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Açúcar: preço é refém do etanol e da crise

Durante muito tempo, especialmente nos últimos dois anos, o setor sucroalcooleiro priorizou a produção e exportação de álcool em detrimento à do açúcar que, hoje, enfrenta inúmeros desafios para conquistar novos mercados e alcançar um preço de equilíbrio. Atualmente, a produção brasileira de açúcar atinge seu limite, mas não é suficiente para suprir o déficit mundial e, ainda que as exportações sejam crescentes, não são capazes de sustentar o andamento do setor no Brasil.

Segundo dados da Agência Nacional de Energia, até 2020, a produção de álcool deve crescer 13,35%, enquanto a de açúcar deve aumentar apenas 2%. Por outro lado, as exportações brasileiras de açúcar são dominantes em relação à exportação de álcool, que atinge níveis marginais. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), as exportações ! tanto de açúcar quanto de álcool devem iniciar um processo de recuperação apenas em 2010 e o cenário ainda será mais favorável para o açúcar do que para o álcool.

Mesmo com elevado índice de produção, crescimento do consumo mundial e aumento dos níveis de importação da União Européia – que ainda prioriza suas ex-colônias -, os principais desafios enfrentados pelo mercado de açúcar são o protecionismo e a contraditória política de preços.

“O preço do açúcar nos mercados futuros de Nova York está se tornando cada vez menos importante para os países exportadores do produto”, afirma Leonardo Bichara Rocha, economista da International Sugar Organization (ISO). Ele assinala que, em relação ao mercado mundial, os preços nos mercados domésticos ainda são muito residuais e extremamente protegidos, influenciando os preços internacionais.

Segundo Bichara, outros fatores que incidem sobre os preços internacionais são o aumento do índice de refino no mercado de destino e o crescimento do consumo de açúcar no mundo. Ainda assim, em 2008, foi registrado elevado excedente de produção entre os países produtores.

Hoje, os três maiores produtores mundiais de açúcar são Brasil, India e China. Curiosamente, entre os dez maiores produtores também se encontram os maiores compradores União Européia, Estados Unidos e India. “As três regiões mais dinâmicas são o continente indiano, o extremo oriente e o continente africano, que possuem alto potencial de consumo de açúcar, mas consumo per capita ainda baixo em relação à União Européia”, ressalta Bichara.

O economista da ISO observa que nas regiões onde a crise econômica teve os efeitos mais fortes, como na União Européia, a população constitui um fator preponderante e não houve redução no consumo de açúcar. Já nas regiões citadas como as mais dinâmicas foi registrada queda. “O consumo de açúcar no mundo é um fator altista na formação dos preços internacionais, mas por enquanto o etanol vai con! tinuar determinando os preços do açúcar”, diz.

Em relação ao protecionismo, principalmente nos países desenvolvidos, o açúcar pode ser considerado o item mais protegido no mercado global em função de picos e cotas tarifárias, que dificultam a entrada do produto em novos mercados, na visão do presidente da Única, Marcos Jank.

“As cotas extremamente altas e proibitivas inviabilizam a exportação de países como o Brasil, cuja cota é muito baixa. Embora exista uma reforma em andamento há quatro anos, os preços não são alterados”, afirma Jank, acrescentando que a solução não é a negociação bilateral, que cria um clima de defesa no comércio global, mas sim unilateral.

Já o diretor comercial da Copersucar, Paulo Roberto de Souza, destaca que, com as barreiras, as exportações acontecem unicamente por competitividade. “O Brasil não defende as cotas, mas o livre mercado por uma questão de competitividade. Quem for mais competitivo vai abastecer determinado mercado”, diz.

No curto prazo, o açúcar vem apresentando crescimento inferior a 1% por conta da crise econômica mundial. Segundo o diretor da Copersucar, no entanto, o resultado não chega a ser negativo, já que o consumo mundial é crescente. Em 2005, o consumo mundial atingiu 200 milhões de toneladas. Hoje, chega a 600 milhões de toneladas.

Na liderança da produção mundial, o Brasil tem potencial para suprir grande parte da demanda global, mas não chegaria a responder pela totalidade do mercado. Souza assinala que, até 2010, o Brasil deve saltar para 60% de participação no mercado, um avanço de 2%.

Segundo o economista da ISO, nos próximos dois anos, a crise de crédito terá reflexos na produção brasileira de cana-de-açúcar, o que também vai influenciar os preços. “Os fundos de investimento marcaram o aumento do preço do açúcar e das commodities em 2008. Se estes fundos voltarem à cena, serão mais um fator determinante para os preços internacionais”, afirma Bichara.

Ele acrescenta que os preços atuais ainda estão muito abaixo da média registrada em 2005 e 2006. Já em valores reais, os preços estão apenas 9% acima do registrado na última década. “Neste momento, os fatores que mais influenciam os preços são o aumento do consumo mundial e os preços do álcool em queda. A conclusão é de que os preços precisam subir em dólares para que haja ganhos em reais”, ressalta.

Embora os aspectos relacionados à política de preços e ao protecionismo global representem os maiores entraves para o desenvolvimento de um mercado internacional livre de açúcar, o diretor comercial da Copersucar, Paulo Roberto de Souza, destaca que os investimentos em logística são urgentes. “É inviável esperar até 2012 para priorizar essa área. O Brasil também precisa aprender a carregar estoques. Para isso, devem ser criados mecanismos operacionais e financeiros”, assinala.