Apesar de não fazer parte dos grandes pólos produtores de cana de São Paulo, Piracicaba carrega o produto em seu DNA. É nela que estão instalados os principais institutos de pesquisa voltados para o setor sucroalcooleiro. E esses centros são responsáveis pela utilização das principais variedades de cana plantadas no país. Desde 2004, a cidade sedia o Pólo Nacional de Biocombustíveis.
A expertise tecnológica nas áreas agrícola e industrial da cana colocou Piracicaba no mapa internacional. O “tour da cana”, como é conhecida a visita de empresários nacionais e, sobretudo estrangeiros, às principais regiões produtoras de açúcar e álcool do país, começa pela cidade. “Já fomos visitados por empresários e representantes de universidades de mais de 58 países. A cidade recebe mais de 6 mil pessoas por mês”, diz Luciano Almeida, secretário de Indústria e Comércio da cidade, um dos coordenadores do Arranjo Produtivo Local do Álcool da Região de Piracicaba (Apla), criado para agregar valor tecnológico à cadeia sucroalcooleira e fomentar negócios.
Antes mesmo do álcool ganhar toda sua notoriedade, sobretudo a partir dos anos 70, com a criação do Proálcool, Piracicaba já atuava nos bastidores do setor sucroalcooleiro. Os primeiros passos nesse sentido foram dados pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP).
A centenária instituição é responsável por várias colaborações, não somente para cana, mas também para outras culturas agrícola. Fundada em 1901, a Esalq é definida como uma ilha cercada de cana, segundo o coordenador da universidade, Antonio Roque Dechen. “Luiz de Queiroz idealizou a Esalq para ser um centro de referência em algodão no final do século 19, mas a universidade tornou-se referência para outras culturas, como café e cana no início do século 20”, lembra. “Não é nenhum exagero dizer que Piracicaba é a mentora intelectual da cana.”
A Esalq foi responsável por pesquisas pioneiras de utilização do solo para a cana e pelo destino dado para a vinhaça (subproduto da cana), que era largamente abandonado nos rios. Esse subproduto passou a ser aproveitado como nutriente para ração animal. Da universidade saíram várias “celebridades”, como o ex-ministros da Agricultura Roberto Rodrigues e Luiz Carlos Guedes Pinto.
Outra referência para o setor sucroalcooleiro é o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que pertencia à Copersucar. O CTC foi responsável pelo lançamento de boa parte das variedades de cana plantadas no centro-sul do país a partir da criação do Proálcool. Segundo Tadeu Andrade, diretor de pesquisa e desenvolvimento do CTC, novas variedades da matéria-prima mais produtivas e resistentes a doenças estão para sair do forno a partir deste segundo semestre.
Além da expertise agrícola, a cidade é apontada como um grande pólo industrial para o setor. A Dedini Indústria de Base, com três unidades na cidade, entrega usinas inteiras de açúcar e álcool, os projetos “chave na mão”, e conta com uma lista de espera de mais de um ano. Com o boom do etanol, há cerca de 100 novos projetos em andamento. E a Dedini não trabalha sozinha. A região de Piracicaba conta com mais de 100 empresas que fornecem equipamentos e peças para ela.