Depois de três semanas de recesso cá estamos de novo inaugurando mais um ano, com esperança renovada de tempos melhores. Esse é o 100º relatório semanal no momento em que iniciamos nosso terceiro ano de publicação. O ano de 2009 será o da gestão de risco responsável. As empresas estão cada vez mais conscientes dos problemas causados pela má administração, pela ganância e pela alavancagem desatinadas que podem fazer com que anos de trabalhos sejam simplesmente jogados pela janela. Vamos viver a quebra de paradigmas.
O mercado de açúcar, desde o último relatório antes do Natal, subiu com pujança. O março de 2009, de vencimento mais curto, apreciou nada menos que 28 dólares por tonelada. Os meses de fixação da safra 2009/2010 fecharam com altas entre 15 e 21 dólares por tonelada; os meses da 2010/2011, entre 19 e 21 dólares por tonelada. No mercado à vista (físico), açúcar para emba rque imediato teve uma abrupta valorização. O desconto passou de 160 para 50, ou seja, uma valorização de quase 25 dólares por tonelada; some-se a isso a subida do mercado e conclui-se que o açúcar para a exportação no spot valorizou quase 50 dólares por tonelada. O mercado interno também acompanhou, embora mais moderadamente, uns 30 dólares por tonelada. O índice ESALQ para açúcar no mercado interno subiu mais de 8% só este mês de janeiro, com um valor acumulado quase 12% nos últimos 30 dias. Falamos muito nesse espaço que os consumidores deveriam fazer proteção contra subida de preço ou ainda um seguro contra ESALQ. Ta aí.
Pensou-se que o aumento das tensões no Oriente Médio fosse impactar os preços do petróleo e conseqüentemente o do etanol. No entanto, tem tanto petróleo nos dutos que está faltando lugar para armazenagem e os preços na semana que se encerrou chegaram a cair 11%. Outra coisa é que a correlação entre petróleo e açúcar desapareceu desde meados de 200 8. A correlação estatística dos últimos 250 pregões entre as duas commodities é de -0,1600. A dos últimos 100 dias é zero. Em outras palavras, estão completamente divorciados.
A Archer Consulting fez um levantamento das correlações entre gasolina (RBOB), petróleo, milho, etanol (preço do spot em NY), açúcar em NY, anidro (ESALQ) e hidratado (ESALQ), com o objetivo de alertar às empresas que fazem contratos de álcool baseados na correlação deste com outras commodities. Olhando para uma correlação de pelo menos 250 dias, que englobaria um ano, vimos poucas correlações positivas que justificariam contratos de álcool precificados em outros mercados. É claro que para períodos curtos pode haver alta correlação, mas elas são pontuais e dado o menor intervalo de tempo, são também mais suscetíveis à altos riscos de descolamento. Até meados de 2008, havia alta correlação entre os quatro principais: gasolina (RBOB), petróleo, milho, etanol, dando a impressão de que contratos de álcool precificados em RBOB, petróleo ou milho eram extremamente funcionais. Hoje, existe apenas correlação entre o RBOB e o etanol (preço do spot em NY), ao redor de 0,9300 e entre o petróleo e o milho 0,9500. Portanto, cuidado ao utilizar esses artifícios. A melhor maneira de precificar álcool anidro ou hidratado é usando o açúcar em NY: a correlação nos últimos 6 meses é acima de 0,7800. Não é o ideal, mas é a menos pior. Nos EUA o total colapso das margens do etanol de milho forçou o cancelamento de um grande número de novos projetos.
O crédito está voltando suavemente, mas ainda bem abaixo da expectativa ou necessidade de caixa. Segundo alguns traders, os bancos estrangeiros desapareceram do mercado sendo substituídos pelos bancos brasileiros que estão ajudando as usinas a atravessarem a entressafra. Espera-se ansiosamente que a posse do Obama possa refletir em noticias alvíssaras para o setor.
O volume de contratos está crescendo pausadamente. A posição em aberto nos últimos 30 pregões subiu pouco mais de 40.000 contratos. Uma recuperação pequena, mas ainda longe dos volumes recordes que vimos em 2008. O êxodo dos fundos trouxe oportunidades de compra.
Revisamos nossa estimativa de fixação das usinas para a próxima safra. Nossa previsão é de que as usinas já fixaram para a safra 2009/2010 apenas 12% de suas exportações. Esse número pequeno é reflexo da falta ou diminuição de crédito por parte das corretoras e das tradings, reduzindo a viabilidade das usinas de fixarem com antecipação. Aliás, vamos viver um cenário diferente este ano de 2009. O aperto de crédito vai alterar a maneira como as usinas operavam suas fixações. Por isso revisamos os números. Com essa mudança tática, as usinas poderão ser forçadas a fixar a qualquer preço se chegarem muito próximo do período de embarque sem terem ainda fixado seus açúcares. Mas também, num rally, os meses de vencimento mais longo poderão não ter o volume adequado de fixações pa ra atender a pressão compradora. Ou seja, no popular, a volatilidade pode ter picos bem exagerados.
Um leitor manda um e-mail comentando as previsões que fizemos nesse espaço em janeiro do ano passado, que dizia: “que os preços para 2008 deveriam ficar entre 11.50 e 12.50 centavos de dólar por libra-peso.” Bem, a média de preços de 2008 (baseado no fechamento do primeiro mês de vencimento) ficou em 12,10 centavos de dólar por libra-peso, mas chegamos a ver o mercado acima de 15 e abaixo de 9,50, ou seja, que ninguém se queixe que não teve emoção esse ano que passou. O mercado ficou 95% do tempo negociando entre 9,89 e 14,31. Isso mostra que os rallies dever ser vendidos sem medo e na hora do pânico tome uma dose de Maracujina® para agüentar o rojão e compre. Importante observar que os produtores serão parcimoniosos no aproveitamento de eventuais rallies de mercado, ou seja, não espere grandes pressões. Os fundamentos são construtivos, pois com a iminência de problemas na oferta de açúcar mundial, qualquer fraqueza que o mercado demonstrar deve ser tomada como uma excelente oportunidade de compra ou, para os mais audazes, uma venda de puts (opções de venda) 100 pontos abaixo do mercado. É tirar pirulito da boca de criança, não é não?
A partir de agora vamos instituir um fundo fictício no valor de US$ 1 milhão para acompanhar os comentários e dicas aqui discutidas. É o tal do “Put Your Money Where Your Mouth Is”, ou seja, colocar as opiniões à prova. Toda estratégia será apresentada aqui à priori. Vamos assumir um custo de corretagem de US$ 5/lote e metade disso para as opções. O valor de US$ 1 milhão deve cobrir despesas de corretagem, chamadas de margem, depósito inicial, etc. replicando exatamente uma conta aberta junto a uma corretora internacional. Vamos acompanhar a posição fictícia semanalmente.
Tendo em vista que a volatilidade das opções continua alta (acima dos 40% para março e maio), para a semana que vem nossa est ratégia será a venda de um strangle, ou seja, a venda de uma put (opção de venda) e uma call (opção de compra), ambas fora do dinheiro (preço de exercício abaixo do mercado para as puts e acima do mercado para as calls). Assim, vamos vender a put de 11.50 e a call de 13.00 com vencimento para março de 2009.