“Conseguir arranjar novamente um emprego foi um excelente presente. Depois de estar quase um ano sem uma oportunidade e sem muita esperança, receber a chance de poder mostrar o meu trabalho foi a melhor coisa que poderia ter acontecido no ano passado”. O depoimento de Edmilson dos Santos, um auxiliar de mecânica que mesmo com experiência profissional encontrava dificuldades para ser reinserido no mercado de trabalho, simboliza a alegria dos mais de 11 mil sergipanos que em 2008 conseguiram um emprego com carteira assinada.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o nível de emprego formal (diferença entre o número de admissões e desligamentos de pessoas com carteira assinada), em 2008, foi o maior verificado nos últimos dez anos. Somente no ano passado, 11.038 pessoas conquistaram o direito de ter uma oportunidade de trabalho. Para se ter uma idéia da importância desse número, em 2007 foram criadas 8.745 novas vagas, enquanto que no ano anterior esse número chegou a 7.588 empregos.
Gente simples como o comerciário Ivo Júnior fazem parte dessa lista. Depois de terminar o Ensino Médio, o jovem de 19 anos percebeu que era a hora de buscar uma chance no mercado de trabalho. Após distribuir vários currículos em lojas do centro de Aracaju, em abril do ano passado ele finalmente conseguiu o que tanto desejava.
“Apesar da falta de experiência, nunca perdi a esperança de ter um emprego com carteira assinada. Hoje estou muito feliz com a oportunidade que me foi dada. Com o que ganho aqui posso ajudar no sustento da minha família”, diz Ivo, que depois de trabalhar durante oito meses como vendedor foi promovido para o cargo de gerente em uma loja de roupas masculinas no início deste ano.
Vagas
Segundo o Caged, os setores que mais criaram novas vagas em 2008 foram os de Serviços (4.724 empregos), Comércio (2.794) e Indústria de Transformação (1.744 empregos). As áreas de Construção Civil e Agropecuária também foram destaque gerando juntas 1.429 novos empregos.
“Um dado relevante é que boa parte dessas vagas foi aberta no setor industrial. Isso é importante porque a criação de uma vaga nas indústrias pode proporcionar a abertura de novos empregos em outros setores da economia que dependem delas para funcionar”, destaca o assessor econômico do Governo de Sergipe, Ricardo Lacerda.
Os números de 2008 poderiam ser ainda melhores se a crise econômica que afetou a economia mundial não tivesse deixado algumas marcas no estado. Segundo dados do Cadastro, no mês de dezembro foram fechados 2.480 postos de trabalho.
Embora o dado preocupe, para Ricardo Lacerda parte dessa diminuição pode ser explicada pelo alto índice de contratações realizadas pelas empresas no início de 2008. “Os últimos anos foram muito positivos para todos os setores. Por conta disso, as empresas estavam empregando muito. Quando veio o período de reversão elas promoveram um enxugamento em seu quadro de funcionários”, explica o economista.
Apesar de todas as dificuldades criadas por conta da crise, na avaliação do professor da UFS a economia sergipana irá demorar um pouco mais para sentir os efeitos de uma possível retração. Isso porque o estado não é dependente do mercado internacional para gerar receitas, já que praticamente todas as suas relações comerciais são feitas junto aos demais estados brasileiros.
Oportunidades
Como destacou Ricardo Lacerda, um dos principais geradores de empregos durante 2008 foi o setor industrial. Em Sergipe, a entrada em funcionamento de duas grandes usinas destinadas à produção de etanol, a Taquari, comandada pelo Grupo Samam, e a Campo Lindo, chefiada pelo empresário Carlos Vasconcelos, foram cruciais para a criação de novas vagas no estado.
A usina construída pelo Grupo Samam no povoado Miranda, município de Capela, e inaugurada em 22 de outubro do ano passado, empregou nada menos que 500 pessoas somente em 2008. Hoje o empreendimento funciona com 1.066 funcionários, sendo que parte dessas contratações foi feita para o plantio da cana e a construção da unidade nos dois anos anteriores.
Cerca de R$ 68 milhões foram investidos no novo negócio, que contou com o apoio do Banco do Estado de Sergipe (Banese). A usina é responsável pela produção de 25 milhões de litros de etanol e a partir deste ano começará a fabricar também um milhão de litros de aguardente. Quando estiver no seu ápice de funcionamento, em 2012, ela terá capacidade para produzir cerca de 40 milhões de litros de álcool e quatro milhões de litros de aguardente.
Para este ano, a previsão do empresário Manelito Menezes, responsável pela gestão do negócio, é elevar a área destinada ao plantio de cana-de-açúcar dos atuais 5.500 hectares para 7.300 hectares. “Com esse aumento conseguiremos criar mais 180 empregos”, relata o empresário.
A usina pilotada por Manelito conseguiu atrair pessoas de outros estados para o empreendimento. Gente como o destilador José Cicero Valeriano, que após trabalhar durante 25 anos em usinas alagoanas se sentiu seduzido pelo negócio no estado vizinho.
“Em Sergipe as condições de vida e de trabalho são bem superiores. Quando descobri que uma nova usina estava sendo montada em Capela, não pensei duas vezes e abandonei o meu plano de ir trabalhar em Goiás. Sinto que valeu a pena”, destaca o profissional.
Já a Agro Industrial Campo Lindo, situada no município de Nossa Senhora das Dores, foi inaugurada em 09 de novembro de 2008, gerando desde o início do plantio da cana, também nos dois anos anteriores, 1.380 empregos. O empreendimento produz atualmente cerca de R$ 20 milhões de litros de álcool e a expectativa para este ano é ampliar a produção em pelo menos mais 10 milhões.
Incentivos
As duas usinas montadas em solo sergipano foram diretamente beneficiadas pelos incentivos dados pelo Governo do Estado para a implementação de novos negócios. Ambas participam do Programa Sergipano de Desenvolvimento Industrial (PSDI), que tem por objetivo incentivar e estimular o desenvolvimento sócio-econômico estadual mediante a concessão de apoio a investimentos.
Elas foram contempladas com uma redução de 90% no recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) durante um prazo de 15 anos. Segundo o empresário da Samam, a ajuda foi fundamental para a abertura do negócio. “O incentivo fiscal do Governo foi crucial. Caso não recebêssemos esse apoio seria completamente inviável criar o empreendimento. A análise feita pelo Estado para a concessão de benefícios é algo que merece ser elogiado”, ressalta Manelito Menezes.
Mas não foram apenas os grandes empresários que foram beneficiados com a redução na carga tributária. Os donos de micro e pequenas empresas, setor responsável pela maior parte dos empregos gerados em todo o país, que aderiram ao regime fiscal do Supersimples e com faturamento anual de até R$ 360 mil, ficaram isentos do pagamento de ICMS. A medida garantiu uma redução média de 40% no valor total dos tributos pagos pelos empresários.
Uma outra política que causou impacto na geração de empregos foi a ampliação do acesso das microempresas às compras governamentais. Desde 2007, com a criação da Lei de Uso do Poder de Compra, o Governo tem ampliado a participação dos pequenos empreendimentos nas compras públicas e promovido uma série de outras iniciativas para estimular o desenvolvimento do setor.
Entre os benefícios, constam a exclusividade garantida em licitações com valor de até R$ 80 mil, preferência em caso de empates em licitações e a oportunidade de subcontratação em obras e serviços com valor superior a R$ 1,5 milhão. O impacto da medida foi imediato. A participação do setor nas compras públicas cresceu 528% entre dezembro de 2007 e dezembro de 2008, e do total de compras feitas pelo Governo no ano passado, 37% foram realizadas junto às micro e pequenas empresas.
Novos empregos
Apesar de os números destacarem o crescimento na oferta de empregos, o Governo de Sergipe incrementa ainda mais a sua política de geração de novos postos de trabalho. Em dezembro de 2008, o governador Marcelo Déda anunciou a chegada de 15 novas indústrias ao estado, além da ampliação de quatro outros empreendimentos. Ao todo serão investidos R$ 147,2 milhões para gerar 2.565 vagas no mercado de trabalho.
Segundo o secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico, da Ciência e Tecnologia, Jorge Santana, apesar do cenário de crise econômica, todos os investimentos estão garantidos para este ano. “Não recebemos nenhum tipo de manifestação por parte dos empresários sobre a necessidade de rever o planejamento para a instalação dos negócios. Pelo contrário, todos confirmaram que os projetos serão viabilizados ao longo do ano”, explica.
Para 2009, o secretário informa que o Governo continuará a intensificar a política de atração de novas indústrias. “O cenário macroeconômico vai exigir mais esforços e nos preparamos para isso. Estamos procurando identificar os segmentos que não foram prejudicados pela crise e aqueles que estão se beneficiando dela. Continuamos trabalhando muito para dar continuidade a esses projetos”, salienta Jorge Santana.
Outras políticas que garantirão a criação de empregos são o aumento dos investimentos governamentais na execução de obras públicas e a disponibilização de crédito para os empresários sergipanos. Cortando despesas de custeio o Governo tem economizado recursos que são diretamente direcionados para o financiamento de diversas obras em todo o estado.
A medida garante que a economia continue funcionando plenamente e continue gerando novos postos de trabalho. Pelo lado do crédito, através do Banese, o Governo ampliou a oferta de dinheiro no mercado, disponibilizando apenas no segundo semestre do ano passado, cerca de R$ 250 milhões. A expectativa do banco é que no primeiro semestre de 2009 cerca de R$ 200 milhões sejam ofertados.
O Governo demonstra preocupação também com a manutenção dos empregos já existentes. Para ajudar as empresas que estão em dificuldades por conta da crise, o secretário Jorge Santana garante que o Estado irá utilizar todos os instrumentos de que dispõe.
“Estamos fazendo o possível para ajudar aqueles que estão enfrentando problemas. Intensificaremos a execução de obras públicas e poderemos considerar algum tipo de política específica de desoneração tributária, analisando isoladamente os casos. O Estado pode e irá contribuir para atenuar os efeitos da crise, dentro de suas limitações. Os sergipanos podem ficar tranqüilos porque não haverá omissão”, garante.