Os negócios de açúcar e álcool do Grupo Atalla, também controlador da Cimentos Planalto SA, definham a olhos vistos. As duas usinas da companhia, a Central Paulista, de Jaú (SP), e a Central do Paraná, de Porecatu (PR), já não processam mais cana para a família. É a fotografia de um antigo ícone do setor em crise, com problemas anteriores aos que hoje também afetam outras usinas e exíguas possibilidades de reação.
Há cerca de quatro anos, a área agrícola da Central Paulista foi arrendada para o grupo Cosan, o maior processador de cana do mundo. Desde o ano passado, a usina Central Paraná não opera por falta de capital de giro, segundo apurou o Valor.
Presidida pelo empresário Jorge Wolney Atalla, o grupo foi referência nos anos 70, início do Proálcool no Brasil. Atalla era considerado àquela época um visionário. Presidente da Copersucar naquele período, Atalla foi um dos idealizadores do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). O CTC é considerado um marco pelo setor por desenvolver variedades de cana mais produtivas e um dos responsáveis pelo salto que o Brasil deu em etanol.
Atalla também é lembrado por financiar, por meio da Copersucar, a campanha de Émerson Fittipaldi na Fórmula 1. Atualmente o empresário está afastado dos negócios da empresa, por motivo de doença, apurou o Valor.
Nenhuma das duas usinas do grupo – a de São Paulo e a do Paraná – atrai interesse de investidores. “As unidades industriais estão velhas, totalmente defasadas”, afirmou uma fonte do setor. Sobre as usinas do grupo ainda também pesam ações trabalhistas por inadeqüadas condições de trabalho.
A divisão de cimentos do grupo, a Ciplan, com sede em Brasília, e que também tem um parque industrial defasado, sustenta os negócios da família, segundo fontes de mercado. A cimenteira figura entre as dez maiores de seu segmento, que viveu um bom momento entre 2007 e 2008. No ano passado, o setor de cimento cresceu 14%, mas deverá se manter estável este ano. Para 2010, poderá registrar queda, se as condições de mercado não voltarem a ficar favoráveis e o setor imobiliário não retomar os investimentos.
Funcionários do grupo confirmaram que as duas usinas já não operam mais. Desde o dia 8 de janeiro o Valor pede entrevista à diretoria do grupo, mas a companhia informou que não vai comentar o assunto.
A situação delicada do grupo não pode ser atribuída à crise financeira. Parte das usinas do setor, que enfrentam escassez de crédito, acumula dívidas e herda uma péssima gestão administrativa há muitos anos, afirmou outra fonte do setor. “A crise agravou a situação de alguns grupos. Mas outros já estavam complicados antes.”
Com cerca de 400 usinas no país, o setor viveu um “boom” de investimentos respaldados pelo álcool combustível como a grande aposta. Cerca de 200 projetos de usinas foram anunciados, mas pouco menos da metade saiu do papel. Dos projetos não-tocados, parte deles foi adiado e a maioria nem deverá ser levado adiante. Com esse quadro atual, o setor torce agora por uma recuperação nos preços internacionais do açúcar, que foi relegado a segundo plano durante a bolha do etanol.
Na sexta-feira, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou a criação de um fundo de US$ 150 milhões, e que pode chegar a US$ 250 milhões, para estimular investimentos e manter o financiamento para usinas do Brasil, México e América Central, afetados pela crise, informou a Reuters.