Mercado

O Brasil se prepara para liderar em biomassa

O Brasil se prepara para dar um salto de produção de uma biomassa ainda pouco utilizada no País, mas com uma demanda mundial crescente. Com pelo menos 35 projetos em andamento, e geração de energia por meio de pellets -partículas de resíduos agrícolas ou agroflorestais compactados-, o Brasil poderá sair de uma produção ainda incipiente para se tornar um dos maiores fornecedores mundiais dessa matéria-prima.

“Hoje o Brasil nem aparece na lista de produtores, mas nos próximos anos deve se posicionar como grande líder e se tornar um referencial”, afirma o gerente da Andritz Sprout no Brasil, Eduardo Soffione. Com fábricas nos Estados Unidos, na Holanda, Dinamarca, China e Eslováquia, a empresa detém mais de 50% do mercado mundial de biomassa, produzindo anualmente combustível neutro em CO2 equivalente a 3 milhões de toneladas de óleo e gás.

Em 2007, o faturamento da empresa, que também atua no segmento de ração animal e linha pet, deve superar a marca de 150 milhões de euros registrada no ano passado. Deste montante, cerca de 50 milhões de euros são resultado do desempenho no setor de biomassa. Atuando nesse segmento há apenas um ano e meio, a empresa já vendeu cerca de 500 máquinas. Entre os clientes da Andritz Sprout destacam-se várias companhias ligadas ao agronegócio, como a Sadia, Perdigão, Cargill e Itambé.

Com apenas três empresas atuando no setor atualmente, o Brasil ainda não é contabilizado nas vendas globais de pellets, mas segundo Soffione a partir do ano próximo ano o País deve representar cerca de 30% dos negócios em biomassa da empresa.

“Em novembro de 2008 o Brasil vai começar a exportar quantidades expressivas de pellets para a Europa. Hoje as três empresas somadas produzem 1 mil toneladas por mês; no ano que vem podemos chegar a 40 mil toneladas por mês”, diz Soffione.

Essa semana a empresa está lançando, durante o Global Bioenergy Américas 2007, mais uma peletizadora cujo diferencial é a economia de energia, correspondendo de 2,5% a 3% do conteúdo energético da madeira em processo. Um dos diferenciais do mercado brasileiro é a disponibilidade de resíduo agrícola, enquanto na maioria dos países fornecedores a produção é concentrada apenas na formação do pellet a partir da madeira.

Consumo mundial

Hoje o consumo mundial de pellets é de cerca de 7 milhões de toneladas por ano e, segundo a previsão de Soffione, no próximo ano esse consumo pode chegar a 10 milhões de toneladas e a 15 milhões de toneladas já em 2010.

Outra empresa brasileira que também aposta no crescimento do consumo de pellet é a Eafe. Com mais de 25 anos de atividade em engenharia de projetos e serviços, há um ano e meio a empresa passou a investir em biomassa, buscando atuar em todos os nichos desse segmento: do projeto das usinas à comercialização de crédito de carbono.

“Acredito que dentro de três anos esse segmento vai representar no mínimo 25% do faturamento da empresa”, ressalta o diretor comercial da Eafe, Ricardo Brunelli.

Segundo ele, a demanda por energia deve garantir os bons resultados. “Muitas empresas de grande porte não podem depender só do Estado para gerar a produção que elas necessitam”, avalia o executivo.

Biodisel

A Storck Biodiesel, empresa que produz usinas modulares para a produção de biodiesel já opera no mercado de automação há 20 anos e, apesar de ser uma das líderes no mercado de injetoras no Brasil, a empresa vinha sofrendo com a forte concorrência dos produtos asiáticos.

“Há um ano e meio entramos no setor de bioenergia. Estamos bastante felizes com o resultado. É um mercado bastante competitivo, mas o custo de produção é mais viável”, ressalta a analista comercial da Storck, Liliana Lavina. Segundo ela, a empresa tem procurado vários frigoríficos e a maioria já têm projetos de usinas.

Para o coordenador administrativo da Comanche Clean Energy, Leonardo Copello, o mercado de biocombustíveis é novo e o biodiesel em particular tem de verticalizar a produção. “É um negócio novo, temos de criar know-how na área agrícola”, afirma Copello.

No último leilão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a companhia foi uma das 11 usinas que conseguiram vender o produto, entre as 27 que participaram do leilão. Ocupando a sexta posição em vendas no leilão, a participação da Comanche foi de 5% com um volume de 20 milhões de litros.

Em dezembro, a ANP realizará mais dois leilões destinados ao mercado que busca misturas acima de 2%. Uma das razões apontadas é a demanda de fábricas que demandam por adições mais elevadas para atender sua frota própria.

Agora a empresa se prepara para expandir sua planta na Bahia, ampliando a capacidade instalada de produção de 50 milhões de litros por ano para 100 milhões de litros em 2008, visando atender a demanda de B2 e o mercado externo. “Nossa usina possui uma localização estratégica, próxima do porto o que facilita as exportações”, afirma Copello.