Em tempos de inflação de alimentos, preços agrícolas sustentados e elevação dos custos de produção agrícola, a demanda por crédito rural está em alta. Os empréstimos para o segmento empresarial do setor rural cresceram 41% na safra 2007/08, concluída em julho passado. Entre as razões para o “boom” de crédito estão a taxa de juros negativa e a nova fase de investimentos em máquinas e implementos agrícolas.
O desembolso recorde para o segmento empresarial somou R$ 65,06 bilhões, situando-se 12,2% acima da meta de R$ 58 bilhões, segundo dados informados pelos bancos e recém-compilados pelo Ministério da Agricultura.
Um dos principais motores para a superação das cifras iniciais, anunciadas em 2007, foi a inédita expansão de 256% nos desembolsos da linha de capital de giro do Banco do Brasil destinada à agroindústria. A aplicação de recursos, feita com juros livres acima de 20% ao ano, chegou a R$ 11,16 bilhões.
As empresas do setor usaram essa linha para financiar as vendas de insumos a prazo e as compras antecipadas e à vista da produção rural. “Vivemos um momento de boas oportunidades para as commodities agrícolas no mercado externo. Isso tem levado o produtor a buscar alternativas de crédito”, afirma o secretário-interino de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, José Maria dos Anjos.
O governo prevê um forte aumento na demanda nesta safra, que começa a ser plantada em setembro. O orçamento de R$ 65 bilhões deve ser novamente superado, segundo as previsões. Um dos motivos é o recuo nos empréstimos feitos por tradings do setor. Com alguns problemas de caixa na safra passada, em razão das fortes oscilações de preços das commodities nos mercados futuros, as tradings têm feito uma seleção mais rigorosa dos potenciais clientes. “Vamos entrar neste nicho antes ocupado por estas empresas e encurtar o caminho ao produtor”, afirmou o executivo de um banco oficial.
Os empréstimos para a safra 2007/08 também evidenciam um aumento na participação dos recursos com juros subsidiados pelo Tesouro Nacional. A explicação está na elevação das exigibilidades, fatia de 25% sobre os depósitos à vista que os bancos são obrigados a emprestar ao setor rural. No total, esses financiamentos somaram R$ 41,4 bilhões na safra passada, um resultado 37% superior ao aplicado no ciclo 2006/07 e 9,4% acima da meta de R$ 37,85 bilhões. No caso da poupança rural, em que os bancos federais e cooperativos têm de aplicar 65% da captação no rural, os desembolsos foram 10% menores, mas a aplicação relativa cresceu 29% no período.
Os empréstimos dos programas de investimento administrados pelo BNDES cresceram 31% na comparação com a safra anterior, passando de R$ 2,89 bilhões para R$ 3,8 bilhões. Mesmo com o desembolso relativo abaixo da meta, significa a volta dos produtores às compras. “É um indício de que os produtores voltaram a ficar capitalizados e a usar mais tecnologia no campo”, analisa José Maria dos Anjos.
Na outra mão, a agricultura familiar decepcionou. Foram aplicados apenas 67% do total previsto para a safra passada. Dos R$ 12 bilhões, saíram efetivamente dos cofres R$ 8,02 bilhões. Mesmo assim, a aplicação foi 2,2% superior aos R$ 7,84 bilhões do ciclo 2006/2007. O Ministério do Desenvolvimento Agrário tem algumas explicações para a timidez dos financiamentos, como ajustes nas normativas do sistema financeiro, falta de pessoal nas agências e os reflexos da renegociação da dívida rural. “Também sempre jogamos com uma folga, porque se tiver uma demanda extra já estamos atendidos na equalização dos juros”, justifica o secretário de Agricultura Familiar, Adoniran Peraci.
Na soma dos segmentos empresarial e familiar, o desempenho ficou 28% acima da safra anterior e foi 4,6% superior ao previsto no anúncio do Plano de Safra de 2007/08. Da meta de R$ 70 bilhões, foram aplicados R$ 73,24 bilhões, um volume bem acima dos R$ 57,15 bilhões da safra 2006/07.
Na quinta-feira, a Conab divulga o 11º levantamento da safra 2007/08, que vai mostrar novo crescimento da produção, segundo a própria estatal. A última estimativa indicou safra de 142,4 milhões de toneladas de grãos. A pesquisa foi feita por 61 técnicos da estatal, entre 14 e 18 de julho.