As barreiras à entrada de etanol importado nos Estados Unidos provocam efeitos tanto sobre o preço dos alimentos como sobre a livre formação do preço dos biocombustíveis, conclui um estudo da Farm Foundation, instituição mantida com recursos públicos para estudar questões ligadas à agricultura e alimentos nos EUA. O documento conclui que a tarifa imposta pelos EUA ao etanol importado do Brasil, de US$0,54 por galão, potencialmente introduz mais distorção sobre o preço do milho no mercado americano do que os subsídios internos ou a obrigação de mistura de etanol à gasolina.
“Como a elevação do preço do petróleo provocou um aumento na cotação do milho, o etanol feito a partir do milho se tornou muito mais caro. O etanol feito de cana-de-açúcar tem menor custo de produção do que o de milho, em qualquer cenário de preços do petróleo. Mas a diferença entre os custos aumenta quanto maior for o preço do barril. Portanto, a retirada da tarifa sobre importação de etanol permite que o biocombustível feito a partir da matéria-prima mais barata, cana-de-açúcar, reduza a pressão sobre o preço do milho e supra os Estados Unidos com etanol mais barato. O Brasil tem potencial para expandir substancialmente a produção de etanol sem elevar de forma significativa o preço do açúcar”, informa o estudo “What is driving food prices?”.
Joel Velasco, representante-chefe em Washington da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) avalia que “essa taxa “sui-generis” sobre uma forma de energia limpa e alternativa acaba servindo apenas para punir os consumidores dos EUA com um aumento artificial do preço da gasolina na bomba. Ele lembra que vários pesquisadores e estudos recentes, inclusive do Federal Reserve dos EUA e do Professor Bob Pindyck do Massachusetts Institute of Technology (MIT), já concluíram que “só o fim do protecionismo contra combustíveis renováveis pode trazer uma redução real no preço de combustíveis no curto prazo”.
O estudo da Farm Foundation conclui que cada bilhão de galões (um galão equivale a 3,8 litros) de etanol importados pelos EUA têm o potencial de poupar 358 milhões de bushels de milho (um bushel equivale a 35,2 litros) usados na produção de etanol no país. “Portanto, haveria impacto sobre os preços à medida que a indústria de etanol demandasse menos milho”.
Esse efeito benéfico já poderia ocorrer a partir do ano que vem, quando a proporção de mistura de etanol na gasolina deve alcançar os limites de proporção estabelecidos por lei (11,1 bilhões de galões de etanol para 2009). Assim, se o etanol com origem em outras matérias primas —como a cana-de-açúcar— for usado na mistura, a cotação do milho tende a cair.
A tarifa sobre a importação de etanol, de US$ 0,54 por galão (3,8 litros), foi criada em 1980 como uma medida provisória para incentivar a produção de etanol nos Estados Unidos. Em 2007 a demanda no país cresceu mais de 6 bilhões de galões. O subsídio à indústria de etanol dos Estados Unidos foi reduzido de US$ 0,51 para US$ 0,45 em 2008. No entanto, a tarifa sobre a importação de etanol foi mantida no mesmo patamar, estabelecido em 1980. Reduzir os subsídios sem alterar a tarifa de importação acaba colocando o etanol importado, que é mais barato, fora do alcance de muitos consumidores dos EUA.
Divulgado no mês passado, o estudo da Farm foundation, “What is driving food Prices?” reuniu 25 “papers” recentes a respeito das forças que têm agido sobre o preço dos alimentos