Após ver suas ações caírem 10,81% desde o último dia 25, quando anunciou seu plano de internacionalização, a Cosan S/A explicou hoje detalhes da proposta para lançar ações na Bolsa de Nova York e realizar uma operação de permuta de ações (OPA). Segundo ela, não há a intenção de diluir o poder de voto de minoritários ou abrir caminho para sua venda a um grupo estrangeiro, fatores que fizeram com que o mercado reagisse mal ao plano anunciado.
A principal explicação foi dada sobre as ações com direitos de voto diferenciados entre o controlador e os minoritários na Cosan Limited, empresa que será criada nas Bermudas para ser a controladora da Cosan S/A. De acordo com a proposta, as ações dessa nova companhia em poder do controlador, Rubens Ometto, classe B, terão direito a 10 votos, enquanto aquelas em mãos dos minoritários, terão direito a apenas 1 voto. Este superpoder é considerado incômodo para o mercado.
Em teleconferência hoje, o vice-presidente financeiro da empresa, Paulo Diniz, afirmou que essa diferença no poder de voto não altera nada na Cosan S/A, já que é válida apenas para as ações da companhia que será criada no Caribe. Os direitos dos atuais acionistas (da S/A) não mudam e reterão as mesmas prerrogativas atuais da empresa, que não estão sendo alteradas, disse. Assim, explica, não haverá diluição no poder de voto na empresa no país, a distinção vale apenas para as ações da Cosan Limited.
Segundo o executivo, o que ocorre é que uma nova empresa está sendo criada e nela será concentrado o controle direto da empresa, mantendo a figura do controlador indireto, como já existe hoje na Cosan S/A. Elas, além de não trazerem nenhuma vantagem financeira para o controlador, apenas condições para manter a linha estratégica de administração, também têm seu poder limitado em algumas situações. Isso ocorre em votações sobre assuntos relevantes da Limited, nas quais, explica Diniz, o peso dos votos do controlador e dos minoritários se equipara e se torna um para um. Dentre esses assuntos estão as proteções de tag along discutidas pela empresa.
Isso, porém, não altera o fato de que, na Limited, os votos dos minoritários da S/A que optarem pela migração terão apenas um décimo do poder em relação ao voto do controlador. E, caso haja grande adesão maciça de acionistas da S/A à OPA, ela pode até ter seu capital fechado no país. De acordo com Diniz, a saída do Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) só será avaliada com base na adesão dos minoritários à oferta de migração e ao interesse dos acionistas que permanecerão na S/A.
A estrutura proposta, segundo Diniz, garante que Ometto retenha o comando da empresa mesmo que reduza sua participação para apenas 9,1% do capital da companhia. Atualmente, na S/A, o controlador tem cerca de 62%. Com a captação planejada no lançamento das ações nos EUA, que pode chegar a US$ 2 bilhões, essa fatia deverá ficar entre 30% e 35%.
Diniz afirma, porém, que no caso das ações da Limited, o objetivo da diferenciação no poder de voto é exclusivamente garantir a manutenção do controle e, conseqüentemente, o plano estratégico da empresa em um momento importante em seu processo de expansão. Ele lembra que, caso Ometto decida vender suas ações, elas perdem seus superpoderes e voltam a dar direito a apenas um voto em assembléias.
Outra explicação de Diniz foi sobre a preocupação de alguns investidores de que a operação toda na Cosan fosse apenas um preâmbulo para a venda do controle da companhia para um grupo estrangeiro. Segundo ele, não há nenhum interesse na venda da empresa, mas apenas de criar condições para que ela possa ter mais acesso a oportunidades de negócio e expansão no mercado internacional.
A Cosan Limited foi criada para ser o veículo de expressão internacional da empresa, permitindo que ela seja mais rápida e ágil nos mercados internacionais e se beneficie de custos mais competitivos e de um ambiente fiscal mais eficiente, diz. Não para mudar o controle.
Durante a teleconferência, dado o período de silêncio de informações em que se encontra, seguindo regra da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o vice-presidente da Cosan se limitou a responder o que classificou como as principais perguntas apresentadas à companhia desde o anúncio do dia 25, e que foram lidas. Não houve espaço para questionamento dos jornalistas e analistas participantes.