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Produção de alimentos no país excede consumo em 30%

A inflação dos alimentos já se tornou uma dor de cabeça em todo o mundo, afetando inclusive grandes produtores agrícolas como o Brasil. Entretanto, mesmo com o aumento da produção de etanol, não deve faltar comida na mesa do brasileiro.

O economista Guilherme Dias, professor da economia agrícola da Universidade de São Paulo (USP), diz que o Brasil hoje produz 30% mais do que precisa para alimentar sua população, que está consumindo mais alimentos. Ou seja: o país tem um excedente para exportar, sem problemas de desabastecimento.

O Brasil é o maior exportador mundial de café, frango, suco de laranja e açúcar, segundo a Confederação Nacional de Agricultura (CNA). Nos últimos 25 anos, a colheita de milho cresceu 136% e a de soja, 353%.

Mais variedade

Rita de Cássia Monteiro faz parte do grupo de brasileiros que teve aumento de renda e passou a consumir mais alimentos. Ela ganhava R$ 800 por mês como empregada doméstica, há dois anos. Agora, trabalhando como esteticista, recebe R$ 1,3 mil.

“Antes era bem o básico mesmo. Eu gastava um valor de R$ 190, mais ou menos”, conta Rita. “Agora hoje mudou, porque eu gasto mais ou menos uns R$ 400, R$ 450. E assim melhorou bastante. Eu compro mais coisas: carne, verdura, legumes”, conta.

Por isso, o equilíbrio entre a indústria de biocombustíveis e o aumento da oferta de alimentos se tornou um desafio. Mas o Brasil tem provado que é possível alcançar ao mesmo tempo dois objetivos que em muitos países são objetivos incompatíveis: aumentar a produção de biocombustível e aumentar também a produção de alimentos.

Etanol

E a principal explicação para isso é esta planta aqui, altamente produtiva: a cana-de-açúcar. O etanol de cana produz 7 mil litros por hectare, quase duas vezes mais que o milho (3,8 mil litros por hectare), fabricado nos EUA. A informação é da Unica, entidade que reúne os produtores de álcool e açúcar.

A venda de álcool combustível acaba de se igualar à de gasolina. A aposentada Magali Lemos, por exemplo, comprou um carro flex e sentiu a diferença de preço. “Temos aí grandes usinas no Brasil que não tem como acabar o álcool”, diz ela.

O cientista Rogério Cerqueira Leite, físico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lembra que a cana no Brasil é resultado de quase cinco séculos de aperfeiçoamento. “A cana é realmente uma graça divina. Ela chegou já no limite da possibilidade de aproveitamento da energia solar. Nos cálculos que fizemos mostram que a cana está já no auge da sua produtividade.”

Ao contrário do que muita gente pensa, o Brasil não é um imenso canavial. Segundo Marcos Jank, presidente da Unica, a cana-de-açúcar ocupa apenas 1% das terras agriculturáveis do Brasil. “(O espaço) é sete vezes menor que a soja e 5% da área de pastagens.”

Área agrícola

E a área agrícola pode crescer muito mais, sem pôr a Amazônia em risco. Basta ampliar o confinamento de gado. Um boi no Brasil usa em média um hectare de pasto, um quadrado de 100 metros por 100 metros.

O economista da USP manda um recado ao governo e aos pecuaristas. “O país ganha muito mais se essa área for incorporada no sustento de lavouras. E essa é uma decisão interna, política”, diz Guilherme Dias.

Outro desafio é manter os preços baixos. O Brasil não está imune à inflação mundial nos alimentos.”O feijão subiu bastante, o óleo, a farinha também subiu bastante, porque o pãozinho está subindo bastante também e o arroz também”, diz a esteticista Rita de Cássia.

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