Uma queda de mais de 22% nas exportações, em especial de manufaturados, foi a responsável pelo déficit na balança comercial brasileira, em janeiro, após quase oito anos de resultados mensais superavitários.
Conforme os dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o saldo ficou negativo em US$ 518 milhões, refletindo vendas externas de US$ 9,788 bilhões, contra importações de US$ 10,306 bilhões.
Até então, o país somava 93 meses de superávits consecutivos – desde março de 2001, quando a balança fechou no vermelho, em US$ 274 milhões. Em 12 meses, o saldo acumulado continua positivo, totalizando US$ 23,305 bilhões.
A causa do déficit do último mês é a crise financeira internacional, que tem debilitado as exportações brasileiras – em função da queda do nível da atividade econômica em todo o mundo – e reduzido o preço das commodities (produtos básicos com cotação internacional).
No mês passado, as exportações caíram 22,8%, enquanto as importações foram menos afetadas, com recuo de 12,6%, na comparação com janeiro de 2008. Em relação a dezembro, houve retração de 25,8% e 6,3%, respectivamente.
As vendas externas de manufaturados apresentaram um recuo de 34%, no confronto entre janeiro de 2009 e de 2008. O desempenho negativo é fruto, principalmente, da queda de 56% nas vendas de automóveis de passageiros, no mês.
Os embarques de autopeças também despencaram, com retração de 50,7%. Os dados do Mdic mostram ainda uma redução de 39,8% nas exportações de laminados planos; 39,2% nas de aparelhos transmissores e receptores; e 37,9% nas de pneumáticos.
Por outro lado, as exportações de açúcar refinado cresceram 19,3%; etanol, 7,1%; tubos flexíveis de ferro e aço, 405,3%; e tubos de ferro/aço, 137,3%.
Ao todo, as exportações de manufaturados em janeiro somaram US$ 4,326 bilhões, ante US$ 6,864 bilhões no mesmo mês de 2008. A média diária exportada caiu de US$ 312 milhões para US$ 206 milhões. As exportações de produtos básicos caíram 6,5% e de semimanufaturados, 13,7%, na mesma base de comparação.
Cenário incerto para o ano de 2009
Após o anúncio do resultado negativo, o Ministério informou que medidas para estimular as exportações estão na iminência de serem anunciadas pelo Governo federal. O órgão, no entanto, preferiu não estabelecer uma meta para as vendas externas deste ano, por causa dos efeitos imprevisíveis da crise, principalmente no primeiro trimestre.
Por isso, desenhou cinco cenários possíveis. No pior deles, prevê um recuo de 20% nas exportações, neste ano, caso a economia mundial piore ainda mais. Na melhor das hipóteses, é esperado um crescimento de 2% nas exportações brasileiras.
O alento é que as importações também devem cair, em função da redução da atividade doméstica, segundo afirmou, na semana passada, o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro, o que garantiria o superávit anual.