produto natural que mais pode oferecer no setor: o etanol brasileiro. O presidente Luis Inácio Lula da Silva pediu para Obama, em sua visita à Casa Branca, há um mês, que acabasse com essa situação. A solução não chegará “da noite para o dia”, respondeu o presidente norte-americano.
Por fim, restam os problemas internos de cada país . Em lugares como o México, “nem sequer existe uma rede nacional (de eletricidade) propriamente dita,” explicou Weintraub. Cerca de 20% da população latinoamericana, que vive na pobreza, não tem acesso a eletricidade de forma oficial.