Mercado

Sem hidrovia, 60 mil toneladas de mercadorias estão paradas em GO

Crise entre a empresa dnp e a marinha paralisou 70% do transporte de grãos e açúcar pela hidrovia paranaíba-Tietê-Paraná

Sônia Ferreira

Cerca de 60 mil toneladas de mercadorias produzidas em Goiás, por mês, entre elas açúcar, soja e farelo de soja, continuam sem poder ser escoadas pela hidrovia Paranaíba-Tietê-Paraná, saindo do porto de São Simão, no município do mesmo nome, no Sul de Goiás. Esses produtos seriam destinados aos centros consumidores de São Paulo e para exportação, através do porto de Santos (SP).

Desde o último dia 15 de dezembro, a DNP Indústria e Navegação, responsável por 70% das cargas transportadas pela hidrovia, saindo do porto de São Simão, está impedida pela Marinha do Brasil de colocar suas barcaças para navegar pelos rios Paranaíba, Tietê e Paraná, em decorrência do descumprimento de normas de operação na hidrovia.

A DNP foi multada, e agora impedida de operar, porque seus comboios passavam debaixo da ponte SP-191, na região de Botucatu (SP), acoplados em duas barcaças, quando o padrão Tietê determina a passagem de apenas uma barcaça por vez, para evitar a colisão com as pilastras. O diretor executivo da DNP, Pedro Burin, disse ontem ao POPULAR que uma divergência de interpretação levou a Marinha a suspender as ordens de navegação no trecho.

Atraso

Pedro Burin entende que as regras da Marinha estão ultrapassadas e travam o desenvolvimento da hidrovia, que está parada no tempo há 20 anos. “As regras precisam ser flexibilizadas para viabilizar a modernização e a operacionalização da hidrovia”, disse. Ele relata que, ao fazer o desmembramento das barcaças para passar debaixo da ponte SP-191 o comboio perde mais de 20% do tempo de transporte e encarece os custos.

O diretor da DNP conta que, recentemente, contratou uma empresa especializada para prestar uma consultoria sobre segurança em navegação em hidrovias e que as operações da DNP são adequadas. Foi constatada, também, que a passagem de duas barcaças sob as pontes é mais seguro do que a execução do desmembramento. “Já fizemos mais de 50 mil passagens de comboios sob pontes, em mais de 15 anos, sem qualquer acidente”, informa Pedro Burin.

Em decorrência da paralisação das operações, a DNP demitiu 200 trabalhadores, desde o dia 15 de dezembro, e acumula prejuízos da ordem de R$ 2 milhões. As empresas que utilizam os serviços da hidrovia estão sendo obrigadas a transportar suas mercadorias através de rodovias.

Com isso, mais de 2 mil carretas, de 30 toneladas, estão movimentando essas cargas, cobrando frete até 30% superior ao da tabela da hidrovia, levando mais riscos a outros motoristas e poluindo, ainda mais, o meio ambiente.

O executivo em Administração e Relações Institucionais do Grupo USJ Açúcar e Álcool, Igor Montenegro, manifestou-se ontem preocupado com a paralisação das atividades da DNP. “Somos o maior usuário da hidrovia Tietê-Paraná no transporte de açúcar, produzido pela Usina São Francisco, em Quirinópolis. A persistir essa situação, teremos de fazer o transporte do produto, destinado à exportação, via rodovia. Mas quando entrar o período da safra, em abril, a situação poderá se complicar, pois poderão faltar caminhões e o custo do frete vai aumentar”, prevê.

No ano passado, a DNP transportou quase 2 milhões de toneladas de açúcar, soja e farelo de soja pela hidrovia Tietê-Paraná, saindo do Porto de São Simão. Essa foi a primeira vez, em quase 20 anos, que o transporte da DNP na hidrovia, saindo de Goiás, fica parado e sem perspectiva de retomada. Mas a empresa já recorreu à Justiça para reverter a decisão da Marinha.