As exportações brasileiras desabaram em janeiro e fizeram com que, pela primeira vez desde março de 2001, o Brasil registrasse o primeiro déficit mensal na balança comercial. Em janeiro as exportações alcançaram US$ 9,788 bilhões, enquanto as importações, que também caíram, fecharam o mês em US$ 10,306 bilhões. O resultado dessa conta foi um déficit de US$ 518 milhões, praticamente o dobro do último déficit mensal registrado: US$ 274 milhões. Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, atribuiu o péssimo resultado do mês à queda da demanda no mercado internacional. Com os principais países parceiros do Brasil no comércio exterior em recessão – caso dos Estados Unidos e de muitos países da União Européia – não é fácil vender. A queda da demanda, segundo Barral, teve uma influência maior que os preços. Algumas commodities, inclusive, devido a fatores climáticos, estão com preços razoáveis no mercado internacional. É o caso, por exemplo, do açúcar, do algodão e da soja.
Como a crise internacional não vai passar de um dia para o outro, o secretário de Comércio Exterior prevê resultados ruins para a balança comercial pelo menos até o mês de março. A partir de abril, Barral acredita que as coisas começam a mudar, principalmente devido à colheita da safra agrícola. Mesmo no pior cenário, o secretário garante que o governo não trabalha com saldo negativo para a balança comercial no ano. “O governo vem fazendo todo o esforço possível para a manutenção do saldo comercial”, observou.
Produtos – De acordo com Barral as medidas de incentivo ao comércio são iminentes. Ele disse também que o governo está vigilante ao aumento do protecionismo, que sempre ocorre em momentos de crise. “O protecionismo é um câncer”, afirmou. Sobre a confusão da semana passada em relação às licenças automáticas para importação , que o governo rapidamente voltou atrás, Barral afirmou que foi uma série demal-entendidos e ruídos. “Não leram o que diz a OMC (Organização Mundial do Comércio) e fizeram muito barulho por nada”, comentou.
Em janeiro a queda das exportações brasileiras foi generalizada para todos os destinos, exceto a Ásia. As exportações que mais caíram foram a de produtos manufaturados, com destaque para automóveis de passageiros (queda de 56% em relação a janeiro de 2008) e autopeças (menos 50,8%), além de laminados planos (queda de 39,8%). Nas importações, as maiores quedas foram para a aquisição de matérias-primas e intermediários (menos 20,7%), bens de capital (menos 5,4%) e combustíveis e lubrificantes (menos 4,7%). No item combustível, o que caiu foi o preço do petróleo e não a quantidade importada.
Todo esse cenário ruim fez o secretário afirmar que o comércio exterior está sofrendo mais os efeitos da crise que o mercado interno. Economista André Sacconato, da Tendências, concorda com ele. No entanto o economista defende que o governo pode agir para atenuar os efeitos da crise. “O governo vem sendo muito tímido”, assegurou.