O Pólo Nacional de Biocombustíveis e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), de São Paulo, firmaram uma parceria ontem para mapear os estimados 5.000 hectares de plantio de cana-de-açúcar em Piracicaba, que poderão ser substituídos no futuro pelo cultivo de outras matérias-primas, destinadas à produção de biocombustíveis. O levantamento será realizado nas áreas não-mecanizáveis, ou seja com declividade acentuada, o que corresponde a 10% dos aproximados 55 mil hectares de cana existentes no município de Piracicaba.
O objetivo do diagnóstico é levantar novas alternativas de matérias-primas para plantio nestas áreas, principalmente de biomassa (matéria de origem vegetal, usada como fonte de energia).“Pensamos em amendoim e soja num primeiro momento”, afirma o coordenador do Pólo, Weber do Amaral. O mapeamento deve começar no segundo semestre deste ano e vai favorecer, principalmente, os pequenos e médios produtores da região. “O intuito é evitar perda de renda dos agricultores”, afirma Amaral.
Hoje, 83% dos fornecedores da região de Piracicaba são pequenos e médios, ou possuem propriedades de até 30 hectares, segundo a Coplacana (Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo). O projeto tem ainda apoio do Apla (Arranjo Produtivo Local do Álcool de Piracicaba) e vai elencar também o perfil dos consumidores das biomassas.
Para Amaral, Piracicaba é um grande centro consumidor de biomassa. “Não só de cana-de-açúcar, mas também florestal. Ainda não sabemos todas as fontes de energia, de onde elas vêm, entre outras informações. Acreditamos que o município não está aproveitando o potencial que possui”, diz o coordenador. “Vamos também descobrir o potencial da cidade para produção de oleaginosas de outras matérias-primas para produção de biodiesel”, conta Amaral.
Ainda segundo ele, a idéia é que Piracicaba continue produzindo cana-de-açúcar em grande escala, mas também biodiesel e biomassa florestal para uso múltiplo. “Esse é o nosso grande desafio”, acredita Amaral. A assinatura da parceria deste, e de outros quatro projetos com o Sebrae, deve ocorrer na semana que vem, em São Paulo (ver matéria nesta página).
ANTECIPAÇÃO – O projeto de “fotografia” das áreas também engloba espaços restritos à queima da cana, como os já estipuladas de até 1.000 metros dentro do perímetro urbano. “Com isso, nós conseguimos nos antecipar às normas e exigências ambientais, bem como a identificar projetos que poderão ser desenvolvidos com os pequenos e médios produtores rurais”, lembra Amaral.
Para ele, estes são os que mais deverão ser afetados pela impossibilidade de queimarem cana-de-açúcar. “Eles precisam se adequar e não possuem outras alternativas”, afirma o coordenador do Pólo. A possibilidade de produção de outras matérias-primas para produção de biocombustíveis, em detrimento à cana-de-açúcar, deve ocorrer também pois ainda não há projetos concretos de máquinas para atuação nestas áreas.
No início do ano, o governador do Estado de São Paulo, José Serra (PSDB), e representantes da indústria canavieira, assinaram um protocolo de intenções que estabeleceu a antecipação do fim da queima da palha de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo. Foi estipulado o fim da queima em 2014, para áreas mecanizáveis, e 2017 para as não-mecanizáveis.
Amaral afirma que nos próximos dois anos não haverá um cenário muito bom para a produção de cana-de-açúcar, já que os preços devem cair devido à superprodução de álcool e etanol. “Teremos que aguentar os períodos de instabilidade de preços mais baixos para que os pequenos e médios atores não sejam prejudicados. Quanto mais alternativas eles tiverem, melhor para todos.”