Sertãozinho vai parar na próxima quinta-feira. Às nove da manhã, o cruzamento das rodovias Atílio Balbo e Octávio Verri, na entrada principal da cidade, será palco do “Grito pela Produção e Emprego”. O movimento, organizado por todas as entidades de classe da cidade e com o apoio da prefeitura, tem o intuito de mostrar ao governo e à sociedade o quanto os municípios da região sofrem com o aumento das demissões e a falta de crédito em toda a cadeia produtiva do setor sucroalcooleiro.
Cidade com 100 mil habitantes e um dos principais pólos nacionais da indústria de bens de capital voltada ao setor de açúcar e álcool, Sertãozinho já perdeu, desde outubro, de 10% a 15% dos 17,5 mil empregos gerados pelas 550 indústrias locais. “Não perdemos mais por causa da entressafra canavieira, que é quando as usinas fazem manutenção e movimenta! m o setor industrial e de prestação de serviços”, diz Flávio Vicário, diretor executivo do Ceise BR – Centro Nacional das Indústrias do Setor sucroalcooleiro e Energético. “Mas a entressafra está no final e se a situação continuar como está as demissões vão aumentar”, afirma Vicário.
A crise, que afetou primeiro as usinas – incluindo a Santa Elisa, do grupo Santelisa Vale, e a Albertina, ambas de Sertãozinho -, já atinge toda a cadeia do setor e causa perdas no comércio regional, segundo Vicário. Ele diz que no distrito de Cruz das Posses, 80% da população de 10 mil habitantes depende da usina Albertina que, em regime de recuperação de crédito, não paga os funcionários há meses. A prefeitura de Sertãozinho tem que ajudar com cestas básicas e isenção de cobrança de serviços públicos.
Segundo Vicário, o crédito não tem chegado às empresas do setor. “O Ceise fez pesquisa com as 50 maiores indústrias do município e n! enhuma havia conseguido crédito nos últimos meses. As linhas abertas pelo BNDES são muito restritivas e a situação é insustentável”, afirma Vicário.
Devido à escassez de crédito, a inadimplência das usinas com fornecedores de máquinas e equipamentos já era de 36% em outubro de 2008. Além disso, 29% dos pedidos das usinas foram postergados e 23%, cancelados.
Segundo Hélio Cândido, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Ribeirão Preto, Sertãozinho e Região, antes da crise, muitas empresas haviam dobrado ou até triplicado a folha de pagamento. “Saímos de cenário em que chegou a faltar mão-de-obra qualificada nas indústrias para outro na qual as demissões são crescentes. E não vislumbramos nenhuma melhora no curto prazo”, diz Cândido.
Participam do movimento em Sertãozinho o Ceise BR, as cooperativas Copercana e Canaoeste, os sindicatos Rural dos metalúrgicos, comércio, alimentos, motoristas, ACI, CDL, Prefeitura e Câmara Municipal. Lideranças de toda a cadeia produtiva sucroenergética estão elaborando mais um documento para ser entregue ao governo federal.