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Campo terá nova geografia na próxima década

Estudo da Céleres mostra que Centro-Oeste se fortalece na produção de aves e suínos. Uma nova geografia de produção se desenha para o País nos próximos 10 anos. Estudo exclusivo da Céleres mostra que o Centro-Oeste se fortalecerá na produção de aves e suínos, impulsionado pela maior participação na safra nacional de soja e o Sul será o maior responsável pela exportação de milho – que superará a quantidade colhida na safrinha. Na próxima década, a cana-de-açúcar avançará em Minas Gerais e Goiás, a Bahia será um importante pólo cotonicultor e a região conhecida como “Mapito” – compreendida pelos estados do Maranhão, Piauí e Tocantins – se consolidará como nova fronteira agrícola, quintuplicando a produção de soja.

“O cenário está aquecido pela demanda por commodities e o Brasil tem muito potencial”, diz Anderson Galvão, diretor da Céleres. Segundo ele, a demanda externa vai direcionar o aumento da oferta de grãos e carnes do País. No entanto, segundo ele, a logística e o câmbio podem fazer com que a taxa de crescimento da oferta brasileira seja inferior à demanda potencial, abrindo espaço para outros concorrentes. As projeções foram feitas com uma taxa cambial de R$ 2 a R$ 2,10 – embora atualmente esteja abaixo disso. Galvão diz que a África tende a crescer no cenário do agronegócio mundial.

Nos próximos 10 anos, a Céleres projeta a intensificação da produção de aves e suínos no Centro-Oeste. Hoje, a região responde por 13% do abate de aves e 14% do de suínos. Em 2017 serão 20% e 37%, respectivamente. Pelas perspectivas da consultoria o consumo mundial destas proteínas crescerá a taxas anuais de 3% e 2%, respectivamente, enquanto a oferta brasileira tende a aumentar 3,7% e 5,3% por ano. “Haverá um adensamento da produção de soja no Centro-Oeste, com o crescimento da produção de farelo e o fortalecimento da indústria de carnes”, afirma Fábio Silveira, economista da RC Consultores, ao avaliar as perspectivas do agronegócio até 2020.

Pelas projeções da Céleres, o Centro-Oeste responderá por 54,4% da produção de soja – que será de 116,1 milhões de toneladas – um aumento de quase 10 pontos percentuais em relação aos números atuais. A participação do Sul diminuirá e do Nordeste aumentará. “No Sul, a tendência é o produtor deixar a soja pelo milho para atender o mercado de carnes e também para as exportações”, diz Galvão. Pelas estimativas da consultoria, em 2017 o Brasil exportará mais milho que a produção total da safrinha: 23 milhões de toneladas. Silveira lembra que o cenário mundial é de escassez do produto, devido à demanda por etanol. A produção de milho nas duas colheitas somará 76 milhões de toneladas – aumento de 58% em 10 anos. Segundo a consultoria, o Centro-Oeste responderá por 60% da safrinha e o Sul “se especializará” na primeira colheita do grão. De acordo com a empresa, no período, a demanda mundial por soja cresce 2,4% ao ano e a de milho, 2,1%. As estimativas da RC Consultores projetam 20% da produção brasileira de soja será para biodiesel.

A Céleres projeta um aumento da produção de soja na nova fronteira agrícola do País, o “Mapito”, que quintuplicaria, somando 10 milhões em 2017. A empresa também prevê uma nova fronteira de cana-de-açúcar com o avanço do produto no Sudoeste de Goiás e em Minas Gerais. E, diante deste cenário, os grãos teriam de ocupar áreas de pastagens nestes estados. No entanto, segundo ele, a “cana não espantará a soja, uma vez que o grão será a principal cultura de rotação”.

A Céleres prevê que a Bahia aumentará em três vezes sua produção de algodão, superando 1 milhão de toneladas de pluma, transformando-se em “um novo pólo de cotonicultura”.

O economista Gervásio Castro Rezende, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma que fatalmente a agroenergia será a matriz do setor no País. No entanto, segundo ele, na próxima década o agronegócio precisará mudar o seu sistema de financiamento – o modelo atual é de 1965. Em sua avaliação, o setor vai ter de buscar recursos no mercado de capitais e em fundos de recebíveis. “O campo não pode ficar esperando que o governo o financie”, acredita Rezende. Ele lembra que a agroenergia demanda muitos investimentos e que tem um fator de risco grande.