O grupo Noble, de Hong Kong, inconformado com a recusa da oferta de compra feita à Agrenco no dia 8 de julho, decidiu enviar ontem uma carta à Bovespa para esclarecer os termos e as condições da sua proposta. No Brasil há quatro anos, a empresa quer entender por que não conseguiu levar a negociação adiante, já que estava disposta a pagar um preço mais alto que a Louis Dreyfus Commodities (LDC), e a oferta era estendida aos minoritários.
A Agrenco iniciou negociações com a Dreyfus no dia 24 de junho, quatro dias após a prisão de três dos principais acionistas da Agrenco pela Polícia Federal. Pelo acordo, a Dreyfus pagaria R$ 0,86 por ação e exigira a ausência de oferta pública. Em fato relevante divulgado ontem, foi feita uma alteração nesse último termo. A proposta da Dreyfus passou a ser estendida aos minoritários, assim como já oferecia a Noble.
Na quarta-feira, a Agrenco comunicou o mercado a preferência pela Dreyfus. A justificativa era que a oferta da Noble era similar: a soma da proposta concorrente mais a multa pela quebra do acordo. Diante do fato relevante, o grupo de Hong Kong disse que estava disposto a pagar a multa, além dos R$ 1,03 por ação prometidos no começo. Todas as cartas também foram enviadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Os ativos da Agrenco são estratégicos para a Noble. Por isso a disposição em oferecer mais pelo negócio. A subsidiária brasileira é um negócio promissor para o grupo. Fatura US$ 1 bilhão (no mundo, a receita é de US$ 44 bilhões), tem armazéns e usinas de álcool e açúcar, está construindo um terminal nos portos de Santos e no Maranhão e é sócia em uma empresa de mineração.
O próximo passo era comprar ou construir usinas de esmagamento e processamento de soja, exatamente o que a Agrenco tem para oferecer.
Antes de fazer a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), a Agrenco tomou um empréstimo de US$ 150 milhões para investir em três complexos industriais de soja no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. As fábricas pertencem à Agrenco Bioenergia, empresa que tem como sócio o grupo japonês Marubeni.
PRESSA
A Agrenco tem pressa em resolver seu futuro. A empresa está sem capital e acumula uma dívida superior a R$ 1 bilhão. Mesmo antes da prisão de seus acionistas, ela já buscava um sócio para injetar pelo menos US$ 100 milhões na operação.
Ontem, executivos e conselheiros da Agrenco e da Dreyfus passaram a tarde reunidos. Na quarta-feira, a Agrenco comunicou ao mercado que a situação teria um desfecho em dois dias. Ou seja: a Dreyfus deveria decidir entre ficar ou sair do negócio até ontem. Até o fechamento desta edição, nenhuma decisão havia sido tomada.As duas empresas não se entenderam sobre datas. A Dreyfus negou que tivesse prazo. Ontem, depois de ser cobrada pela Bovespa, a Agrenco enviou uma carta de esclarecimento em que se disse surpresa, já que o texto do fato relevante “havia sido expressamente acordado com a LDC”