Mesmo num cenário bastante pessimista, em que as vendas de carros no Brasil despenquem neste ano, o consumo doméstico de etanol crescerá. E não será pouco. Segundo simulação realizada pelo Rabobank, se as vendas de automóveis caírem pela metade em 2009, o aumento potencial do consumo de etanol no País será de 2,44 bilhões de litros, o que representaria uma alta de 12,2% em relação ao consumo nacional em 2008, que foi de 20 bilhões de litros, sendo 14 bilhões de hidratado e 6 bilhões de anidro.
Isso só será possível se os preços do álcool continuarem competitivos em relação à gasolina. Ou seja, se os preços do etanol custarem ao consumidor final até 70% do preço da gasolina. A frota de veículos flexíveis, que representam 87% das vendas, chegaria, mesmo com queda de 50% nas vendas, a 8,4 milhões de unidades em 2009, segundo a simulação feita pelo Rabobank. Os veículos movidos a gasolina também ajudam, pois o combustível tem mistura de 20% de álcool hidratado.
Os dados foram apresentados ontem, em Sertãozinho, por Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Canaplan, consultoria especializada na agroindústria canavieira. “As perspectivas para o álcool são boas não somente no Brasil. Nos Estados Unidos, as últimas notícias nos permitem fazer uma análise otimista para o setor”, disse ele, durante o evento “Cenários para a Safra Sucroenergética 2009/10”, promovido pela Brasil Agro.
Segundo Carvalho, os novos secretários norte-americanos de Energia e Agricultura defendem maior uso do etanol na gasolina. “Tanto que a EPA (a agência ambiental dos EUA) definiu em janeiro uma mistura média de 10,21% de etanol na gasolina para 2009, em comparação com 7,76% em 2008”, informou. “Isso representa uma demanda extra de 13 bilhões de litros de etanol”, afirmou.
Salto no exterior
Segundo Carvalho, o mercado internacional de etanol saltou de 29 bilhões de litros em 2000 para 79 bilhões de litros em 2008. Em 2018, segundo projeções da Canaplan, o consumo chegará a 276,6 bilhões de litros, o que representará uma taxa anual de crescimento de 13,35% no período.
Para o mercado internacional de açúcar, a Canaplan prevê crescimento anual de 2,78%. A commodity, que movimentou 130 milhões de toneladas em 2000 e 161,8 milhões de toneladas em 2008, deve atingir 212,8 milhões de toneladas em 2018.
“Independentemente da crise, do seu tamanho e duração, dos estragos e seqüelas que causar, o mundo não suporta mais o continuísmo”, afirmou Carvalho. “Prova disso foi a eleição de Barak Obama para a presidência dos Estados Unidos.” Segundo Carvalho, na esteira desse novo mundo, a biomassa é estrela, base de inovações nos campos energético, químico e biotecnológico. Neste cenário, diz ele, a cana (e o Brasil por conseqüência) está muito à frente e receberá os maiores recursos. “Passaremos a viver um longo ciclo virtuoso, com sustentabilidade, o que inclui competitividade e inovação.”