A crise econômica dos EUA poderá fazer os americanos consumirem mais etanol (ou álcool) da cana-de-açúcar. A avaliação é do economista Edgard Monforte Merlo, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da USP de Ribeirão Preto.
Segundo Merlo, a recessão obrigará o consumidor americano a reduzir as despesas pessoais, o que inclui o combustível dos carros. Atualmente, o barril de petróleo está com cotação em alta, beira os US$ 100 e força o preço da gasolina a subir nas bombas dos postos.
Aí é que entra o etanol. O derivado da cana-de-açúcar poderia ser adicionado como aditivo ao combustível, e como custa bem menos do que a gasolina, forçaria a diminuição do preço do litro.
O governo dos EUA já oficializou a adição de etanol à gasolina. Em lei assinada em dezembro do ano passado, o presidente George W. Bush sinaliza um teto para a produção do biocombustível à base do milho – principal matéria-prima dos produtores americanos -, mas estipula metas ambiciosas para o uso de outros tipos de matérias-primas para o etanol, como a cana e a celulose, até 2015. O objetivo do governo é chegar a 36 bilhões de galões (de 3,6 litros cada) por ano em 2022.
No lugar do MTBE
Hoje, a gasolina que roda nas rodovias americanas utiliza como oxigenante o Metil tert-Butil Éter (MTBE), na proporção de 10% por litro. Esse aditivo também é derivado do petróleo, portanto tem custo elevado, e representa por ano perto de 10 bilhões de litros de etanol carburante, praticamente todo ele feito a partir do milho. E é esse montante que o álcool da cana poderá vir a substituir. (Delcy Mac Cruz)
Brasil enfrenta lobby e barreiras tarifárias
Edgard Merlo, da FEA da USP de RP, sinaliza o crescimento do mercado para o etanol brasileiro nos EUA, mas alerta: há muitas barreiras para que o derivado da cana passe pela fronteira americana.
Uma dessas barreiras é a tarifária: cada litro de etanol brasileiro paga o equivalente a R$ 0,245 de tarifa. Outro empecilho é o lobby dos produtores locais de etanol do milho.
Uma saída, conforme o economista da USP, é o Brasil firmar parcerias de produção de etanol com países da América Central, porque eles têm isenção tarifária para entrar nos EUA. “Por isso é muito importante as visitas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz a esses países”, diz. Entre outros países, Lula já esteve na Guatemala e na Nicarágua. (DMC)