Mercado

Gás natural tem potencial mas sofre com a escassez

O Norteshopping, um dos maiores centros comerciais do Rio de Janeiro, acaba de inaugurar uma unidade de cogeração de 850 kW, que vai reduzir em 15% as despesas com energia elétrica. Além disso, o vapor produzido será utilizado no chiller de absorção para produção de água gelada do ar-condicionado. O shopping é o mais novo exemplo entre muitos da conversão de empresas para a produção própria de energia através da cogeração. A utilização de gás natural é um dos expoentes dessa forma de produção de energia, dominada pela biomassa de cana-de-açúcar.

O mercado é amplo e variado, indo de shoppings e hotéis até grandes indústrias. Somente a Ceg, distribuidora de gás do Rio de Janeiro, conta com 15 clientes com capacidade de 60 MW. Segundo Hugo Aguiar, superintendente de grandes clientes da distribuidora, a meta é desenvolver um mercado de 250 MW nos próximos cinco anos. Em São Paulo, a Comgás já contabiliza mais de 40 clientes comerciais e quatro industriais. Além disso, a empresa tem em vista o desenvolvimento de mais dez projetos para os próximos dois anos.

“O potencial em São Paulo é grande, apesar de termos pouca cogeração industrial funcionando. Para ser viável, deve-se balancear o custo do gás com o da energia”, explica José Rodrigues Pereira Neto, superintendente de Vendas da Região Metropolitana de São Paulo e Baixada Santista da distribuidora. O desenvolvimento do mercado esbarra no desconhecimento dos proprietários das vantagens do uso da cogeração. “Há a real necessidade de mostrar as vantagens”, conta Aguiar, da Ceg.

Outro empecilho para o mercado é a falta do gás natural para atender a toda a demanda. “Hoje se uma indústria, que usa uma média de 2 milhões de metros cúbicos por mês, quiser montar uma cogeração a gás não temos a molécula, para entregar”, ressalta Pereira Neto, da Comgás, salientando que, no entanto, os projetos do comércio estão garantidos por consumir menos. “É um mercado que queremos desenvolver”, completa. A visão sobre a oferta de gás é corroborada por Carlos Alberto Silvestrin, vice-presidente da Associação Paulista de Cogeração de Energia – Cogen SP.

“Enquanto na biomassa se vive uma euforia, há um desânimo no segmento de gás natural devido à falta da molécula”, observa Silvestrin. O executivo da Comgás afirma que o corte no fornecimento de gás para Rio de Janeiro e São Paulo, no fim do ano passado, “acendeu uma luz amarela” no mercado. Contudo, para ele, o cenário é positivo para o futuro próximo com a entrada do gás da Bacia de Santos.

Por outro lado, Aguiar, da Ceg e presidente da Associação Fluminense de Cogeração de Energia – Cogen Rio, acredita que o mercado poderia crescer mais se houvesse uma melhor regulação para venda do excedente da energia gerada pelas unidades. “Dos 250 MW de mercado potencial, 20% poderiam ser vendidos para o mercado”, exemplica. Os executivos concordam que o marco regulatório simplificado para o setor é uma das vantagens. “É necessário apenas uma autorização da Aneel”, observa Aguiar.

Para estimular o mercado, as empresas apostam na abordagem do cliente através do desenvolvimento dos projetos e até da construção e operação das unidades. Uma das empresas especializadas no nicho é a Gas Natural Serviços, do grupo espanhol Gas Natural, que também controla a Ceg. O gerente-geral da empresa, Paulo Emílio Maksoud, diz que o mercado cresceu 5,13% entre 2006 e 2007. A empresa investe na construção do empreendimento e na operação sendo remunerada pelo cliente.

“A cogeração representa 3,35% do total de gás natural. É pequeno em relação ao mix. As térmicas ficam com 25%, por exemplo”, compara Maksoud. A Gas Natural Serviços pretende investir R$ 20 milhões por ano nesse mercado nos próximos cinco anos. Para Pereira Neto, da Comgás, ao pensar investir em cogeração, os empresários devem levar em conta dois pontos: equilíbrido financeiro e oferta do gás natural. “A demanda elétrica e térmica tem que ser equilibradas. E o custo do gás natural tem que ser menor do que o da energia elétrica”, ensina.

O mercado de cogeração no país foi o tema do Fórum Cogen-SP/CanalEnergia: Oportunidades para a Cogeração a Gás e Biomassa, no dia 22 de julho, em São Paulo. “O objetivo do evento foi dimensionar mais informações sobre os investimentos na cogeração”, explica Silvestrin, da Cogen-SP. “Mostramos que a cogeração não é apenas uma alternativa para a escassez de energia, mas sim um ato de eficiência energética”.

Segundo dados coletados pela Cogen-SP, o país reúne hoje 751 unidades de cogeração – de biomassa a gás natural e outras modalidades -, totalizando mais