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Produtores apostam na cana contra apagão

A produção de energia elétrica a partir do bagaço de cana, segundo diferentes representantes do setor sucroalcooleiro, pode ser uma boa alternativa para diminuir a dependência do País em relação às hidrelétricas. As usinas, no entanto, pedem incentivos fiscais e melhoria na legislação, para que esse tipo de produção aumente.

Nos últimos dias, por causa da redução do nível dos reservatórios de água, a segurança no abastecimento de energia vem sendo questionada, com especialistas apontando a possibilidade de novo apagão energético.

“Enquanto uma nova hidrelétrica demora cerca de sete anos para ser implantada, um projeto de cogeração pode ser realizado em dois anos”, disse Berilo Bezerra, gerente comercial da Koblitz, empresa especializada em projetos de integração de sistemas de energia e geração elétrica. “Não podemos ficar aguardando a indefinição no nível de chuvas ou da produção do gás.”

No ano passado, a empresa desenvolveu projeto de cogeração para três unidades na região que entraram em operação, com capacidade de gerar 20 megawatts (MW), dos quais 8 MW serão excedentes. Com o aumento de produção, a geração poderá chegar aos 150 MW.

Outras seis usinas, em funcionamento, também adaptaram suas instalações para venderem energia ao Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), com capacidade total de 120 MW.

Em 2006, segundo levantamento da Associação Paulista de Cogeração de Energia, 23 usinas na região de São José do Rio Preto, SP, estavam autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a produzir energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar.

De acordo com a CPFL Brasil, no entanto, do total de energia elétrica comprada pela empresa, apenas 6% provêm de usinas de açúcar e álcool, sendo que 5% desta quantia é obtido em uma usina de Olímpia, SP.

“Atualmente, 85% do abastecimento de energia está na mão de Deus, por causa da nossa grande dependência das hidrelétricas e regime de chuvas”, disse Onório Kitayama, assessor da área de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Ele não quis arriscar se o País deve sofrer com um apagão nos próximos anos, mas afirmou que somente a produção a partir de biomassa da cana é uma alternativa segura. “O governo tem discutido com o setor sucroalcooleiro formas de contribuir para o aumento da produção. Queremos incentivos fiscais para a troca de caldeiras em usinas mais antigas e que sejam resolvidos os problemas de conexão”, disse.

Até agora, pela legislação do setor, não se sabe certamente de quem é a responsabilidade de fazer a conexão das usinas até as redes de distribuição, se do governo, geradoras ou distribuidoras. Como o investimento é elevado, e depende da distância da unidade geradora à rede, projeotos para o setor estão praticamente suspensos.

A Secretaria de Energia do Estado de São Paulo também sinaliza favoravelmente à cogeração e promete dar incentivos fiscais às usinas. Com o aumento da produção e da venda de energia, o governo estadual espera ampliar a arrecadação. “Vamos ajudar a Secretaria de Energia em um estudo para avaliar o potencial de produção das usinas paulistas e duplicar até 2010 a produção de bioenergia”, disse Ricardo Ramos, do Núcleo de Planejamento Energético e Cogeração de Energia, da Unesp de Ilha Solteira.

O presidente da Associação dos Produtores de Açúcar, Álcool e Energia da Região de Catanduva (Biocana), Luciano Sanches, apesar de também cobrar financiamento ou incentivos fiscais para as usinas que precisam trocar de caldeira e apontar como entrave do setor o problema de conexão, aponta a possibilidade de crescimento na produção de energia pelas usinas sucroalcooleiras. “Para abril deste ano está, marcado um leilão exclusivo para a aquisição de energia nova a partir da biomassa de cana. Esperamos que os preços sejam bons”. (Fernando Campos)