O Paraná acaba de entrar na corrida mundial pelo etanol de segunda geração, combustível produzido a partir da celulose. A multinacional dinamarquesa Novozymes, que produz enzimas industriais em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, faz parte de um grupo de empresas e instituições que receberá 1,6 milhão de euros (cerca de R$ 4,8 milhões) para desenvolver novas tecnologias para a produção do álcool celulósico. A pesquisa vai durar dois anos e será bancada pelo Serviço de Informações em Pesquisa e Desenvolvimento da Comunidade Europeia (Cordis, na sigla em inglês).
A parceria tem cinco participantes: a Novozymes brasileira, sua matriz, na Dinamarca, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de Piracicaba (SP), a Universidade de Lund, na Suécia, e a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Cada empresa ou instituição terá uma função específica no projeto, e receberá aproximadamente 320 mil euros (R$ 960 mil). A Novozymes terá papel central nesse processo: caberá a ela encontrar uma enzima capaz de transformar em álcool o bagaço da cana-de-açúcar, de forma eficiente e viável. E, quem sabe, garantir ao Brasil – dono da melhor tecnologia de produção de álcool convencional – a vanguarda do etanol de segunda geração.
“Trabalhamos há mais de um ano no desenvolvimento de uma ou mais enzimas, e agora conseguimos recursos da Comissão Europeia”, conta Pedro Luiz Fernandes, presidente da Novozymes na América Latina. “A escolha do bagaço de cana se deve ao avanço da indústria sucroalcooleira no Brasil. Ela não apenas é uma das maiores produtoras mundiais, como também é muito bem-estruturada, com profissionais muito qualificados.”
Embora o estudo tenha prazo de dois anos a contar deste mês, quando os recursos foram liberados, a companhia deverá apresentar resultados já no ano que vem, diz Fernandes. “Até, no máximo, meados de 2010, teremos as enzimas que permitirão a produção de etanol celulósico, e com viabilidade comercial.” Parte da verba do Cordis será usada na construção de um novo laboratório de pesquisa e desenvolvimento em Araucária. Incluindo funcionários da Novozymes em outros países, o projeto envolve 150 pesquisadores da companhia.
O maior obstáculo à adoção do combustível celulósico em escala comercial está na quebra das longas cadeias químicas da celulose e da hemicelulose. O processo, mais complexo que a fermentação que gera o álcool convencional, pode se dar de duas formas: pela hidrólise ácida, que usa um ácido para romper a cadeia celulósica, ou pela hidrólise enzimática, a vertente mais promissora. “Já existem tecnologias, enzimas que funcionam. O problema é que não são viáveis, pois tornam o preço final do álcool muito caro, incapaz de competir com o etanol convencional”, explica Fernandes.
Novo laboratório
Prestes a completar 20 anos, a unidade de Araucária tem 170 funcionários, entre técnicos e pesquisadores, e responde por 7% do faturamento global da Novozymes – que em 2008 foi de 8,1 bilhões de coroas dinamarquesas (cerca de R$ 3,2 bilhões). A partir da fermentação de microorganismos, a fábrica produz enzimas para diversos segmentos da indústria – têxtil, detergentes, biocombustíveis, panificação, amido, ração animal, sucos, vinhos e outros.