A safra de cana-de-açúcar começou esta semana na região de Ribeirão Preto e, apesar da drástica redução das margens de lucro apresentadas no ano passado, as fábricas paulistas terão crescimento. Mas, enquanto algumas unidades anunciam até recordes de produção, outras decidiram conter investimentos.
Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a safra 2007/08 na região Centro-Sul apresentou processamento de 431,053 milhões de toneladas cana, volume 15,64% superior em relação aos 372,7 milhões de toneladas do ciclo anterior. “Como o aumento de produção foi expressivo e houve volatilidade no mercado, os preços de açúcar e álcool caíram muito”, disse o representante da Unica em Ribeirão Preto, Sérgio Prado.
De acordo com o pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Sérgio Torquato, o cenário de preços não deve melhorar muito em 2008. Mas, mesmo com as perspectivas, o setor deve promover nova safra recorde.
A Unica ainda não divulgou previsões para o ciclo 08/09 no Centro Sul, mas o IEA estima crescimento de 8% na produção de cana em São Paulo. Para a entidade, o estado produzirá aproximadamente 354 milhões de toneladas contra 327 milhões na temporada anterior.
Investimentos mantidos
A Santelisa Vale decidiu manter os investimentos previstos. “Mesmo diante de um cenário não tão favorável no último ano, acreditamos no potencial do setor, principalmente pela procura cada vez maior por soluções em energia limpa e renovável”, afirma Anselmo Lopes Rodrigues, CEO do Grupo.
As cinco usinas do Grupo em operação – Santa Elisa, Vale do Rosário, Jardest, MB e Continental – deverão processar 18 milhões de toneladas de cana, o que representa crescimento de 8% em relação ao ano anterior, quando a empresa produziu 16,5 milhões de toneladas.
O Grupo Moema vai aumentar a produção de álcool nessa safra – a companhia controla as usinas Ouroeste, Itapagipe, Guariroba, Frutal, Usina Vertente e Moema. Já o Grupo Balbo decidiu adiar os investimentos programados pelo plano estratégico: tem projeto para aumentar a produção canavieira em 500 mil toneladas, mas não vai iniciá-lo imediatamente. (Luiz Adolfo, especial para A Cidade)
Setor aposta em mercado futuro para venda externa
Segundo o pesquisador do IEA, Sérgio Torquato, o crescimento previsto, se consolidado, confirmará uma expectativa inesperada diante das perspectivas feitas no ano passado. Para ele, os usineiros que decidiram aumentar produção estão investindo em um mercado futuro para exportações.
As perspectivas para o mercado externo apontam para o longo prazo. “Vão acontecer quando Estados Unidos e Europa abrirem seus mercados para misturas de etanol à gasolina. Isso também vai ajudar a normalizar a situação de preços”, explica o diretor industrial do Grupo Balbo, Jairo Balbo.
Segundo a Unica, embora esses mercados já tenham demonstrado interesse na mistura, a situação ainda vai demorar para se consolidar. O primeiro sinal foi dado pelo Japão, que aprovou recentemente mistura de 13% de etanol à gasolina – mas a medida é facultativa, o que não garante o mercado. “Mas mesmo que demore, há uma grande expectativa que o mercado externo deslanche”, confirma Torquato. (LA)