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O mundo se supera

É inimaginável como, nas últimas duas ou três décadas, o mundo tem superado barreiras historicamente intransponíveis. Para muitos de nós, a sociedade que vivenciamos hoje é muito diversa daquela com que nos acostumamos na infância, na adolescência e até mesmo na vida adulta. Certas conquistas de há poucos anos viraram rotina e, por isso mesmo, acabam sendo pouco valorizadas e não recebem a devida importância, passando a fazer parte das chamadas coisas naturais, com a aparência de que foram sempre assim. De fato foram conquistas importantes, mas que se banalizaram.

Guerra fria

Quem vivenciou todo o conflito político, militar e ideológico da Guerra Fria e a disputa entre a União Soviética e os Estados Unidos jamais poderia imaginar que o Muro de Berlim cairia pacificamente e que meses depois seria a vez da União Soviética desfazer–se e surgirem dezenas de repúblicas independentes e afastadas do regime comunista, centralizado por cerca de 70 anos. Hoje vivemos a consequência disso, com uma hegemonia norte-americana, mas que em dificuldades aponta para um mundo multipolar, em contraposição à hiperpotência americana.

Nem pensar

Quem imaginaria, também, que o Brasil retornaria à democracia depois da ditadura militar e elegeria um presidente operário e de esquerda como Lula. Quem pensaria que um dos ícones do Rio Grande do Sul e do Brasil, a VARIG, por exemplo, fosse sucumbir e seria liquidada da maneira triste como aconteceu. Quem sonhou que o Brasil teria uma liderança mundial, que a Embraer seria uma das maiores empresas na fabricação de aviões do planeta, que o álcool viraria etanol e seria o símbolo e a alternativa para o planeta em termos de biocombustíveis e fontes renováveis e limpas, ou, então, que o Internacional, mesmo muito depois do Grêmio, fosse tornar-se Campeão do Mundo…

Nos últimos meses, mais surpresas e superações. Nos Estados Unidos, um afro-americano chegou ao posto mais alto da nação, Barak Obama tornou-se presidente do país. Para quem acompanhou a trajetória social da vida norte-americana, esse foi um feito notável. Ainda na década de 1960, os EUA viviam uma forte segregação racial, que limitava os casamentos interétnicos, o acesso dos negros às Universidades, impunha lugares definidos na parte de trás dos ônibus e ditava banheiros públicos exclusivos.

O mundo mudou

Na verdade, houve uma grande reviravolta em poucos anos, que culminou com a eleição de Obama.

Parece que começamos a vivenciar outro tempo, em que as questões de gênero, cor, raça e condição social recebem outro tipo de tratamento. Será que a sociedade tornou-se mais flexível e compreende mais a diversidade? Talvez nosso mundo globalizado, onde diariamente convivemos com as diferenças, esteja ajudando na superação de alguns tabus históricos. Ou será que estamos mais indiferentes com o mundo que nos cerca e que nosso extremo individualismo impõe-nos uma conduta relaxada com o bem comum e as grandes questões da sociedade? Difícil resposta, mas é inegável que avançamos e retrocedemos ao mesmo tempo, tipicamente humano e desafiador.