Um dos mais versáteis pianistas e compositores da história do jazz, o lendário Herbie Hancock, ganhador do Grammy em 2008 de melhor álbum do ano com o disco River: The Joni letters, deu uma lição de vida na coletiva de imprensa realizada na manhã desta segunda-feira em São Paulo. Elogiou os artistas que buscam excelência em vez de fama e dinheiro, discursou em defesa do meio ambiente e defendeu a inovação, seja na arte ou na política. O artista, que faz shows em São Paulo e no Rio nesta semana, perdeu as contas do número de vezes em que já esteve no Brasil – “7 ou 8 vezes” – a primeira delas há 40 anos, em sua lua-de-mel, quando conheceu Milton Nascimento, com quem desenvolveu uma duradoura parceria.
“Os brasileiros amam música e a história do jazz é inerente à história da música brasileira. Vou apresentar minhas músicas do disco novo, além de clássicos com novos arranjos. Estou trazendo uma excelente cantora, além de um guitarrista africano que o público vai adorar. Estou ansioso para tocar no Brasil”, disse Hancock, contando que chegou a São Paulo na manhã de domingo, após 20 horas de viagem.
O músico elogiou muito os avanços brasileiros na utilização dos biocombustíveis. “Sei também que vocês tem petróleo e não precisam comprar do Oriente Médio. Talvez um dia, com as novas descobertas, vocês vendam petróleo para os Estados Unidos. Mas nós nos EUA não temos etanol. Espero que algum dia cheguemos lá. Queria ver o dia em que o hidrogênio seja usado como fonte de energia”, disse. “Você não estão olhando apenas para um músico. Estão vendo um homem de 68 anos que se importa com mundo. Um homem muito diferente do que esteve no Brasil há 40 anos, que queria se divertir, aproveitar a lua-de-mel e conhecer a música brasileira”, lembrou.
Herbie Hancock disse que enlouqueceu na época ao ouvir Milton Nascimento tocar e cantar.
“Eram músicas tão maravilhosas e de tanta sensibilidade. Eu não entendia as letras, mas imaginava sua beleza. Foi o começo de uma relação muito longa com Milton e com o Brasil. De muitas maneiras se pode dizer que Milton captura a alma do Brasil, assim como Tom Jobim, que também tive a chance de conhecer”, disse o pianista, acrescentando que a harmonia e a sensibilidade da música brasileira o influenciaram.
Entusiasmado, o músico disse que o jazz tem um valor infinito, pois tem a ver com a liberdade do ser humano. “Os músicos improvisam e compartilham, em vez de competir entre si. Não entramos nesta carreira para ser famosos ou ganhar dinheiro. Fazemos porque gostamos”.
Sobre vencer o Grammy de melhor álbum do ano, Herbie Hancock se disse surpreso até mesmo de ter sido indicado ao prêmio.
“Até ser nomeado foi surpreendente. Ninguém imaginou que eu tivesse qualquer chance de ganhar. Quando disseram meu nome, ouvi, mas não registrei. Instantes depois caiu a ficha. Olhei para meu produtor e ele estava tão atônito quanto eu. Foi um momento surreal. Quando subi no palco, senti que não estava sozinho, que representava a todos que buscam a excelência. Hoje em dia as pessoas se importam mais com a fama e a fortuna, mais pelo que podem tirar da arte do que com o que podem doar. Lembrei das lições de Miles Davis, com quem tive a honra de trabalhar por cinco anos”, disse, emocionado.