Mercado

Crise ajuda o setor canavieiro em São Manuel

O principal produto do município de São Manuel, distante 291 quilômetros da capital paulista, está numa situação melhor devido à crise econômica. Com a queda de produção de concorrentes estrangeiros, como a Índia e Austrália, as usinas de cana-de-açúcar da cidade e região vêm elevando o nível de produção.

A arrecadação tributária municipal, porém, já sofreu impacto. Comparado com ano passado, o recolhimento de impostos diminuiu 21%. “Por isso estamos pisando no freio, por enquanto”, disse o prefeito Tharcilio Baroni Junior (PSB), durante entrevista exclusiva ao DCI.

A redução inclui novos investimentos. Já obras em andamento ou com dinheiro reservado estão garantidas. Segundo Baroni, o período de congelamento na cidade deve durar de 90 a 120 dias, quando ele espera ter definido o tamanho da crise. “Vamos aguardar para ver o comportamento da economia mundial. Só depois disso, saberemos se temos que continuar pisando no freio ou ir soltando aos poucos”, disse.

O prefeito, que volta ao comando municipal depois de 16 anos, adotará como prioridade as áreas de saúde, educação e segurança, que segundo ele, “hoje não é mais um problema só das grandes cidades”. Além disso, Baroni pretende investir em escolas profissionalizantes e criar um distrito industrial, voltado para pequenos e médios empreendedores. “Nosso objetivo é trazer empresas satélites para cidade, para servir indústrias maiores, localizadas nos municípios vizinhos”.

Leia agora os principais trechos da entrevista:

Qual é o principal perfil econômico da cidade?

Nossa força econômica está na agropecuária. Temos a laranja, eucalipto e o café, que já foi uma grande força da cidade no passado, e hoje ainda tem uma representatividade na economia. Mas nosso principal produto é a cana-de-açúcar. Estamos cercados por quatro usinas, temos a Cosan, uma aqui mesmo na cidade e duas em Lençóis Paulista. As quatro usinas ficam numa esfera de 35 quilômetros de São Manuel e são responsáveis por grande parte do emprego na região. Além disso, elas são as principais contribuintes para arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A produção de cana-de-açúcar tem evoluído devido a questão do biodiesel.

Qual é o peso da unidade de São Manoel entre as quatro usinas?

A nossa usina está em segundo lugar em comparação com as outras, mas num levantamento feito com 500 usinas no País, ficamos em primeiro lugar, em relação a resultados, de investimentos, retorno e qualidade .

A prefeitura contribui para o resultado da usina?

Não, na verdade, a usina é quem colabora com a cidade. Ela é parceira da prefeitura, tanto que ajudou na construção de um prédio, que eu pretendo transformar em escola profissionalizante, trazendo a Fatec. A usina também vai colaborar com as obras no jardim público de São Manuel.

Há áreas disponíveis para instalação de novas empresas?

Sim, nós inclusive, estamos com projeto de desapropriação de uma área de 25 alqueires, para formar um novo distrito industrial. Nosso objetivo é trazer empresas satélites para cidade, para servir indústrias maiores, localizadas nos municípios vizinhos, como Botucatu, que tem a Embraer e a Induscar. Preferimos atrair indústrias de 100, 250 funcionários para prestar serviços para empresas maiores.

Quando o distrito ficará pronto?

Vamos começar a fase de desapropriação, nos próximos 90 dias. Temos que tratar da parte legal, primeiro. Mas além desse distrito, queremos arrumar o atual pólo, cuja estrutura não é boa. Vamos asfaltá-lo e dar melhores condições a ele. O novo distrito vai se juntar ao antigo, formando um grande pólo industrial.

A cidade tem programas para incentivar pequenas empresas?

Temos sim. Devido à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), não se pode mais isentar impostos para atrair empresas. Por isso, fazemos o que é possível, como a doação de terrenos e realização de terraplanagem.

E como a cidade tem enfrentado a crise? Ela já atingiu setores, como o da cana-de-açúcar?

Até agora, a produção de cana está suportando a crise. O setor iniciou um período de baixa, mas com a queda a produção na Índia e na Austrália, nós voltamos ao nível melhor. No entanto, a arrecadação de receitas da prefeitura já preocupa. Tivemos uma queda de 21% nesse mês, comparado com janeiro passado. Por isso estamos pisando no freio, por enquanto.

O que envolve essa desaceleração da prefeitura?

As obras que estão em procedimento vão continuar, assim como as que já possuem recursos reservados no orçamento. Novas obras, porém, que incluem novas verbas, estão descartadas, pois temos receio de gastar além da conta. Pelos últimos dados do mercado externo, a previsão não é de um bom caminho. Por isso, vamos aguardar de 90 a 120 dias para ver o comportamento da economia mundial. Só depois disso, saberemos se temos que continuar pisando no freio ou ir soltando aos poucos.

Como o senhor vê as ações do governo federal diante da crise?

Eu acho que a postura do governo é boa. Elogio o presidente Luis Inácio Lula da Silva por não fazer um discurso pessimista. A crise muitas vezes aumenta com a divulgação. As pessoas recuam os investimentos, devido à cautela que se gera. Por isso, admiro o presidente que está enfrentando isso com garra. Acredito também que o Brasil não vai sofrer tanto impacto. Temos uma economia fortalecida, tanto que, diferente dos Estados Unidos, nenhum banco daqui demonstrou sinais de falência. Isso se deve ao contingenciamento através de compulsórios. O que precisa diminuir é a taxa de juros, que é incompatível com a realidade do Brasil.

Qual é o orçamento para 2009?

O Orçamento previsto para esse ano é de R$ 69 milhões, mas se continuar nessa defasagem, a arrecadação deve chegar a R$ 50 milhões, que é uma diferença muito significativa. Se acontecer isso mesmo, a verba será suficiente quase que exclusivamente para pagar os funcionários.

O senhor já foi prefeito de 1989 a 1992. O que mudou de lá para cá na cidade?

Muita coisa, principalmente a evolução da informática. Por isso, estou qualificando todos os funcionários para isso. Antes havia uma relação mais pessoal, hoje é uma questão mais técnica, que depende de engenharia para funcionar.

Quais os principais desafios para esse mandato?

Meu desafio é melhorar as áreas de educação, saúde e segurança. Na saúde, quero aumentar o atendimento na zona rural, além de expandir a distribuição de remédios. Na educação, vamos investir na qualificação de professores. Sobre a segurança, já estamos monitorando toda a região de bancos. A criminalidade hoje não é mais um problema só das grandes cidades.