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CNA estima avanço de 5,8% no PIB do agronegócio em 2008

Às vésperas de uma nova renegociação das dívidas rurais, estimadas em R$ 40 bilhões, a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) anunciou a inauguração de um ciclo de resultados positivos no campo brasileiro. O PIB do agronegócio, que reúne todos os elos do setor, surpreendeu ao registrar variação nominal de 7,89% em 2007, o faturamento (VBP) da agropecuária cresceu 24% e as riquezas geradas pelo campo elevaram em 0,7 ponto percentual sua fatia no PIB total brasileiro após três anos em queda livre.

Os bons resultados devem seguir em 2008. A CNA estima um avanço de 5,8% no PIB do agronegócio neste ano. “Recuperamos as perdas dos últimos dois anos e a situação deve ser ainda melhor em 2008 “, resumiu o superintendente técnico da CNA, Ricardo Cotta.

O setor, que havia perdido R$ 23,6 bilhões entre 2004 e 2006, recuperou os prejuízos em dobro: foram R$ 48,2 bilhões adicionais na comparação com 2006, segundo a pesquisa conjunta CNA/Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-USP). Mas a bonança está condicionada à nova combinação entre safra “cheia”, sem quebras e alta produtividade; demanda em alta; e preços nos atuais níveis. “A demanda deve continuar aquecida pela China, mas a fuga dos fundos de hedge das commodities preocupa”.

O crescimento do PIB do agronegócio no ano passado, que atingiu o recorde histórico de R$ 611,8 bilhões, foi o segundo maior da série iniciada em 1995. Só perdeu para os 8,81% registrados em 2002. “Prevíamos 5% a 5,5%, mas fomos surpreendidos”, disse Cotta. O valor bruto da produção agropecuária somou R$ 263,12 bilhões e a fatia no PIB global saltou de 22,4% para 23,1% – o auge segue sendo o índice de 25,7% registrado em 2003.

Mesmo com a exuberância do setor, a CNA insiste em fazer algumas ressalvas e ponderações. A rentabilidade, segundo Ricardo Cotta, apenas começou sua recuperação. A soja do Centro-Oeste, por exemplo, obteve 2% de rentabilidade em 2007, a primeira recuperação desde 2004 – em 2006, o prejuízo havia batido em 6%.

O milho também recuperou a margem, chegando a 5% no ano passado. “Mas os produtores venderam 70% da safra a preços médios abaixo dos picos registrados neste ano”, disse a economista da CNA, Rosemeire dos Santos.

Além disso, houve forte elevação nos preços dos fertilizantes devido à euforia com cana e milho, escassez de crédito agrícola no início da safra e demora para liberação dos recursos. “A renda efetiva foi baixa, insuficiente para honrar todos os passivos antigos. Dá para pagar a [dívida de] securitização, mas não os investimentos”, avaliou Ricardo Cotta.

Os dados da CNA mostram que o bom resultado do campo foi puxado pelo setor primário (12,2%) do agronegócio, mas prejudicado pela indústria, sobretudo de açúcar (-36%), calçados (-4,6%), celulose (3,1%) e têxtil (2,4%). A indústria, que cresceu 4,3% em 2007 em seu conjunto, responde por 32,5% da composição do PIB do agronegócio e o setor primário, por 24,5%. Mas o segmento mais beneficiado pela onda de valorização das commodities foi o subsetor de insumos. A variação positiva somou expressivos 13% em 2007. A distribuição avançou 6,8%.