O Brasil é um país intrigante. Ao mesmo tempo que o desemprego atinge 10% dos brasileiros, setores específicos se ressentem da falta de profissionais. Os casos mais eloqüentes são os dos setores petroquímico, sucroalcooleiro e de construção civil. O presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, teme que a falta de profissionais qualificados impeça a implantação dos projetos da empresa. Os produtores de cana-de-açúcar e etanol dizem que apenas um terço dos trabalhadores disponíveis tem condições de operar e fazer pequenos ajustes nas modernas máquinas que estão entrando no setor. Os empresários da construção civil revelam escassez de mão-de-obra qualificada e até mesmo não qualificada. Esse filme já passou em outros períodos em que a economia brasileira deslanchou. Se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de fato implementar os investimentos previstos – cerca de R$ 500 bilhões -, a falta de mão-de-obra será brutal. Ao fenômeno da falta de mão-de-obra se associa o fato de que muitas pessoas que recebem benefícios dos programas assistenciais (Bolsa-Família e outros) não querem trabalhar. Isso acontece até mesmo entre os não-qualificados. Por que um trabalhador vai sair do Nordeste, deixando sua família para trás, para ganhar R$ 500 como servente de pedreiro na construção civil de São Paulo, se lá – juntando os recursos do Bolsa-Família e de uma ou duas aposentadorias (que tiveram um grande aumento nos últimos anos) – a renda familiar é superior aos R$ 500? O mesmo acontece na agricultura. Por que um trabalhador vai entregar sua carteira de trabalho a um empregador que lhe paga R$ 380 no período de safra, que dura de três a quatro meses, se para tanto ele tem de desistir do benefício do Bolsa-Família, que dura 12 meses? Os que estão próximos de se aposentar também são arredios ao registro em carteira de trabalho. Se isso é feito, eles têm de contribuir mais tempo para a Previdência Social ou se aposentar por idade (65 anos), como pessoa carente. Preferem esperar sem trabalhar e viver dos benefícios do Bolsa-Família e de outros programas assistenciais. A falta de mão-de-obra freia a própria modernização. Cerca de 40% das empresas não compram mais tecnologia por causa da inexistência de pessoal qualificado para operar e manter as máquinas. Na Índia esse porcentual é de apenas 20% (Apagão de mão-de-obra freia avanço do Brasil, jornal O Globo, 15/5). Há alguns anos, perguntei a um ministro hindu sobre as determinantes da disparada do crescimento de seu país, ao que ele me respondeu: São três es: education, engineering and english. No setor de serviços, a escassez de mão-de-obra qualificada é crônica. Milhares de vagas permanecem em aberto por falta de pessoal adequado. Nesse campo, o inglês costuma ser um entrave sério. Num país em que 60% dos brasileiros são analfabetos funcionais em português, seria demais querer que eles soubessem inglês… Pode ser demais, mas é isso que decide o futuro dos jovens e do próprio País. Na China, cerca de 300 milhões de trabalhadores falam ou estudam inglês. Na Índia, nem se fala, pois o país teve colonização britânica. Nos países do Leste Europeu, o estudo do inglês é acelerado e generalizado entre os jovens. No Brasil, as poucas empresas de call center que trabalham para o exterior encontram enorme dificuldade para preencher 100 ou 150 vagas com quem tem fluência em inglês. Por isso não podem crescer o quanto o mercado permite. O entrave ao crescimento é o preço que o Brasil está pagando por ter dado tão pouca atenção à educação de boa qualidade e à formação profissional. Ao longo do tempo, os recursos para as entidades do Sistema S (Senai, Senac, Senat e outros) diminuíram, em lugar de aumentar. Outras escolas profissionalizantes passaram pelo mesmo problema. O Ministério da Educação informa que 747 mil alunos estão matriculados em escolas técnicas de longa duração. Isso não é nada para uma força de trabalho de 90 milhões de pessoas e para um país que precisa crescer na base de 5%, 6% ao ano. Os estragos da negligência passada estão mostrando a cara. As empresas que se preparem: a pressão por aumento de salários crescerá muito. Felizes serão as que encontrarem os profissionais de que precisam.
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