Mercado

Empuxe à indústria naval

Além do impacto que já se observa e que deverá ser cada vez mais acentuado sobre a matriz energética brasileira, a produção nacional de álcool, biodiesel e biocombustíveis de modo geral está destinada a ter grandes efeitos multiplicadores sobre a economia e, em decorrência, sobre os níveis de emprego. Vêm à mente, de imediato, as repercussões muito positivas sobre a agroindústria, irrigando as cabeceiras, como se diz. Mas esta é apenas uma faceta do novo ciclo de expansão que o álcool deve desencadear nos mercados interno e externo.

Entre os setores que serão dinamizados, destaca-se a indústria de construção naval instalada no País, que está a caminho de superar um período de duas décadas de estagnação, por falta de encomendas compatíveis com a sua capacidade de produção. O grande empuxe à retomada dessa indústria, que se equipou para o desenvolvimento, é a aprovação neste ano pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de financiamentos no valor de R$ 4,79 bilhões para a construção de 23 navios petroleiros, de um total de 26 grandes embarcações, para cumprimento da primeira fase do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Petrobras Transporte (Transpetro).

Tais investimentos estão incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo governo em janeiro deste ano, que tem sofrido críticas, pela demora na sua implementação, devido à ausência de projetos ou da não aprovação dos existentes no ritmo que seria desejável. No caso, porém, da indústria naval, esse problema não existe, e as encomendas já foram formalizadas ou devem sê-lo nos próximos quatro meses.

A Transpetro, por sinal, já trabalha com a perspectiva de contar com mais 20 petroleiros de grande porte na segunda fase do programa, a ser anunciada no último trimestre de 2007.

Para uma indústria que trabalha sob encomenda, como a indústria naval, é fundamental o planejamento a mais longo prazo para que as empresas se preparem para atendê-las, evitando soluções de continuidade, que podem resultar em adiamento de contratos com fornecedores e em desmobilização de mão-de-obra especializada.

Como o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, informou a este jornal, as negociações quanto ao preço para o fornecimento de aço devem ser concluídas nos próximos meses. Esperar até março de 2008, como pleiteou a Usiminas, única fabricante de aço do tipo de laminado usado pela indústria naval, não será possível, uma vez que os cortes das chapas pelos estaleiros deverão começar em maio do ano que vem.

Compreende-se que a siderúrgica, que se desdobra para atender à demanda em expansão da indústria automotiva, defenda uma dilação do prazo. Mas está correta a decisão da subidiária de logística da Petrobras de optar pela importação de aço, se o fornecedor nacional não se dispuser a fazer a redução solicitada de 50% no preço. Isso porque o programa é importante demais para o País para admitir atraso.

É claro que um acordo entre as partes é sempre possível, de modo que seja viável cumprir a meta de 65% de conteúdo nacional nos petroleiros.

Não podemos deixar de assinalar a importância capital da indústria naval para a economia do Estado do Rio de Janeiro, que é também o principal produtor nacional de petróleo. Isso torna indispensável o aperfeiçoamento de sua estrutura logística, com a eliminação, o quanto antes, de alguns gargalos. Sem dúvida, a retomada terá fortes efeitos sobre o desenvolvimento industrial fluminense, com nítidos reflexos sociais sobre o emprego e sobre o nível de demanda agregada, o que carreará para o estado novas indústrias e contribuirá para ampliação de sua rede diversificada de serviços.

Não se trata, contudo, de uma indústria concentrada em um único pólo. A indústria naval também lançou raízes no Estado de Santa Catarina e deverá estender-se ao Nordeste com a instalação de um estaleiro de porte no complexo industrial e portuário de Suape, no município de Ipojuca (PE). (Fonte: Gazeta Mercantil/InvestNews – São Paulo,SP)