Lula diz que Amazônia não será usada na produção de biocombustíveis, os quais popularizariam acesso global a fontes de energia
Em sua primeira visita à sede da UE (União Européia), em Bruxelas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez tudo para convencer os europeus dos méritos dos biocombustíveis. Mas, apesar do interesse europeu, a tarefa não foi fácil. O comissário para o Comércio da UE, Peter Mandelson, fez algumas exigências ambientais.
Na abertura de seu discurso na Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, organizada pela Comissão Européia, Lula afirmou que apostar no álcool e no biodiesel brasileiros garante segurança energética sem causar desequilíbrio ambiental e social. “A fome no Brasil diminuiu no mesmo período em que aumentou o uso de biocombustíveis”, afirmou.
O presidente brasileiro, convidado de honra da conferência, disse que o plantio de cana-de-açúcar no país não comprometeu a produção de alimentos e está bem distante da Amazônia. Em resposta aos temores de que a região possa ser desmatada com o aumento da produção de biocombustíveis, Lula rejeitou a idéia.
À platéia, formada por ministros, empresários e ONGs do mundo inteiro, ele disse que, se a Amazônia fosse apropriada para o cultivo da cana-de-açúcar, os portugueses já teriam feito isto há séculos atrás.
O anfitrião do evento e presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso, enfatizou que os biocombustíveis devem ser desenvolvidos de maneira que “protejam o planeta e que não criem novos problemas”. Mandelson especificou que os biocombustíveis devem ser produzidos em áreas onde o potencial agrícola ainda não foi plenamente utilizado. “Nós temos que usar os biocombustíveis mais eficientes para reduzir o impacto total das emissões de gás carbônico”, disse o britânico.
Esse impacto depende do método de produção, da natureza do biocombustível produzido e também do transporte ao mercado.
Certificação
O Brasil está desenvolvendo um programa de certificação dos biocombustíveis. Pretende assegurar que toda a cadeia de produção do álcool e do biodiesel no país respeita critérios ambientais, sociais e trabalhistas consagrados nas normais internacionais.
Para o governo brasileiro, a solução está em estabelecer um mercado internacional para o álcool e o biodiesel. Lula declarou que os mesmos governos que reiteram seus compromissos com o desenvolvimento sustentável e com a redução do efeito estufa não podem criar empecilhos para que os biocombustíveis se transformem em commodities globais.
O ministro de Comércio da Suécia, Sten Tolgfors, defendeu a posição brasileira na conferência. Tolgfors criticou o fato de que a tarifa da UE para os biocombustíveis podem chegar até 55% enquanto a tarifa para petróleo é de só 5%.
Na véspera da conferência em Bruxelas, a OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e a FAO (agência da ONU para agricultura e alimentação) fizeram um alerta sobre a produção de biocombustíveis. Em relatório conjunto, as duas organizações afirmaram que o aumento da produção do álcool e do biodiesel vai afetar o preço dos produtos agrícolas básicos.
Na coletiva para a imprensa, o presidente brasileiro disse que o estudo não levou em conta o aumento do preço do barril de petróleo, que passou de US$ 28 para US$ 70. Lula enfatizou que a inclusão dos biocombustíveis na matriz energética internacional vai ajudar a democratizar o acesso à fontes de energia. “Hoje, só 20 países produzem energia. Com a adoção dos biocombustíveis, mais de 100 países poderão produzi-las”, disse. E acrescentou que, “no mais humilde dos países, qualquer um tem a tecnologia e o conhecimento para cavar um buraco de 30 cm e plantar uma planta oleaginosa”.
Outra iniciativa do governo brasileiro será a organização de uma nova Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, em julho de 2008, no Rio de Janeiro.