Mercado

O homem que questionou o etanol

Não faz muito tempo que a colisão anti-etanol lamentou a ineficácia de sua luta.

Depois de fracassar ao tentar bloquear um grande número de autorizações no Senado em dezembro de 2007, Jay Truitt, até pouco tempo chefe dos lobistas pela Associação Nacional dos Criadores de Gado, reclamou do “fervor” e da “espiritualidade” que rodeia o etanol em Capitol Hill.

“Você não consegue fazer ninguém considerar que existe conseqüência para essas ações,” ele disse, adicionando, “nós acreditamos que um dia, as pessoas irão perguntar ‘por que afinal fizemos isso?’”

Esse dia chegou mais cedo do que Truitt – ou qualquer um – antecipou.

Etanol x Preço dos alimentos

Claro, essa mudança de direção pode ser atribuída, em parte, pelo rígido aumento de preço dos alimentos, fazendo com que muitas pessoas argumentem que, as terras destinadas ao plantio de milho para o etanol, deveriam ser usadas para produzir alimentos.

Mas a mudança de percepção sobre o etanol contou com a ajuda de um personagem não muito usual, um economista barbudo e contido, com um senso de humor apurado e conhecimento enciclopédico sobre os profundos segredos da política agrícola norte-americana.

Até janeiro, Keith Collins era o antigo e bem respeitado economista-chefe do Departamento de Agricultura. Nesta posição, ele era o freqüente encorajador das políticas governamentais de produção de bicombustíveis.

Nos meses que seguiram sua partida, Collins foi contratado pela Kreft Foods Global para analisar o impacto dos bicombustíveis no preço dos alimentos. O que ele produziu foi um impressionante e inesperado golpe em seus antigos empregadores.

Contradição

A gestão Bush dizia que os biocombustíveis era um fator pequeno no aumento do preço dos combustíveis. Em uma coletiva de imprensa realizada em 1º de maio, Edward P. Lazear, presidente do Conselho para Assuntos Econômicos da Casa Branca, disse, “a questão principal é que acreditamos que o etanol influencia ente 2% e 3% no preço global dos alimentos.”

Um mês depois, em uma conferência da ONU sobre a crise dos alimentos em Roma, o secretário da agricultura, Ed Schafer, ecoou a análise de Lazear em defender a política de bicombustíveis nos EUA.

Mas Collins apontou que a análise da gestão Bush era mais um esboço de cálculo, e que ela não contou com o impacto dos biocombustíveis em outras safras que não ao milho. A pressão por etanol influenciou os fazendeiros a plantarem mais milho e deixar de lado outras culturas, fator que contribui com alta de commodities como o trigo.

Baseado em sua própria análise, Collins mantém que biocombustíveis foram responsáveis por 23% a 35% do aumento no preço dos alimentos. (O lobby do etanol rejeitou a análise em um estudo afirmando que faltavam dados para comprovar a afirmação da empresa.)

“Eu analisei uma período mais recente,” disse Collins, que aparentava desconforto em seu papel de “pistoleiro de aluguel” e age discretamente de maneira a não insultar seus antigos patrões. “Eu analisei um período em que o milho que estava sendo destinado a produção de etanol estava crescendo mais rapidamente que no período analisado por eles.”

“Pistoleiro de aluguel”

Sua mudança para a Kraft aconteceu em meio a um agressivo esforço da Associação de Produtores Alimentícios para mudar a percepção sobre o etanol na medida em que o preço dos alimentos dispara. A Associação contratou a Glover Park Group, uma empresa de relações públicas bem contatada em Washington, para ajudar no desenvolvimento de uma estratégia mais eficiente. Scott Faber, lobista para a Associação, não quis comentar o assunto.

O Glover Park Group escreveu em sua proposta para a Associação, “nós devemos apagar qualquer justificativa que ainda exite na elite política para o etanol a base de milho.” Foi também recomendado que fossem identificados e recrutados “terceiros que validassem a opinião

Collins disse não acreditar que sua contratação foi parte de uma campanha anti-etanol. Ao contrário, disse, ele foi apenas questionado pela Kraft Foods por seus pensamentos sobre o impacto do biocombustível, e escreveu sua análise de 34 páginas.

Ele também notou que a guinada no debate sobre o etanol está muito mais relacionada com o aumento do preço dos alimentos do que com os estrategistas em relações públicas e os seus comentários.

“A alta nos preços é o fator dominante,” disse Collins. “Sem isso, esta coalizão jamais teria chegado aonde chegou.”

Banner Revistas Mobile