Mercado

Chile quer adicionar etanol à gasolina

O Brasil é indispensável nos planos de interligação de gasodutos no continente, garantiu o ministro da Energia chileno, Marcelo Tokman, em visita ao país para discutir cooperação em biocombustíveis. Ele negou que tenha discutido com o governo da Bolívia, na semana passada, a formação de um “anel energético” entre países andinos, que excluiria o Brasil e daria à Bolívia uma alternativa de exportação de gás. “Houve um problema de interpretação”, argumentou. Tokman veio ao Brasil pedir colaboração com o programa de biocombustível no Chile, que dá ainda seus primeiros passos.

O Chile faz uma consulta popular este ano para mudar as leis locais e permitir a adição de 5% de etanol à gasolina e 5% de biodiesel ao diesel, e pretende concluir em dois meses a regulamentação para a mudança. Até o fim do ano, o governo chileno espera ter conclusões sobre as mudanças necessárias no país para adotar o biocombustível, o que abrirá caminho até para importação, no futuro, de automóveis “flex fuel” do Brasil. Em reuniões com o governo brasileiro, ontem, Tokman sondou as condições para a cooperação entre os dois países no setor

Preocupado com a dependência excessiva da importação de combustíveis fósseis, o Chile quer mudar gradualmente sua matriz energética, comentou o ministro. Hoje, dois terços da energia consumida no Chile dependem de importações: o país importa 99% do petróleo, 80% do carvão e 65% do gás que consome. Com a crise energética também na Argentina, o Chile vem recebendo apenas 500 mil m3 de gás, dos 22 milhões a que teria direito por contrato. Uma das providências para evitar nova crise de fornecimento é o investimento de US$ 1,5 bilhão em duas fábricas de liquefação de gás, no centro e norte do país, que começarão a produzir em 2009.

A notícia de que os chilenos negociariam com a Bolívia um “anel energético”, atribuída a Tokman, provocou interpretações de que essa seria a alternativa encontrada pelos dois países para contornar a dura resistência da população boliviana a qualquer acordo de fornecimento de gás ao Chile. país que tomou dos bolivianos a saída para o mar, na chamada Guerra do Pacífico. “Se há um tema sobre o qual não falamos é gás”, garante o ministro, ao comentar seu encontro com o ministro de Hidrocarbonetos boliviano, Carlos Villegas.

Tokman afirma ter discutido a formação de um anel transmissão de energia elétrica, “do qual participa o Brasil”, inspirado, segundo o ministro, na proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de interligação de linhas de transmissão elétrica no continente. A discussão sobre interligação de gasodutos prossegue nas negociações para criação do chamado gasoduto do Sul, afirma Tokman.

Antes de avançar com planos de integração, porém, será necessário firmar algum tratado energético, capaz de assegurar estabilidade para investidores e consumidores na região, adiantou o ministro.

O Chile está interessado em biocombustíveis, mas não descarta nenhuma alternativa, avisou Tokman. O governo financia uma empresa recém-criada em parceria com o setor privado para pesquisar e explorar o uso de biocombustível a partir de produtos florestais, e está criando incentivos para o uso de alternativas de energia renovável, como usinas eólicas.