Na onda da energia limpa Estimulado pelo aumento dos preços do açúcar no mercado internacional e principalmente pela maior demanda de álcool combustível, o setor apresentou um crescimento de 7,9% em 2006, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É mais que o dobro da média nacional. Em 2007, de acordo com estimativas dos especialistas, a produção de álcool poderá crescer bem mais que isso. Há quem fale em 20%. Os motivos: a crescente preocupação com os efeitos negativos do petróleo no aquecimento global e o aumento da procura mundial pelo etanol. Grandes investidores mundiais estão de olho no álcool brasileiro. Só o bilionário de origem húngara George Soros anunciou recentemente investimentos de US$ 900 milhões em projetos ligados ao álcool no Brasil. “O etanol é uma alternativa atraente”, diz Soros.
As principais vantagens oferecidas pelo Brasil aos investidores são o mercado interno pujante e o pioneirismo tecnológico, presente em centros de pesquisa inovadores, como o da Votorantin em Campinas, no interior de São Paulo. Outra empresa pioneira no setor é a Dedini, fabricante paulista de equipamentos para usinas de álcool. Diante das crescentes encomendas, ela está ampliando seu parque para produzir 33 usinas por ano até 2010, em vez das 24 produzidas atualmente. Com isso, o quadro de funcionários deverá aumentar 15%, de 4.800 para 5.500, em 2007. O faturamento, por sua vez, deverá passar de R$ 1,1 bilhão, em 2006, para R$ 1,8 bilhão, neste ano, um aumento de 60%. Com o crescente interesse mundial pelo álcool nacional,
A Dedini já exporta seus equipamentos para 25 países, entre eles Estados Unidos, México e Canadá. “O momento é tão bom que estamos negociando até com a Austrália e o Sudão, na África”, afirma Sérgio Leme, vice-presidente da empresa.
Murilo Ramos
COMÉRCIO ELETRÔNICO
Tudo sem sair de casa
Os antigos manuais de marketing rezavam que, para vender, era preciso atrair o consumidor para a loja. Hoje, uma saída mais eficiente é levar a loja até a casa do comprador mais especificamente ao computador dele. O comércio eletrônico disparou no Brasil. No ano passado, cresceu 70% em relação a 2005, de acordo com a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. O volume total de vendas on-line, que era de R$ 2,5 bilhões em 2005, atingiu R$ 4,4 bilhões em 2006. Neste ano, se as previsões se confirmarem, deverá dar um novo salto, de 52%, para R$ 6,7 bilhões. O ritmo de alta será um pouco menor que em 2006, mas, ainda assim, será quase 12 vezes o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em 4,2%. As causas são o
aumento no número de internautas e a entrada já anunciada de poderosos varejistas, como a rede Wal-Mart, no comércio eletrônico.
No total, segundo a entidade, há 6,5 milhões de pessoas comprando por meio da internet cerca de 200 mil produtos de 20 categorias. Uma das áreas que se reinventaram com o comércio eletrônico foi o comércio de livros. A Livraria Cultura, uma das líderes de mercado, informa que registra um aumento anual de cerca de 50% nas vendas pela web. Hoje, segundo a empresa, 18% do faturamento vem de vendas de livros pela rede. “Até a chegada da internet, era difícil o acesso a livros em muitas partes do país”, diz Pedro Herz, presidente da Cultura. “Num país onde não há bibliotecas suficientes, a expansão da internet facilita o acesso dos leitores aos livros”.
O avanço das vendas on-line também é fruto do aumento da confiança dos brasileiros nas transações pela internet, proporcionado por sistemas mais eficazes contra fraudes. Até o governo está estimulando o envio de dados sigilosos pela web, como a declaração de Imposto de Renda. “Todo mundo investiu em segurança”, diz Herz. “Hoje, é mais arriscado você pagar uma conta de restaurante, em que o garçom some de sua vista com seu cartão de crédito, que comprar pela internet.” A eficiência dos Correios também colabora para o resultado positivo. “Os Correios deixaram de ser uma empresa que só entrega correspondências para virar uma das mais importantes empresas de logística do mundo”, afirma Manuel Mattos, presidente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico.
Walter Nunes
CONSTRUÇÃO CIVIL
Quem quer dinheiro
No início de fevereiro, a Técnica, de São Paulo, uma das construtoras mais dinâmicas do país, lançou ações nas bolsas de valores para reforçar o capital e financiar sua expansão. Captou ao todos R$ 791,3. Com o dinheiro, pretende lançar novos empreendimentos imobiliários no Estado de São Paulo e começar a expansão em outras regiões do país. Já possui projetos em Curitiba e Fortaleza. No ano passado, a empresa faturou R$ 717 milhões, 42% a mais que em 2005. Neste ano, pretende chegar a R$ 1 bilhão em vendas, repetindo o crescimento de 2006. “Queremos diversificar nossa atuação geográfica”, diz Andréa Ruschmann, diretora-financeira da Técnica.
O caso da Técnica é um exemplo da explosão de negócios na área da construção civil. Muitas outras empresas tradicionais do setor decidiram vender ações na bolsa para reforçar o caixa, como Camargo Corrêa, JHSF e Even. Segundo estimativas de executivos do mercado financeiro, as companhias do setor captaram cerca de R$ 10 bilhões nas bolsas desde o ano passado. “O setor está capitalizado”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), João Cláudio Robusti. Com medidas de redução de impostos, o crédito imobiliário, restrito até há pouco tempo, ressurgiu de forma generosa. O volume total de financiamentos chegou a R$ 9,4 bilhões, o triplo do valor de 2005. Os juros, entre 12% e 13% ao ano, tornaram-se mais amigáveis e os prazos de financiamento mais longos, de até 30 anos.
As indústrias de materiais de construção registraram um crescimento de 6,35%, em média, no faturamento líquido em 2006, segundo uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Para 2007, as previsões de crescimento são ainda mais otimistas. Se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) sair do papel no segundo semestre, o setor deverá crescer no mínimo 8%.
Maria Laura Neves
HIGIENE E BELEZA
Vaidade para todos
A indústria da beleza faturou no total R$ 17,3 bilhões no ano passado, com um crescimento de 12,3% em relação a 2005, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), que reúne os fabricantes do setor. Em 2007, de acordo com dados da entidade, o desempenho deverá ser ainda melhor, em torno de 15%. Tudo por conta, principalmente, do aumento do consumo nas classes C, D e. Segundo uma pesquisa da Latin Panel, os produtos para enxaguar a boca estão entre os mais desejados pelas classes D e. “O crescimento da renda nas faixas mais baixas multiplicou o número de consumidores”, diz João Carlos Basílio da Silva, presidente da Abihpec. “É um pequeno luxo a que um número cada vez maior de brasileiros pode se dar.”
As exportações de cosméticos brasileiros também cresceram no ano passado, mesmo com o dólar desfavorável. Os números da Abihpec mostram que o país exportou US$ 500 milhões em produtos de beleza em 2006, 20% a mais que em 2005. “Como o mercado brasileiro é um dos maiores e mais dinâmicos do mundo, funciona como um laboratório de testes de produtos globais”, diz Silva. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior mercado de cosméticos do mundo.
Grandes marcas mundiais estão instalando no Brasil seus departamentos de pesquisa de mercado na América Latina. A francesa LOréal é uma delas. A empresa não comenta o assunto, mas já estuda a localização do novo centro. A alemã BD F Nívea realiza há alguns anos os testes com consumidores brasileiros. “O Brasil é um mercado prioritário”, afirma Nicolas Fischer, presidente da BDF no país. Ele diz que alguns produtos desenvolvidos aqui deverão ser incorporados ao portfolio global da empresa. Um deles é um sabonete em barra brasileiro, chamado Flow Pack, que agora deverá ser fabricado na Rússia. “Como o mercado brasileiro é muito desenvolvido e muito competitivo, temos de lançar novos produtos constantemente”, diz Fischer. “A consumidora brasileira entende muito de cosméticos.” Em 2005, a empresa inaugurou uma fábrica em Itatiba, interior de São Paulo. É a indústria mais moderna da BDF no mundo. No fim do ano passado, a empresa anunciou um investimento de R$ 10 milhões para ampliar sua capacidade de produção. Segundo Pischer, 25% da produção da BDF no Brasil é exportada. “Nosso lema é inovar, inovar e inovar”, diz ele.
Maria Laura Neves
INFORMÁTICA
O micro ficou barato
Com a popularização da internet e a globalização das informações, as vendas de computadores no país explodiram. Só no ano passado, foram vendidos 8,3 milhões de micros – entre eles, 7,6 milhões de computadores de mesa, segundo dados da Abinee, a entidade que reúne as empresas do setor eletroeletrônico. O resultado foi 47% superior ao de 2005. A vedete do momento são os notebooks. As vendas em 2006 apresentaram expansão de 113%. Neste ano, a previsão é que elas tripliquem, para 1,5 milhões de notebooks.
Nos últimos dois anos, os preços de computadores caíram em média 20%. O governo deu sua contribuição: reduziram os tributos, como o PIS e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), para computadores de até R$ 2.500. Hoje, é possível comprar um bom modelo por pouco mais de R$ 1.000, valor impensável até pouco tempo atrás. Os preços dos notebooks também caíram. Na internet, há fabricantes e lojas oferecendo máquinas de desempenho razoável por menos de R$ 2 mil. A queda do dólar ajudou a baratear ainda mais os micros, pois boa parte dos componentes usados na produção é importada. Outro fator essencial: o aumento na escala. Quanto mais máquinas são produzidas e vendidas , mais barata tende a ficar cada uma. A tecnologia também tende a baratear com o tempo. Por fim, a exemplo do que acontece em outros setores, há o crédito. O consumidor dispõe de planos vantajosos para pagar o equipamento em prestações.
Uma das empresas que mais se beneficiaram com o novo cenário foi a Positiva Informática, do Paraná, líder do mercado no país. O faturamento, segundo a empresa, aumentou de R$ 614 milhões, em 2005, para R$ 1,1 bilhão no ano passado, o
Equivalente a 79%. Além de à redução dos preços, o sucesso da empresa se deve, em boa medida, às parcerias com grandes empresas do varejo. No fim do ano passado, o Positivo lançou ações na bolsa e captou R$ 600 milhões para investir na produção. Com o aumento do limite de isenção de tributos para computadores de até R$ 4 mil, em vigor desde janeiro, a Abinee estima que cerca de 10 milhões de máquinas serão vendidas em 2007 – entre computadores de mesa e notebooks. Se confirmado, o resultado será 20% superior ao alcançado em 2006.
Murilo Ramos
MÓVEIS
Precisava ajudar
Apesar de ter sido contemplada pelo pacote editado pelo governo para compensar os setores supostamente prejudicados pela queda do dólar, a indústria de móveis tem registrado um desempenho invejável, puxado pelo aumento das vendas de casas e apartamentos. No ano passado, mesmo com uma pequena queda nas exportações, a indústria de móveis somou um faturamento de R$ 14,1 bilhões, um crescimento de 17,3% em relação a 2005, segundo dados da Abimóvel, entidade que reúne os fabricantes do ramo. Outro fator que impulsionou as vendas de móveis no país foi a redução dos juros dos financiamentos oferecidos por lojas e magazines.
A Única, holding de Bento Gonçalves, no interior do Rio Grande do Sul, reúne as fábricas das marcas DeU Anno e Favorita. Seu faturamento alcançou R$ 165 milhões no ano passado, um crescimento 60% acima do PIB. Ela e seus produtos para 20 países e está ampliando seus investimentos para tentar aproveitar o bom momento do mercado. A empresa informa que, em 2006, abriu 200 novas lojas em todo o país, somando um total de 550. “O mercado interno tem capacidade de absorver os produtos que seriam vendidos no exterior”, diz Frank Zietolie, presidente da empresa. Para alavancar o crescimento, a Única investiu R$ 7,8 milhões em novas máquinas e pretende ampliar em 20% seu parque fabril, de acordo com Zietolie, as fábricas estão operando em dois turnos para atender à demanda. A idéia é passar a produzir 1.250 cozinhas por dia no fim de 2007, em vez das 750 unidades atuais. “Estamos muito otimistas”, afirma.
TURISMO
O dólar jogou a favor
Desde que o preço do dólar começou a cair, depois das eleições presidenciais de 2002, muitos empresários passaram a reclamar do câmbio desfavorável à exportação. Quem não reclama são os empresários do setor de turismo. O real valorizado barateia as viagens ao exterior e Brasil. “Os hotéis brasileiros abaixaram os preços das diárias para não perder os turistas, que, com o dólar baixo, podem viajar para fora”, diz Valter Patriani, presidente da CVC, a maior empresa de pacotes turísticos do país.
Segundo uma pesquisa feita pelo Ministério do Turismo, em parceria com a Embratur e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), as 80 maiores empresas do setor faturaram R$ 29,6 bilhões no ano passado, 29,3% a mais que em 2005. Em 2007, elas deverão faturar cerca de R$ 40 bilhões. “Quando as grandes empresas de turismo crescem, puxam o crescimento das pequenas e médias que dependem delas: diz José Francisco Lopes, diretor do Departamento de Estudos e Pesquisas da Embratur. A indústria do turismo vive um ciclo de crescimento há cinco anos.”
Além do dólar, as empresas aéreas reduziram o preço das passagens, pressionadas pelo modelo de operações de baixo custo adotado pioneiramente pelo Gol. Em 2006, a redução foi de cerca de 4%, segundo a TAM. “Milhares de brasileiros fizeram sua primeira viagem de avião nos últimos dois ou três anos”, diz Patriani, da CVC. A empresa informa que cresceu 18% no ano passado e, neste ano, espera crescer 15%, transportando 1,5 milhões de passageiros, 200 mil a mais que em 2005.
VEÍCULOS
Movido
a crédito
Nunca se vendeu tanto carro no Brasil quanto agora. No ano passado, foi 1,9 milhões de unidades, 12,4% a mais que em 2005, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea). Neste ano, o ritmo está ainda mais frenético. Nos cincos primeiros meses de 2007, foram vendidos 885 mil veículos, número 24% acima do registrado no mesmo período de 2006. Se o atual desempenho se mantiver nos próximos meses, será um ano único para a indústria automobilística brasileira.
O fator fundamental para o crescimento foi a oferta de crédito a juros baixos e o alongamento dos prazos de financiamento. Os juros praticados no setor, na faixa de 20% ao ano, são menores que a média de mercado, pois os próprios carros servem como garantia em caso de inadimplência. Os prazos, que chegaram a ser de seis meses na época da hiperinflação, hoje são de até 72. Se os consumidores estiverem certos da manutenção de seus empregos, eles compram mesmo diz Luiz Montenegro, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef).
A fábrica da Fiat em Betim, Minas Gerais, que produz 2.500 carros por dia, trabalha em três turnos para dar conta da demanda. De cada quatro veículos fabricados no mundo pela empresa italiana, um sai do Brasil. Apesar de a tributação. Chegar a quase 40% do preço final no país, um número crescente de compradores tem procurado modelos mais caros, vendidos à prestação. Hoje, 55% dos carros da montadora têm motor 1.0. No fim dos anos 90, esse índice chegava a 70%.
Cresceu também a venda de acessórios como ar-condicionado, direção hidráulica.
E tocadores de CD.
VIAGENS AÉREAS.
Crise
. Que crise
Num período em que as empresas de aviação passam pela mais grave crise de sua história, o setor registra números exuberantes. No ano passado, o faturamento cresceu 42,4%, segundo uma pesquisa feita pelo Ministério do Turismo, em parceria com a Embratur e a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 2007, o bom desempenho deverá se repetir, com crescimento em torno de 45%.
De acordo com o coordenador da pesquisa, José Francisco Lopes, o desempenho só não foi melhor por causa dos problemas financeiros da Varig, que levaram a uma redução na oferta de assentos aos passageiros. Mesmo assim, em 2006, quase 50 milhões de passagens aéreas foram vendidos no Brasil, onde apenas 10% da população voam de avião. “A demanda por viagens aéreas é bem maior que a oferta”, diz Lopes. “Há muito espaço para crescer”.
Há cerca de cinco anos, o setor aéreo vem apresentando taxas de crescimento acima dos 10%. Desde que a Gol entrou no mercado nacional com seu modelo de baixo custo, em 2001, as demais empresas tiveram de reduzir as tarifas para se manter no mercado. As promoções agressivas, como vôos domésticos a R$ 1, também fortaleceram o crescimento. Com o aumento dos prazos do crédito, a redução dos juros e a queda do dólar, ficaram mais fácil viajar de avião.
O desempenho da TAM, que está lutando contra a Gol para se manter na liderança do mercado, reflete o bom momento do mercado. Em 2006, o lucro da empresa cresceu quase 200% em relação ao ano anterior. “Estamos investindo no crescimento”, diz Paulo Cezar Castello Branco, vice-presidente de planejamento e alianças da TAM. Nos
últimos anos, o caixa foi reforçado com R$ 3 bilhões, por meio de captação em bolsa e empréstimos para financiar a expansão